Caro leitor:
um mês e meio após assumir o governo, o presidente Jair Bolsonaro vive dias de campanha eleitoral. Tenta resolver uma disputa interna em seu campo político, uma briga com ampla troca de fogo amigo e que não observa nenhuma regra, como você pode ouvir aqui. E não são quaisquer apoiadores a se enfrentar. De um lado, está Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL durante a marcha vitoriosa ao Planalto, com toques de assessor e estrategista, agora ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Lembre aqui como ele chegou ao entorno do atual presidente.
Do outro, forma o filho Zero Dois. Carlos Bolsonaro, o Carluxo, comandou com garra as redes sociais do então presidenciável, e é chamado pelo próprio pai de "pit bull". Os oponentes são guerreiros bolsonaristas, desde a época dos índices modestos das pesquisas. Agora, guerreiam entre si. O momento é ruim, porque governo se prepara para enfrentar uma batalha decisiva, a da reforma da Previdência.
Quem quiser conhecer as origens do confronto tem de voltar à gênese da candidatura Bolsonaro. Até 2017, o hoje presidente era basicamente apoiado pela família e por ativistas nas redes sociais, coordenados por Carluxo. Apresentava-se como uma direita sem vergonha de seu caricato direitismo e era visto como uma espécie de nanicão, sem chance de se eleger.
Bebianno furou o bloqueio em torno do então deputado conhecido por ser politicamente incorreto e deu alguma ordem ao amadorismo que marcava a campanha. Assim, cresceu ao lado do chefe, protagonizando as primeiras disputas, ainda ralas, com Carlos. Na transição, a ferida se aprofundou. O auge das cotoveladas ocorreu quando o filho Zero Dois foi “lançado” por Bebianno como possível secretário de Comunicação - que Carluxo interpretou como manobra para queimar o seu nome. Furioso, Carlos deixou a transição, mas continuou na guerra por espaço no governo.
O confronto recrudesceu nos últimos dias, com o noticiário em torno de transferência, pelo PSL, de dinheiro do Fundo Partidário para candidatas-laranja em Pernambuco. As acusações envolveram Bebianno como presidente do partido durante a campanha, embora não haja, até agora, provas contra o auxiliar do presidente. Agravaram-se com a revelação de que uma gráfica pertencente a um filiado ao partido recebera R$ 1,2 milhão da legenda, sob ordens do então presidente do PSL-PE, Luciano Bivar, veja aqui. E contaminaram o governo depois que Carluxo, via Twitter, desmentiu afirmações de Bebianno, de que tinha conversado com o presidente sobre o problema.
A crise semeou a incerteza no campo governista. Principalmente pela força que Carluxo, mais uma vez, demonstra na gestão Bolsonaro. Lá, não tem posto formal - é vereador no Rio de Janeiro, bem longe, fisicamente, do poder em Brasília. No partido, já dividido por disputas, parlamentares demonstraram preocupação com a crise e seus desdobramentos. Uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a deputada estadual Janaína Paschoal, de São Paulo, disse que Bebianno não pode ser considerado automaticamente culpado e pediu investigação.
A deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP) acusou Carlos Bolsonaro de querer gerar uma crise no governo. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, prometeu que os repasses aos candidatos do PSL serão investigados. Já militares do governo começaram a se movimentar, para conter os danos.
O próprio presidente, porém, deixa dúvidas em relação ao real poder do Segundo Filho, que tem até um emissário com livre trânsito no Palácio do Planalto - seu primo Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, conforme noticiou o Estado. Bolsonaro pai não só não desmentiu o Zero Dois, como compartilhou a publicação explosiva do vereador contra o secretário-geral da Presidência.
Também avisou em entrevista que Bebianno teria de “voltar às suas origens” caso as denúncias o atingissem. Deixou, assim, a impressão de que Carluxo poderia estar agindo com sua autorização, para “fritar” o ministro da Secretaria-Geral. Como o fritado avisou que não sairia do cargo, o chiado na frigideira promete se prolongar.
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