Não há receitas caseiras que sejam comprovadamente eficazes contra a covid-19. Postagens nas redes sociais falam de "centenas de testemunhos de vítimas" da doença causada pelo novo coronavírus que "usaram chá de boldo ou chá com limão, jambu e alho e sobreviveram ao vírus". Estes são boatos comuns que já foram checados antes pelo Estadão Verifica, mas voltaram a viralizar. Só este mês, uma publicação com esta afirmação falsa já foi vista mais de 399 mil vezes.
A combinação de chá com limão, jambu e alho apareceu em vídeos no Facebook. O infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas, afirma que composições caseiras podem dar a falsa impressão de que as pessoas estão protegidas. Isso poderia levá-las a se exporem inadvertidamente.
Já o chá de folha de jambu também foi compartilhado como uma receita caseira, mas tampouco tem eficácia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avisa que remédios que aparecem nas redes sociais podem até oferecer conforto para pacientes com sintomas leves da doença, mas ainda não há cura para a doença.
O Ministério da Saúde possui uma página que contesta boatos nas redes sociais. A pasta alerta para a falsa premissa de medidas como fazer gargarejo com água morna ou tomar café. E alerta: "Muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas para o combate à covid-19, entretanto, até o momento, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus."
Além de receitas caseiras, também é comum a disseminação de dicas de remédios. No entanto, as publicações geralmente citam medicamentos sem comprovação científica ou que ainda passam por estudos clínicos de eficácia e segurança. Médicos lembram que é a automedicação sem acompanhamento de um especialista pode trazer riscos à saúde.
Receitas caseiras nas redes sociais
Um estudo das pesquisadoras Claudia Galhardi e Maria Cecília de Souza Minayo, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), analisou o conteúdo e o perfil dos boatos enviados ao aplicativo Eu fiscalizo, em que usuários podem denunciar conteúdos falsos. Métodos caseiros de prevenção ou de cura da covid-19 corresponderam a 85% das notícias falsas coletadas entre 17 de março e 10 de abril, primeiro momento da pandemia.
Notícias falsas colocam vidas em risco, contribuem para o descrédito de instituições de saúde pública e enfraquecem as medidas adotadas pelos governos no combate à doença, afirma Galhardi. "Precisamos redobrar a atenção ao receber informações nas redes sociais que não apresentem a fonte oficial e fazer uma leitura crítica antes de compartilhar qualquer conteúdo", alerta a pesquisadora.
O estudo também comparou as principais formas de disseminação de boatos. Cerca de 73,7% das mensagens falsas circularam pelo WhatsApp e 15,8% pelo Facebook.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.