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Delação de advogados colocou corretora da Caixa Seguradora na mira da PF por gestão fraudulenta e desvios de R$ 28 milhões

Operação Canal Seguro, 13ª fase da Descarte, fez buscas em endereços de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro e afastou dirigentes da Wiz Soluções, que detém exclusividade na venda de seguros anunciados pela empresa pública federal

Foto do author Rayssa Motta
Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Fausto Macedo
Por Rayssa Motta , Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

Atualizado às 17h30 de 29.11*

A Operação Canal Seguro, deflagrada nesta quinta-feira, 26, pela Polícia Federal em São Paulo, é mais uma que teve como ponto de partida informações prestadas pelos advogados Luiz Carlos da Fonseca Claro e Gabriel Silveira da Fonseca Claro, pai e filho, em delação premiada homologada pela Justiça.

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Nos depoimentos, eles revelaram aos investigadores como usaram o escritório de advocacia e outras empresas controladas pela família para servir a companhias interessadas em lavar dinheiro. Os relatos envolveram, por exemplo, o consórcio de limpeza urbana Soma na Operação Chorume, a Operadora e Agência de Viagens TUR na Operação Checkout, a empresa Cemig Geração e Transmissão na Operação 'E o Vento Levou', as empresas Allied, Qualicorp e Rimo Entertainment na Operação Triuno, a estatal de tecnologia Ceitec na Operação Silício e o banco BMG na Operação Macchiato. Todas são desdobramentos da Operação Descarte, deflagrada em março de 2018.

Trecho da Luiz Carlos da Fonseca Claro que envolveu a Wiz Soluções (Par Corretora). Foto: Reprodução

Nesta etapa, a Polícia Federal investiga a corretora Wiz Soluções, que detém exclusividade na venda de seguros anunciados pela Caixa Seguradora, cuja acionista minoritária é a Caixa Econômica Federal. Para o delegado Fabrício de Souza Costa, que coordena a investigação, há indícios dos crimes de gestão fraudulenta, desvio de valores de instituição financeira e lavagem de dinheiro.

Os investigadores apontam que, entre 2014 e 2016, os dirigentes da Wiz Soluções, Alexandre Siqueira Monteiro, Thierry Marc Claude Claudon e Camilo Godoy, teriam desviado valores que podem chegar a R$ 28,3 milhões através de pagamentos por serviços superfaturados ou que na verdade não foram prestados. Estão sob suspeita contratos firmados com os escritórios de advocacia Claro Advogados e Calazans Advogados, do também delator Flávio Calazans de Freitas, e com as empresas Marthi Serviços Especializados de Apoio Administrativo, AM Consultores e Habseg Administração e Corretagem de Seguros. Parte deles teria sido intermediada pelo empresário Milton Lyra, apontado como operador do MDB, e pelo advogado Daniel Peixoto. O valor pago seria devolvido em espécie.

Organograma elaborada pela Receita Federal resume esquema investigado na Operação Canal Seguro. Foto: Divulgação

"Verdadeira organização criminosa estabelecida para gestão fraudulenta, desvios de valores de Instituição Financeira e branqueamento de capitais", diz a representação assinada pelo procurador Vicente Solari de Moraes Rego Mandetta e enviada no início de outubro à Justiça para obter autorização ao cumprimento de 13 mandados de busca e apreensão na manhã de hoje, ao bloqueio de bens e valores dos investigados na ordem de R$ 27 milhões e ao afastamento dos diretores da Wiz.

Na última segunda-feira, 23, ao autorizar as medidas solicitadas pelo Ministério Público Federal em São Paulo, a juíza Michelle Camino Mickelberg, substituta na 2ª Vara Criminal Federal, considerou que os documentos obtidos pela Polícia Federal em etapas anteriores da investigação e os levantamentos elaborados pela Receita Federal detalhando movimentações suspeitas dos investigados seriam indícios dos 'negócios escusos' e justificariam as ordens expedidas.

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Teia de pessoas físicas e jurídicas que relacionam os diretores da Wiz. Foto: Reprodução

O objetivo das buscas foi, segundo a Polícia Federal, aprofundar as investigações sobre as supostas camadas de lavagem de dinheiro que envolveriam uma série de pessoas físicas e jurídicas interpostas para chegar aos beneficiários dos desvios.

COM A PALAVRA, A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

"A CAIXA informa que a CAIXA Seguros Holding - companhia a qual sua subsidiária CAIXA Seguridade Participações SA é sócia minoritária - e a Wiz Soluções e Corretagem de Seguros SA possuem contrato operacional para corretagem de seguros no balcão do banco firmado anteriormente à atual gestão, com encerramento em 14/02/2021.

A CAIXA esclarece que, a partir de decisão da atual gestão do banco, a CAIXA Seguridade já constituiu corretora de seguros 100% própria, cuja operação está prevista para se iniciar a partir de 04/01/2021.

Ademais, a CAIXA, por meio da CAIXA Seguridade Participações SA, é acionista minoritária e indireta (com cerca de 12%) da Wiz, não possuindo controle sobre a companhia."

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COM A PALAVRA, A CAIXA SEGURADORA

A Caixa Seguradora vem a público comunicar que instaurou processo de investigação interna independente para apurar as denúncias contidas em inquérito policial federal da Operação Descarte - Canal Seguro.

A companhia também se colocou à disposição da Justiça para colaborar com total transparência em todas as informações necessárias. A Caixa Seguradora é a maior interessada em esclarecer qualquer eventual ato ilícito porventura praticado por colaboradores ou por parceiros e tomará todas as medidas administrativas e legais para responsabilização dos eventuais envolvidos.

COM A PALAVRA, A WIZ

"A Wiz Soluções e Corretagem de Seguros S.A. vem informar aos seus acionistas e ao mercado em geral que na manhã de hoje é realizada busca e apreensão de documentos e material na sede da Companhia, em desdobramento à Operação Descarte, em cumprimento à decisão da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo, visando apurar fatos ocorridos no período entre 2014 e 2016.

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A Wiz esclarece que desconhece qualquer indício da prática dos ilícitos investigados e adotará as medidas necessárias para a apuração completa dos fatos alegados, bem como se colocar sempre disposição das autoridades para colaborar com as investigações e prestar quaisquer esclarecimentos necessários para a devida apuração dos fatos. A Companhia reafirma seu compromisso com a ética e a transparência, e manterá seus acionistas e o mercado em geral informados acerca dos temas em questão."

COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS

A reportagem busca contato com os demais citados. O espaço está aberto para manifestações (rayssa.motta@estadao.com e pepita.ortega@estadao.com).

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