Guia para entender o Caso Queiroz

MP do Rio realizou operação de busca e apreensão em endereços ligados ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e a seu ex-assessor Fabrício Queiroz e a familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro

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Por Redação
Atualização:
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Três semanas após o Supremo Tribunal Federal (STF) liberar a investigação sobre uma suspeita de “rachadinha” no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o Ministério Público Estadual (MP-RJ) fez nesta quarta-feira, 18, pela primeira vez, uma operação ostensiva para procurar provas sobre eventuais crimes de lavagem de dinheiro e peculato neste caso. Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Flávio, a seu ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e a familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.

Entenda aqui quais são os seis "núcleos" ligados a Flávio Bolsonaro na investigação do MP.

O então deputado Flávio Bolsonaro com seu assessor Fabrício Queiroz Foto: Reprodução

Instaurado em julho de 2018, o inquérito corre sob sigilo e apura se funcionários do gabinete de Flávio devolviam parte do salário. Em dezembro daquele ano, o Estado revelou que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) encontrou movimentações atípicas nas contas bancárias de Queiroz, por onde passou R$ 1,2 milhão, entre saques e depósitos. A troca de informações entre o Coaf e o MP-RJ fez a ação ser paralisada por quatro meses por decisão tomada pelo presidente do Supremo, Dias Toffoli, em julho.

Até então, a Justiça havia autorizado quebras de sigilo bancário e fiscal de 86 pessoas e nove empresas. Na quarta, 18, agentes do MP estiveram em endereços ligados a 12 desses alvos, entre eles três pessoas que também atuaram no antigo gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados: seu ex-sogro, José Procópio Valle; sua ex-cunhada Andrea Siqueira Valle, e a prima da sua ex-mulher, Juliana Vargas.

Operação do MP-RJ mirou endereços ligados a Flávio, Queiroz e a familiares de ex-mulher do presidente Bolsonaro nesta quarta,18 Foto: Wilton Júnior/Estadão

O caso Queiroz gerou desgaste para Bolsonaro, eleito presidente com o discurso de combate à corrupção, também está presente no manifesto do partido que pretende criar, o Aliança pelo Brasil, e que tem Flávio como primeiro vice-presidente. No fim da tarde de ontem, o senador visitou o pai no Palácio da Alvorada. Ao longo da investigação, Bolsonaro defendeu o filho e declarou que o objetivo do processo era atingi-lo. Ontem, no entanto, ele não deu nenhuma declaração sobre o assunto para a imprensa. O tema também não teria sido tratado durante almoço com representantes dos três Poderes no Palácio do Planalto, segundo presentes. “Foi só um bate papo informal”, disse Toffoli.

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Defensor de Flávio, o advogado Frederick Wassef afirmou que o MP não vai encontrar “nada de ilegal” na investigação. A defesa de Queiroz se disse surpresa com a medida de busca e apreensão.

Depósitos. Relatório feito pelo MP para justificar os pedidos de busca e apreensão afirma que Queiroz recebeu R$ 2 milhões em centenas de depósitos e transferências feitos por 13 assessores do gabinete de Flávio ao longo de 11 anos. Os promotores também descobriram que parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro, sacavam em espécie mais de 90% do que recebiam de salário como assessores de Flávio na Alerj.

A maior parte deles vivem em Resende, a cerca de 160 quilômetros do Rio. Embora tenha trabalhado em gabinetes da família Bolsonaro no Rio e no Distrito Federal, alguns desses familiares de Ana Cristina nem chegaram a pediram crachá funcional, segundo o MP. 

Chocolate. Além dos endereços ligados a parentes de Ana Cristina e ex-assessores do gabinete de Flávio entre 2003 e 2018, os promotores também cumpriram mandado de busca em uma franquia de uma marca de chocolates que tem o senador como sócio no início da manhã. Os agentes arrombaram a porta para entrar na loja, localizada no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, que estava fechado. Quando os funcionários chegaram para trabalhar, foram surpreendidos com os investigadores já dentro da loja. 

Os procuradores foram atrás de relatórios contábeis da loja. A intenção é cruzar dados da receita do estabelecimento para confirmar se o montante arrecadado coincide com o volume de vendas. O mesmo motivo levou o MP ao escritório que faz a contabilidade da franquia.

Leia mais sobre o Caso Queiroz e a operação do MP-RJ realizada nesta quarta-feira, 18:

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/CAIO SARTORI, MÁRCIO DOLZAN, ROBERTA JANSEN, VERA ROSA e RAFAEL MORAES MOURA.

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