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Mensagens de Allan dos Santos a assessor de Bolsonaro contradizem depoimento do blogueiro à PF

Em oitiva realizada em junho, blogueiro disse que é 'crítico' da intervenção militar; Na última sexta, 11, porém, chefe da Ajudância de Ordem da Presidência foi confrontado por investigadores sobre conversa na qual Allan dos Santos diz que 'As FFAA precisam entrar urgentemente' após protestos de grupos 'antifascistas'

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Foto do author Pepita Ortega
Por Rayssa Motta , Pepita Ortega , Paulo Roberto Netto , Fausto Macedo/SÃO PAULO e Breno Pires/BRASÍLIA
Atualização:

O blogueiro Allan dos Santos dá entrevista após operação da PF em sua casa, em Brasília. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Mensagens enviadas pelo blogueiro Allan dos Santos ao tenente-coronel Mauro Cid, chefe da Ajudância de Ordem da Presidência e assessor do presidente Jair Bolsonaro, contradizem depoimento prestado pelo blogueiro à Polícia Federal. Na oitiva, Allan dos Santos afirmou ser 'crítico' à intervenção militar, mas em conversa com o militar, obtida pelos investigadores, disse que 'As FFAA (Forças Armadas) precisam entrar urgentemente'.

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O blogueiro aliado do Planalto foi ouvido no dia 23 de junho - uma semana antes, ele foi alvo de busca e apreensão na Operação Lume, solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O termo de depoimento foi obtido pelo Estadão.

A PF não confrontou Allan sobre as mensagens que viriam a ser usadas no depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, prestado na sexta, 11. Aos investigadores, o blogueiro afirmou que é 'crítico à intervenção militar' e que não participa ou organiza atos antidemocráticos. Allan disse que sua participação nos eventos 'se restringe a atividade profissional como jornalista' e não como manifestante.

 

A declaração, porém, vai de encontro a mensagens obtidas pela PF e usadas na sexta, 11, para confrontar o tenente-coronel Mauro Cid sobre diálogos com o blogueiro. Segundo os investigadores, Allan dos Santos enviou no dia 31 de maio um link de reportagem ao militar sobre grupos denominados 'antifas' - à época, os manifestantes protestavam contra o governo Bolsonaro.

No dia seguinte, 1º de junho, o militar respondeu: 'Grupos guerrilheiros/terroristas. Estamos voltando para 68, mas agora com apoio da mídia'.

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Allan dos Santos replicou: 'As FFAA (Forças Armadas) precisam ENTRAR URGENTEMENTE', ao que o tenente-coronel respondeu com um 'Opa!'. Mauro Cid foi questionado pela PF e disse que o seu 'Opa!' era 'apenas uma saudação, como, por exemplo, Bom dia!', e não tinha relação com as mensagens do blogueiro.

 

O tenente-coronel Mauro Cid é filho do general de Exército Cid Lorena, que foi colega de turma de Bolsonaro e do comandante do Exército, Edson Pujol (turma de 1977) ne Academia das Agulhas Negras. Cid Lorena dirigiu o departamento de Educação do Exército antes de passar para a reserva e assumir um cargo na Apex, em Miami, no governo do amigo, com salário de R$ 46 mil acumulado com o de general 32 mil.

Em outro momento, no dia 20 de abril, a PF disse que o blogueiro sugeriu a Mauro Cid 'a necessidade de uma intervenção militar'. Naquele dia, o presidente Jair Bolsonaro sofria intensas críticas sobre sua participação em um protesto a favor da ditadura.

Segundo a PF, após receber a mensagem, o tenente-coronel respondeu ao blogueiro: 'já te ligo'. Aos investigadores, disse 'que acredita que não realizou a ligação'.

 Foto: Estadão

Em mensagem datada do dia 26 de abril, Allan dos Santos teria dito ao militar 'que não via solução por vias democráticas' - à época, o governo federal enfrentava crise aberta com a saída do então ministro da Justiça Sérgio Moro, que acusou Bolsonaro de tentar interferir no comando da PF. O caso resultou em inquérito ainda em tramitação no Supremo contra o presidente.

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Mais uma vez, o tenente-coronel Mauro Cid respondeu o blogueiro: 'já te ligo' e, novamente, disse à PF que 'não acredita que realizou a ligação'.

 Foto: Estadão

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Uma quarta mensagem do blogueiro foi mostrada ao militar e se refere ao dia 06 de maio - no dia anterior, o ministro Celso de Mello, responsável pelo inquérito contra Bolsonaro, havia autorizado o depoimento dos ministros Augusto Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos e determinou que as oitivas fossem tomadas até mesmo 'debaixo de vara'. A declaração provocou forte reação no meio militar.

Allan dos Santos, segundo a PF, citou 'decisões do STF' e disse ao militar: 'Não dá mais'. O tenente-coronel Mauro Cid respondeu 'Tá difícil'. Questionado sobre a declaração, o militar disse que se tratou de manifestação pessoal sobre 'a forma como os generais foram intimados'.

Investigação. Allan dos Santos é um dos investigados no inquérito que apura a organização e financiamento de atos antidemocráticos em Brasília. O caso foi aberto a pedido da PGR e é conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Relatório parcial da PF indica que o inquérito busca descobrir, em uma linha de investigação, se o governo federal agiu deliberadamente ou por omissão no financiamento de páginas e sites ligados aos atos antidemocráticos. É a primeira vez que o Planalto foi implicado no inquérito.

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Fabio Wajngarten, chefe da Secom, e o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Alvorada. Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

A investigação tem como base relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, que identificou informações sobre anúncios da Secom em sites e páginas ligadas aos investigados. Os anúncios haviam sido incluídos por meio do Google AdSense, ferramenta do Google na qual o usuário define parâmetros sobre qual público-alvo quer alcançar com o anúncio. Apesar de não haver um controle sobre quais sites as peças são exibidas, o governo tem a opção de bloquear a sua presença em determinadas páginas.

"A investigação tem o objetivo de checar se essa ocorrência se deu por culpa ou por ação ou omissão deliberada de permitir a adesão da publicidade do governo federal, e a consequente monetização, ao conteúdo propagado. Outro ponto a ser elucidado (e que complementarão a análise do material já em curso) é se essa conduta ocorreu por vínculos pessoais/ideológicos entre agentes públicos e os produtores de conteúdo ou mesmo por articulação entre ambos", apontou a PF.

Outro foco da apuração mira aprofundar quais são os 'vínculos' entre a extremista Sara Giromini, o blogueiro Oswaldo Eustáquio e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, de Damares Alves.

Segundo a PF, 'há vínculos, ainda não totalmente esclarecidos' sobre a contratação de Sara Giromini no ministério de Damares. Até outubro do ano passado, a extremista ocupou cargo na Coordenação-Geral da Atenção Integral à Gestante no Departamento de Promoção da Dignidade da Mulher.

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A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves com a extremista Sara Giromini, em vídeo publicado em 2018. Foto: Facebook / Reprodução

Caso semelhante é analisado pela PF envolvendo Oswaldo Eustáquio. A esposa e sócia do blogueiro, Sandra Mara Volf Pedro Eustáquio, tem cargo na Secretaria Nacional de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, no mesmo ministério.

"A natureza e a origem desses vínculos e as relações entre essas pessoas e agentes públicos com atuação nessa pasta merece aprofundamento, para corroborar ou eliminar a asserção feita no corpo da hipótese criminal de que tais contratações seriam também uma forma de distribuir fundos aos propagadores/operadores", apontou a Polícia Federal.

Em nota, a Secom afirmou que a distribuição de verbas publicitárias 'segue os critérios constitucionais de impessoalidade, legalidade, moralidade, publicidade e eficiência' e que a distribuição da publicidade digital oficial do governo 'é de responsabilidade do Google Ads'.

O Ministério da Mulher informou que 'todos os membros deste Ministério estão tranquilos para prestar qualquer informação que se fizer necessária para que os fatos sejam elucidados'.

COM A PALAVRA, ALLAN DOS SANTOSA reportagem busca contato com a defesa de Allan dos Santos. Uma mensagem foi enviada ao advogado que acompanhou o blogueiro no depoimento à PF, mas não houve resposta. O espaço está aberto a manifestações (paulo.netto@estadao.com)

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COM A PALAVRA, A SECRETARIA ESPECIAL DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO BOLSONARO

A Secretaria Especial de Comunicação Social do Ministério das Comunicações esclarece:

1. A política de comunicação da Secom na distribuição de verbas publicitárias é estritamente técnica e segue os critérios constitucionais de impessoalidade, legalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

2 - Como já reiterado por diversas vezes pela Secom, a distribuição da publicidade digital oficial do governo federal é de responsabilidade do Google Ads, que utiliza inteligência artificial e distribui as peças de forma automatizada.

3. O interesse e o destaque dado à informação na cobertura da investigação é consequência da campanha de alguns veículos contra a política de Comunicação Social do governo.

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4. O que se pretende é criar narrativas falsas, bem distantes da boa prática jornalística e atacar diariamente o Governo e seus ministros, com o objetivo de tentar desgastar a sua imagem.

5. A Secom respeita a Liberdade de Imprensa, assim como a Liberdade de Expressão de todo cidadão brasileiro e dos veículos de comunicação, mas condena esse tipo de campanha que não ajuda ao país e nem a democracia.

6. A Secom continuará com seu trabalho técnico, cumprindo sua obrigação de informar a população das ações do governo federal, sempre respeitando os critérios constitucionais já elencados.

Secretaria Especial de Comunicação Social Ministério das Comunicações

COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS A ex-servidora Sara Giromini e o ex-funcionário terceirizado Renan Sena, quando indiciados, não pertenciam mais ao quadro funcional do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).

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Desconhecemos qualquer investigação que envolva a secretária Sandra Terena.

Todos os membros deste Ministério estão tranquilos para prestar qualquer informação que se fizer necessária para que os fatos sejam elucidados.

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