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Centrão promete não 'atrapalhar' brigas no governo, aplaudidas por deputados do bloco informal, como Paulinho da Força, que em 1º de Maio disse que o plano é desidratar a reforma da Previdência pela não reeleição de Bolsonaro
01 de maio de 2019 | 15h01
Caro Leitor,
Ninguém se entende no Palácio do Planalto sobre a comunicação do governo. Mas, entre uma e outra cotovelada, um auxiliar aconselhou Jair Bolsonaro a ser “mais Bolsonaro” e menos zero um, dois ou três, expressões usadas por ele para se referir aos filhos. A ideia é que o presidente não fique mais refém dos rebentos, nem do núcleo militar e muito menos do escritor Olavo de Carvalho, seu guru ideológico.
A portas fechadas, Bolsonaro se queixou, recentemente, até mesmo de militares que o acompanham no governo. Os resmungos ultrapassam a fronteira do gabinete do vice, general Hamilton Mourão, alvo preferencial da ofensiva do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). As críticas do “zero dois” são endossadas por Bolsonaro, como você pode ler aqui.
Na prática, têm sobrado alfinetadas para muitos amigos da ala fardada, mas nunca para o general do Exército Fernando Azevedo e Silva, titular da Defesa, com quem Bolsonaro se reuniu neste Dia do Trabalho, ao lado de outros ministros e comandantes das Forças Armadas, para tratar da crise na Venezuela.
Nos últimos dias, Bolsonaro ficou aborrecido, por exemplo, com o general Santos Cruz, que comanda a Secretaria de Governo e não está se entendendo com o novo chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Fábio Wajngarten. As divergências não são poucas, como mostram esta reportagem e também esta outra.
O núcleo militar quer proteger Bolsonaro e construir uma espécie de cordão de isolamento, no terceiro andar do Planalto, para evitar que ele escorregue em novas cascas de banana. Não sem motivo: tropeços em palavras podem sempre causar mais impacto sobre a política e a economia.
Os olavistas e os filhos, por sua vez, acham que o presidente, no palanque virtual, não precisa de porta-voz ou de intermediários, muito menos da imprensa, para transmitir sua mensagem à população. E o novo chefe da Secom, sob fogo cruzado dos dois grupos, quer que Bolsonaro seja “gente como a gente”, mais espontâneo e contador de “causos”, sem seguir nenhuma cartilha de comportamento.
“Querem me afastar dos meus filhos, mas isso nunca vai acontecer”, avisou o presidente, em conversa com políticos durante um voo de Brasília ao Rio, no último dia 11.
No diagnóstico da Secom, Bolsonaro perdeu popularidade justamente por ter ficado enclausurado, só expondo suas ideias pelo Twitter e afins. Não é à toa que, agora, ele tem dado “escapadas” para, em seguida, posar para selfies com apoiadores. O novo estilo foi exibido no feriado prolongado de Páscoa, quando o presidente dirigiu uma moto por meia hora, no Guarujá, com um colete à prova de balas. No domingo passado, 28, ele também apareceu de surpresa na casa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), o “zero um”, que comemorava aniversário. “Será que estou no prédio certo? Parece que tem um filho meu que mora aqui, se não me engano”, brincou.
A tentativa de ser mais simpático, no entanto, ainda não resultou na formação de uma base aliada no Congresso. “Para defender o governo eu preciso de um canhão, mas consigo no máximo um estilingue”, disse ao Estado o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), irritado com o que classifica como “falta de articulação política” do Planalto. "Eu nunca recebi orientação do Executivo", resumiu o senador.
A reforma da Previdência continua sendo a prioridade do governo Bolsonaro nesta temporada, mas surge agora outra preocupação no horizonte em um céu que, diga-se de passagem, não é de brigadeiro. Para aprovar a Medida Provisória que diminui o número de ministérios de 29 para 22, deputados e senadores querem esvaziar o poder do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e devolver o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para a equipe econômica.
Bolsonaro já havia concordado com a exigência, mas, diante da resistência de Moro, recuou. Relembre aqui.
O Coaf atua na prevenção e no combate à lavagem de dinheiro. Foi o colegiado que identificou movimentações bancárias atípicas nas contas de Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado estadual, e também de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, como revelou o Estado.
O Centrão, bloco que reúne cerca de 250 dos 513 deputados e dá as cartas na Câmara, já avisou que ou o Coaf sai da alçada do ex-juiz da Lava Jato ou a MP da reforma administrativa não passará. A medida provisória caduca em junho e, se Bolsonaro não conseguir apoio, o desenho da Esplanada ficará como era na gestão de Michel Temer.
Mesmo antes dessa definição, porém, o embate sobre os rumos da comunicação trouxe à tona as discussões sobre uma reforma ministerial, ainda que mais enxuta. Um dos modelos em estudo prevê que a Secom volte para o guarda-chuva da Secretaria-Geral ou fique diretamente ligada à Presidência. A Casa Civil também poderá sofrer ajustes.
“Vejo uma comunicação falha há meses da equipe do Presidente”, escreveu Carlos Bolsonaro no Twitter, na segunda-feira, 29. “Tenho literalmente me matado para tentar melhorar, mas, como muitos, sou apenas mais um e não pleiteio e nem quero máquina na mão. É notório que perdemos oportunidades ímpares de reagir e mostrar seu bom trabalho”, emendou ele.
Pouco tempo depois, o pastor Silas Malafaia postou mensagem apoiando o vereador nas redes sociais. “O filho do presidente Carlos Bolsonaro tem razão. Concordo em gênero, número e grau com o que ele diz. (...) Na minha humilde opinião, a Secom deveria ser subordinada diretamente ao presidente, sem nenhuma interferência do ministro”, observou Malafaia, em referência a Santos Cruz.
Autor de um pedido de impeachment contra Mourão, devidamente arquivado, o deputado Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), vice-líder do governo, foi na mesma toada e, nesta terça-feira, 30, atacou o chefe da Secretaria de Governo. “Enquanto Santos Cruz trava toda a publicidade do Governo Federal, em especial a campanha da Nova Previdência, somos nós deputados da base aliada que apanhamos sem dó da oposição (...)", afirmou Feliciano no Twitter.
A brigalhada é aplaudida por integrantes do Centrão, como o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva. “Já dizia um experiente político: ‘Se os seus adversários estão se matando, não atrapalhe.’”, provocou o deputado. Neste 1.º de Maio, Paulinho da Força admitiu até mesmo que o Centrão planeja desidratar a reforma da Previdência para não garantir a reeleição de Bolsonaro, em 2022.
Depois de tanto bate-cabeça, todos os ministros foram convocados a apresentar, neste mês, as metas de suas pastas para os 200 dias de governo. Resta saber quem sobreviverá às redes sociais até lá.
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