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Minas não foi único Estado a ter ocupação de UTIs de covid-19 abaixo de 50%; índice atual é de mais de 90%

Para defender atuação do governo Zema durante a pandemia, postagem no Facebook apresenta dados errados de ocupação hospitalar

Por Gabi Coelho
Atualização:

É falso que Minas Gerais seja o único Estado com ocupação abaixo de 50% de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) durante a pandemia do novo coronavírus. Uma postagem que viralizou no Facebook na segunda semana de março apresenta um mapa do Brasil com índices de disponibilidade hospitalar, no qual Minas parece ser o único local em situação estável. Na realidade, na data em que a postagem foi publicada, o Estado atingiu 83% de lotação nos leitos de UTI dedicados a pacientes de covid-19. Atualmente, essa porcentagem chega a 92%.

O mapa utilizado no post tem uma logomarca da CNN Brasil. O Estadão Verifica não conseguiu encontrar reportagem da emissora que indicasse que apenas Minas tinha taxa de ocupação de UTIs de covid-19 abaixo de 50%. Na última matéria publicada pelo canal sobre o assunto, em 22 de março, o Estado do Sudeste tinha índice de 88,9%.

 

De acordo com mapeamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a lotação nas UTIs de Minas Gerais ficou abaixo de 50% apenas entre outubro e novembro de 2020. No entanto, nesse período o Estado não era o único em situação de alerta baixo. O boletim divulgado em 17 de março mostra a evolução nas taxas de ocupação de UTIs no País; veja abaixo.

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O informe da Fiocruz mostra que atualmente 24 Estados e o Distrito Federal têm índices de ocupação de leitos de UTI acima de 80%. Desse total, 15 unidades da federação têm taxas superiores a 90%. As capitais também têm situação crítica: 25 das 27 têm índices acima de 80%; dessas cidades, 19 têm taxas superiores a 90%.

Na última quinta-feira, 18, Minas superou a marca de 1 milhão de pessoas infectadas pelo coronavírus. Março é o mês com o maior número de mortes por covid-19 no Estado: 3.558. Em fevereiro, foram 3.505 e, em janeiro, 3.158. Os dados foram divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) nesta terça-feira, 23. Ao todo, foram registradas 22.123 mortes e 1.040.198 casos.

Em decorrência do aumento de casos e mortes, o governador Romeu Zema (Novo) criou no dia 3 de março a "onda roxa", programa que prevê medidas mais restritivas para conter o avanço da contaminação pelo coronavírus. Entre elas estão: toque de recolher, funcionamento apenas de serviços essenciais, restrição de circulação de pessoas, implantação de barreiras sanitárias de vigilância e fechamento de bares e restaurantes. 

Na legenda da postagem com o mapa do Brasil, há perguntas sobre desvio de dinheiro público, aumento de leitos e tratamento precoce em Minas. Veja as informações apuradas pelo Estadão Verifica

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Zema desviou dinheiro público?

Não há informações que confirmem desvios de verba pública no governo Zema durante a pandemia. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, o total geral de recursos investidos no enfrentamento à pandemia de covid-19, até o momento, é de R$ 2,7 bilhões.  

Zema aumentou leitos no estado?

A Secretaria de Saúde afirma que, nos últimos 12 meses, Minas Gerais investiu em 10 mil novos leitos de enfermaria e 2 mil novos leitos de UTI.  Dados divulgados no Boletim Epidemiológico desta segunda-feira, 22, mostram que mesmo com o investimento, a taxa de ocupação dos leitos específicos para pacientes com covid-19 equivale a 92,92%. Há 2.482 pacientes com a doença internados em leitos de UTI no Estado. 

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Minas Gerais aderiu ao tratamento precoce?

Em transmissão ao vivo no Instagram da jornalista Leda Nagle, o governador Romeu Zema elogiou o tratamento precoce contra a covid-19.  Segundo ele, remédios como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina aceleraram a alta de pacientes, principalmente em 2020. Em nota, a Secretaria de Saúde defendeu que "cabe ao médico a autonomia para a prescrição medicamentosa, não sendo papel da SES interferir na relação médico-paciente". 

Diferentemente do que diz Zema, não há estudo científico que confirme que os remédios citados pelo governador sejam adequados para tratar a doença provocada pelo novo coronavírus. Veja algumas checagens publicadas pelo Estadão Verifica sobre o assunto: 

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  1. Não há tratamento prévio para covid-19, ao contrário do que sugere médica no Instagram
  2. É falso que associação de infectologistas tenha obrigado médicos a assinar documento com proibição a tratamento ineficaz contra covid-19
  3. 'Tratamento precoce' de covid-19 citado por enfermeiro em vídeo não tem respaldo científico
  4. Prefeito de cidade em MG faz conexão insustentável entre número de mortes de covid-19 e 'tratamento precoce'
  5. Médico recomenda 'tratamento precoce' sem eficácia comprovada contra covid-19 em vídeo viral

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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