Eleições 2020: urna eletrônica é alvo preferencial da desinformação nas redes

Postagens dão gás a boatos e infundadas denúncias de fraudes em pleitos anteriores

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Por Pedro Prata
Atualização:

As peças de desinformação que circulam nas redes sociais sobre as eleições 2020 têm como alvo principal a confiabilidade das urnas eletrônicas. As postagens virais desmentidas pelo Estadão Verifica dão gás a boatos e denúncias infundadas de fraudes em pleitos anteriores. Algumas das publicações verificadas pela equipe de fact-checking do Estadão também tiram de contexto decisões de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Uma tática observada nas redes sociais é o resgate de boatos que já haviam viralizado durante a campanha de 2018. Um exemplo é de postagens no Facebook que divulgavam uma ação protocolada por um engenheiro e um advogado junto ao TSE sobre uma suposta "fraude" nas últimas eleições. Na verdade, a denúncia se baseava em imagens de televisão com a contagem em tempo real dos votos para presidente. A equipe técnica do Tribunal arquivou o processo por ele ter sido "construída sobre fatos que não possuem base sólida, sobre confusões ou sobre inverdades".

Processos de auditoria podem ser feitos antes, durante e depois do pleito. Foto: TSE/Reprodução

Outra peça de desinformação recuperada nas redes sociais tira de contexto uma notícia de 2013 sobre a aposentadoria de urnas brasileiras utilizadas pelo Paraguai. Postagens no Facebook não deixaram claro que o equipamento emprestado pelo governo brasileiro ao país vizinho já estava defasado tecnologicamente, e não voltou a ser utilizado em votações no Brasil.

As urnas eletrônicas também foram atacadas em peças de desinformação que tentaram ligar o equipamento de votação a países de pouca tradição democrática. Um boato desmentido pelo Estadão Verifica dizia que apenas Brasil, Venezuela e Cuba adotam o voto eletrônico. A informação é falsa: outros 13 países, além de Brasil e Venezuela, utilizam urnas eletrônicas.

Outra informação falsa que circulou nas redes sociais este ano é que a empresa chinesa Lenovo teria comprado a fabricante brasileira de computadores Positivo Tecnologia. Isto nunca aconteceu. A peça de desinformação circulou depois que a Positivo ganhou licitação para fornecer urnas eletrônicas para as eleições de 2022.

Judiciário também foi alvo de desinformação

O Judiciário também foi alvo de boatos sobre as eleições. É o caso de uma postagem que viralizou no Facebook dizendo que o TSE havia liberado as candidaturas de políticos com a ficha suja. Na realidade, o que o Tribunal decidiu foi que, com o adiamento da data da votação, candidatos enquadrados na Lei da Ficha Limpa há oito anos poderiam concorrer.

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Outra decisão judicial, desta vez do STF, também entrou na mira das campanhas de desinformação. Um tuíte alegava que o Supremo considerou ilegal o voto impresso, tirando de contexto um julgamento sobre a reforma eleitoral de 2015. Na ocasião, os ministros decidiram ser inconstitucional a impressão de um comprovante do voto logo após o registro do eleitor -- não o voto em si.

Outras tendências da boataria sobre eleições

Observadores internacionais veem uma tendência de monetização de vídeos no YouTube que espalham informações falsas ou sem embasamento sobre o processo eleitoral. A diretora associada da International Fact-Checking Network (IFCN), Cristina Tardáguila, explica que alguns usuários vendem produtos em seus canais e para ganhar tração, publicam vídeos que se aproveitam da polarização para atrair cliques. "O dono da conta ganha audiência e também monetiza seus vídeos. O ataque às instituições virou um negócio no YouTube."

Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, coalizão de 36 veículos e iniciativas de comunicação que checam peças de desinformação nas redes sociais, da qual o Estadão Verifica faz parte, notou que o volume de desinformação compartilhada pelo WhatsApp diminuiu, se comparado com 2018. Lüdtke indicou que agora há uma tendência do surgimento de sites que utilizam a narrativa noticiosa para espalhar conteúdo enviesado e desinformação.

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