Ciro Gomes exagera ao citar relação entre empresas de pesquisas e bancos

Candidato à Presidência pelo PDT participou de sabatina do Estadão nesta quarta, 21

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Por Clarissa Pacheco , Samuel Lima; Denise Chrispim e Milka Moura
Atualização:

Atualizada às 16h11.

O candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) exagerou ao dizer que "todas as pesquisas eleitorais" são financiadas por bancos. As pesquisas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tornadas públicas não são em sua maioria pagas por bancos. Há levantamentos pagos por entidades da indústria, veículos de imprensa e até autofinanciados.

Candidato foi questionado sobre desempenho em pesquisas eleitorais. Foto: Werther Santana/Estadão

Ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará, o pedetista fez a declaração durante sabatina Estadão/FAAP ao ser questionado sobre seu desempenho nas pesquisas eleitorais -- Media Estadão Dados coloca o candidato na terceira posição, com cerca de 7% dos votos. Confira abaixo a checagem do Estadão Verifica.

 

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Pesquisas eleitorais

O que disse Ciro Gomes: que quase todas as pesquisas eleitorais são pagas por bancos.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Dos nove levantamentos a serem divulgados nesta semana e incluídos no Agregador de Pesquisas do Estadão, apenas dois foram pagos por instituições financeiras -- FSB, pelo Banco Pactual, e Quaest, pela Genial Investimentos. Os levantamentos dos institutos Datafolha, Ipec e Real Time Big Data foram encomendados por Globo (os dois primeiros) e Record, enquanto as pesquisas de PoderData e Paraná Pesquisas são realizadas com recursos próprios. Na Média Estadão Dados, Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro na corrida presidencial, com 7% das intenções de voto. A metodologia conta com parâmetros para impedir que números destoantes ou desatualizados puxem concorrentes para cima ou para baixo.

 

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George Soros

O que Ciro Gomes disse: que o PSOL é financiado por George Soros. 

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não consta qualquer tipo de doação do bilionário George Soros e de instituições filantrópicas como a Open Society Foundation nas prestações de contas do diretório nacional do PSOL para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consultadas pelo Estadão, relativas aos exercícios deste ano e do ano passado. A sigla é quase integralmente financiada pelo fundo partidário. O nome do bilionário também não aparece entre os doadores de qualquer candidatura do PSOL ou de outro partido.

 

Agressão na Paulista

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O que Ciro Gomes disse: que "Lula mandou a tropa de choque dele" agredi-lo fisicamente na Avenida Paulista. 

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é insustentável. Em 2021, Ciro participou de um ato anti-Bolsonaro, na Avenida Paulista. Na manifestação, Ciro e seus assessores foram abordados de forma agressiva por militantes que eram contrários à presença do candidato no ato. Ele também foi vaiado enquanto fazia seu discurso. Não há como provar que o candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha envolvimento com o episódio. À época a presidente do PT, Gleisi Hoffmann classificou o incidente como "lamentável".

 

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Paris

O que Ciro Gomes disse: que não foi a Paris no dia da votação do segundo turno das eleições de 2018.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdade, mas falta contexto. Três dias após ficar de fora do 2º turno nas eleições de 2018, Ciro Gomes anunciou "apoio crítico" ao candidato do PT, Fernando Haddad, contra Jair Bolsonaro. O pedetista viajou para Paris, França, no dia seguinte, e não fez parte da campanha de Haddad, o que ainda hoje motiva críticas de lideranças do partido, como o ex-presidente Lula, em debate recente na TV Band. Ciro Gomes voltou ao Brasil no dia 26 de outubro, a tempo de votar dois dias depois. Na ocasião, foi questionado pela sua ausência e respondeu: "A quem que eu estou devendo essa presença? Estou devendo ao PT?". Disse ainda que não queria influenciar no resultado e que faria oposição a qualquer um que fosse eleito. 

 

Elogios a Bolsonaro

O que Ciro Gomes disse: que não fez reiterados elogios a Bolsonaro em recortes que circulam nas redes sociais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. Em maio deste ano, redes bolsonaristas passaram a compartilhar vídeos do pré-candidato Ciro Gomes (PDT) com ataques ao PT. Ele chegou a ser chamado ironicamente de "cabo eleitoral de Bolsonaro" em grupos de WhatsApp monitorados pelo jornal O Globo.

Um dos materiais é um trecho de uma entrevista dada ao canal do humorista Mauricio Meirelles, em 2020, em que Ciro Gomes faz críticas sobre a política de segurança pública de governos do PT e PSDB. "Bolsonaro não demorou 60 dias e fez o óbvio. Mas que ninguém fez. Nem Lula fez, nem Dilma fez nem FHC fez. Transferiu os chefes de facções, pros presídios federais e cortou a rede de comunicação." 

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"Se a gente for honesto, não foi o Bolsonaro que criou essa crise. Foi o PT", diz Ciro em outro trecho. Esse posicionamento foi repetido em outros momentos, como na entrevista ao podcast Flow.

Em setembro, o Estadão publicou uma reportagem mostrando que declarações de Ciro Gomes novamente viraram munição para apoiadores de Jair Bolsonaro contra Lula na reta final da campanha. Nas imagens compartilhadas por aliados do presidente, Ciro afirma que a polarização política se iniciou com Lula, não com Bolsonaro, e que o petista não pode ser eleito porque sabia do esquema de corrupção na Petrobras.

Ciro Gomes disse na sabatina do Estadão/FAAP desta quarta-feira, 21 de setembro, que a fala sobre a transferência em presídios era uma interpretação objetiva de indicadores de segurança e que não foi um elogio a Bolsonaro. "Considero Bolsonaro um bandido, despreparado, e por isso sempre fui oposição. Fui às ruas contra ele e assinei três pedidos de impeachment", declarou.

 

PT e Orçamento Secreto

O que Ciro Gomes disse: que o voto que manteve o orçamento secreto foi do PT.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: falta contexto. Ciro Gomes refere-se ao voto definitivo do senador Rogério Carvalho (PT-SE), candidato ao governo de Sergipe, em favor da aprovação de resolução que definiu as regras de execução do orçamento secreto, em 29 de novembro de 2019. Carvalho votou contra a orientação da liderança do PT no Senado. O PT emitiu nota na qual considerou grave a decisão do senador. O parlamentar argumenta que votou a favor de regras para que "o relator do orçamento preste contas do que ele fez".

 

Rejeição a Bolsonaro

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O que Ciro Gomes disse: 1 a cada 3 eleitores de Lula (PT) vota no candidato "para tirar o Bolsonaro".

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é insustentável. Os principais institutos que medem a intenção de voto para presidente não incluíram esse tipo de questionamento nos levantamentos mais recentes. O Verifica consultou Datafolha, Ipec e Quaest, mas não havia a informação. Em março, uma pesquisa da Quaest apontou que 20% dos eleitores de Lula responderam que a principal razão para votar em Lula era "Bolsonaro", o que representa 1 a cada 5 eleitores. Naquela data, o petista tinha 45% das intenções de voto, contra 25% de Bolsonaro, mas esses dados não podem ser diretamente comparados com o cenário atual porque a lista dos pré-candidatos era diferente. A rejeição ao presidente chegou a 50% na pesquisa Ipec mais recente.

Quaest

Datafolha

Ipec

 

Década perdida

O que Ciro Gomes disse: que o Brasil passou uma década sem crescer nada.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não é bem assim. A década de 2011 a 2020 é considerada por especialistas como a pior década em crescimento do Brasil desde 1900, ano em que começaram as estimativas de crescimento médio do PIB para o País. 

Em 2020, o PIB brasileiro caiu 4,1%, número próximo aos anos de 1981 e 1990, quando a queda foi de 4,3%. Com esses resultados, a década de 2011 a 2020 é considerada como a segunda década perdida da economia do Brasil porque o crescimento médio do PIB foi de apenas 0,3% ao ano. Embora o crescimento seja irrisório, não é possível dizer que não houve nenhum crescimento na década, como afirmou o candidato.

 

Obras inacabadas

O que Ciro Gomes disse: que há no País 14 mil obras licitadas, licenciadas e paradas no País.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não é bem assim. Um relatório do Tribunal de Contas da União publicado em 2019 apontou a existência de mais de 14 mil obras inacabadas dentre 38 mil contratos no País. A auditoria analisou cinco bancos de dados do Governo Federal. Em 2021, o TCU promoveu nova investigação para monitorar a situação das obras inacabadas e, de 27 mil contratos analisados, 7 mil estavam parados -- metade do estoque de 14 mil obras encontradas dois anos antes. O órgão constatou, contudo, que no mesmo período mais de 11 mil obras desapareceram dos bancos de dados consultados, o que compromete a comparação entre os dois anos. O Estadão Verifica já havia checado este número em sabatina anterior.

 

Efetivo de policiais

O que Ciro Gomes disse: que a Polícia Federal tem apenas 11,6 mil policiais, efetivo menor que o da Polícia do Ceará.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é impreciso. Ciro repetiu um dado citado durante sua entrevista ao Jornal Nacional. De acordo com o Portal da Transparência, o Departamento de Polícia Federal tem 13,8 mil servidores ativos e 1,6 mil comissionados - contingente maior do que o citado pelo presidenciável.

Quanto ao efetivo do Ceará, um relatório de 2021 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que a Polícia Militar no Estado conta com 20.620 agentes - portanto, número maior do que o da Polícia Federal.

Anuário FSP

 

Mortes por covid

O que Ciro Gomes disse: que o Brasil tem 3% da população do mundo e teve 11% das mortes por covid mundiais.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: está correto. Ciro Gomes aproximou os números para cima. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial alcance 8 bilhões em novembro deste ano. A população brasileira é estimada em 215,1 milhões pelo IBGE, o que representa 2,7% da população mundial. A Universidade Johns Hopkins calcula haver 6.529.993 mortes por covid-19 até 21 de setembro. Ao Brasil, o instituto atribui 685.428 mortes, o que representa 10,5% das mortes em todo o mundo.

 

Amortização e rolagem da dívida

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O que Ciro Gomes disse: que 52% do orçamento do Brasil vai para amortização e rolagem da dívida.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é impreciso. Na realidade, a despesa reservada para amortização e rolagem da dívida no orçamento 2022 representa 45% do total de R$ 4,8 trilhões.

 

População carcerária

 

O que Ciro Gomes disse: que a população carcerária subiu de 280 mil, quando Lula tomou posse, para 1,2 milhão, se considerarmos os mandados de prisão em aberto 

 

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é impreciso. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, a população prisional do Brasil em 2003, quando Lula tomou posse como presidente em seu primeiro mandato, era de 308.304 pessoas, e não de 280 mil, como afirmou o candidato.

 

O dado mais recente do Anuário corresponde ao ano de 2021, quando a população privada de liberdade somava 820.689 pessoas, incluindo as que estavam em penitenciárias e as sob custódia policial.

 

Já o Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), ferramenta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) atualizada em tempo real, aponta que existem hoje no Brasil 911.307 pessoas privadas de liberdade - a maioria, 405.643 - são presos provisórios. Além deles, há 24.500 foragidos e 336.962 procurados, o que chega ao número de 1,272 milhão de pessoas, número próximo ao citado por Ciro Gomes.

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IPVA

O que Ciro Gomes disse: que motocicletas pagam 4% de IPVA, mas jet ski, lancha e helicóptero não pagam imposto. 

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) varia de acordo com o estado. Em 2022, nenhum dos estados brasileiros cobra 4% de imposto para motocicletas e quadriciclos. A alíquota mais alta é a do Paraná, que cobra 3,5% de IPVA sobre esses veículos. Em julho, o Senado autorizou a isenção do IPVA para motos de até 170 cilindradas. A resolução passa a valer em 2023, mas não é impositiva, ou seja, depende dos estados e do Distrito Federal aplicarem a medida.

Por outro lado, é verdade que helicópteros, lanchas e jet skis não pagam IPVA. Uma lei estadual do Rio de Janeiro promulgada em 1985 cobrava 3% de IPVA sobre veículos automotores, incluindo embarcações e aeronaves. Mas, em 2006, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a cobrança do IPVA para embarcações e aeronaves era incabível, já que o imposto substitui a Taxa Rodoviária Única, que incidia sobre veículos terrestres.

Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Complementar (PLP) 11/21, que cria o Imposto sobre a Propriedade de Aeronaves e Embarcações (Ipae). O projeto é da autoria do deputado Severino Pessoa (Republicanos-AL) e prevê a cobrança de 1% de imposto sobre o valor do bem. O projeto está parado na Comissão de Finanças e Tributação desde 28 de abril do ano passado.

 

Inadimplência

O que Ciro Gomes disse: que há 66,6 milhões de brasileiros "humilhados" no SPC e 6 milhões de empresas no Serasa.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: os valores estão próximos do real. De acordo com dados do Serasa Experian, até julho deste ano o Brasil tinha 6,2 milhões de empresas e 67,6 milhões de consumidores inadimplentes.

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