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Com seu ‘armai-vos uns aos outros’ e apoio a Olavo, Bolsonaro reafirma capitão da eleição de 2018

Presidente agrada a seus seguidores mais radicais com decreto que libera porte de armas e alinhamento com ideólogo da Virgínia, que, segundo disse a militares que ele atacou, não pretende enquadrar

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Por Wilson Tosta
Atualização:

Caro leitor,

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O capitão voltou. Em meio ao incessante tiroteio verbal entre olavetes e militares, ao fracasso da economia e ao bate-cabeça da sua base parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro fez pelo menos dois movimentos de reafirmação da sua persona política vitoriosa na disputa pela Presidência em 2018. Um foi a edição do decreto que, na prática - e em hipotético desafio à lei - revogou o Estatuto do Desarmamento. Outro foi o cristalino sinal - um conjunto de gestos - de Bolsonaro avisando que, na disputa entre Olavo de Carvalho e os militares, o presidente  fica com o autoproclamado filósofo da Virgínia e o rebanho que o incensa nas redes sociais

Bolsonaro não pode ser acusado de estelionato eleitoral. Com seus últimos atos, confirmou muito do que prometeu. Mais de um ano atrás, em Curitiba, por exemplo, defendeu, com espantosa transparência, as armas como “garantia da liberdade”. Deixou claro que queria liberar o armamento no Brasil. Falava sério. Em um País de saúde e educação precárias, estradas em ruínas e imensa desigualdade social, transformou a liberdade de andar armado em prioridade de campanha e de governo. Foi como se dissesse aos brasileiros: ‘Armai-vos uns aos outros, e seus problemas desaparecerão’.

O presidente Jair Bolsonaro assina decreto que flexibiliza porte de armas Foto: Dida Sampaio/Estadão

O mercado reagiu. A Taurus, fabricante nacional de armas, experimentou dias de sonho em suas cotações na Bolsa, enquanto Bolsonaro, em busca de votos, defendia o “Trezoitão para Todos” e crescia nas pesquisas. O hoje presidente se inspirava em debate que envolve o Congresso e a sociedade e causou controvérsia mesmo entre aliados do presidente, como mostrou a  Coluna do Estadão. O filhão Eduardo, escrivão da Polícia Federal e deputado, postou-se ao lado do pai na defesa da democratização dos instrumentos de morte.

No poder, Bolsonaro, o Velho, de início, apenas facilitou a posse de armamento, já na segunda semana no cargo. O texto, porém, decepcionou os bolsonaristas mais radicais. O liberou-geral  do recente decreto da posse fez vibrar os seguidores mais apaixonados do capitão. E ainda criou um suculento mercado potencial de quase 20 milhões de brasileiros que poderiam andar armados, cobiçado por empresas estrangeiras. Em linha com essa cobiça, o decreto que praticamente mandou para o lixo o Estatuto do Desarmamento editado no primeiro governo Lula veio amplo. Liberou a importação de armas, como destacou o BR-18 e muições. O mercado brasileiro acusou o golpe: diante da possível concorrência, as ações da nacional Taurus caíram.

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A controvérsia das armas vem em boa hora para o governo. Com ela, Bolsonaro tem chance de reagrupar o núcleo mais radical de seus seguidores - uma ação  necessária no momento em que enfrenta críticas pelo corte de verbas no ensino federal- e mudar de assunto. Foi, nesse caso, uma escalada. Primeiro, os alvos eram os cursos de Humanas. Depois, três universidades acusadas de balbúrdia, como mostrou Renata Agostini. Finalmente, foi anunciado um bloqueio de 30% para todas as universidades e institutos federais, o que já mobiliza a oposição.

O arrocho atingiu até a educação básica. Estudantes protestaram contra a presença de Bolsonaro no Rio no dia seguinte, para celebrar os 130 anos do Colégio Militar. O ato teve apoio até de uma ex-aluna do CM, como mostra esse vídeo. Nada como assunto novo em uma hora dessas.

O outro movimento de Bolsonaro aconteceu na repercussão da continuação da polêmica do ideólogo Olavo de Carvalho com os militares. A sucessão de ataques do autoproclamado filósofo ao secretário de Governo, general Santos Cruz, em uma controvérsia de possíveis raízes econômicas gerou desagravo de governadores. Também houve reações do ex-comandante do Exército, general Villas Bôas, em manifestações internas, em nota nas redes sociais chamando Olavo de “Trotsky de direita”, e em entrevista ao Estadão. Nela, disse que o ideólogo presta desserviço ao Brasil. A reação repulsiva de Olavo, lembrando a condição física do general, que enfrenta grave doença degenerativa, gerou reações de solidariedade de parlamentares e até do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Mas Bolsonaro, que já tinha condecorado Olavo após o início da polêmica, diante dos novos ataques, indicou, em almoço com os chefes militares, que não pediria que o ideólogo baixasse o tom. Mostrou seu lado na briga.

O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

A semana se encerrou com uma aparente vitória de Olavo e seus seguidores, expressa no anúncio do vice-presidente, general Hamilton Mourão, outro alvo dos olavistas, de que o  confronto agora é “pagina virada”. Bolsonaro está mais próximo de sua base tradicional, feliz com a liberação das armas e os militares, pelo menos momentaneamente, quietos na polêmica com o olavismo e com outra preocupação: um bloqueio de 44% em seus recursos. Na pátria armada, Brasil, o capitão parece ter enquadrado os generais.

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