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'Entendo o que levou os colegas a dizer um basta', diz procurador sobre debandada da Lava Jato da PGR de Raquel

Vladimir Aras, apontado como expressiva liderança de seus pares, avalia que 'é um triste fim de gestão', em referência ao término do mandato da procuradora-geral; saída em massa do Grupo de Trabalho da Procuradoria-Geral que atuava na operação abre grave crise na instituição

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Por Pepita Ortega , Ricardo Brandt , Luiz Vassallo e Fausto Macedo
Atualização:

Vladimir Aras. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

O procurador regional da República em Brasília Vladimir Aras, apontado como expressiva liderança entre seus pares, disse nesta quinta, 5, que entende o que motivou a debandada do Grupo de Trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República.

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"Entendo o sentimento que motivou esses valorosos colegas a dizer um basta. Eles se dedicaram durante dois anos à luta contra a corrupção, um dos mais importantes papéis do Ministério Público Federal", declarou Aras.

Na carreira desde 1993, professor de ciências criminais e direito internacional, mestre e doutorando em Direito, Aras foi chefe da Secretaria de Cooperação Internacional da PGR nos mandatos de Rodrigo Janot, antecessor de Raquel.

"É um triste fim de gestão que mostra a importância de os presidentes da República escolherem bem os Procuradores-Gerais", emendou, em referência ao crepúsculo do mandato de Raquel Dodge.

Ela sai no próximo dia 17, mas sonha com a recondução. O presidente Jair Bolsonaro, a quem cabe a indicação, ainda não anunciou quem vai escalar para comandar a instituição nos próximos dois anos.

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'Incompatibilidade'

O Grupo de Trabalho da Lava Jato da PGR decidiu se desligar da força nesta quarta, 4.

Disseram adeus à operação Raquel Branquinho, Maria Clara Noleto, Luana Vargas, Hebert Mesquita, Victor Riccely e Alessandro Oliveira. Eles pediram desligamento sob a alegação de 'incompatibilidade' com entendimento da procuradora-geral.

A dispersão abriu pesada crise na cúpula da instituição e provocou forte impacto em todo o Ministério Público Federal.

"Farão muita falta", afirmou no Twitter o procurador Roberto Pozzobon, que integra a força-tarefa da Lava Jato no Paraná.

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A mensagem de Pozzobon foi retuitada pelo chefe da força-tarefa em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol.

A procuradora da República em São Paulo Thaméa Danelon também declarou 'todo apoio e respeito aos seis bravos colegas que, não concordando com certos posicionamentos, deixaram de integrar a Lava Jato da PGR!'

"Parabéns pela coragem, determinação e comprometimento com a sociedade e com o combate à corrupção e impunidade", tuitou Thaméa.

A postagem de Roberto Pozzobon aborda ainda duas outras notícias da quarta-feira, 4 - a soltura dos ex-governadores do Rio Rosinha e Anthony Garotinho e o envio da investigação sobre o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega (Governos Lula e Dilma) à Justiça Federal em Brasília, neste caso por ordem de Gilmar Mendes, do Supremo. 'Dia difícil', disse Pozzobon.

Delação

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A entrega em série dos cargos do Grupo da Lava Jato na PGR se dá a menos de 15 dias do fim do mandato de Raquel como chefe do Ministério Público Federal. Ela é alvo de crescente insatisfação interna dentro do órgão.

O desentendimento da equipe com Raquel está relacionado com a delação premiada do executivo Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS. Segundo apuração da reportagem do Estado, ao encaminhar o acordo de delação premiada para homologação do Supremo, ela pediu o arquivamento de parte dos relatos que supostamente trazia implicações ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e um dos irmãos do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli.

Não foram as primeiras baixas da equipe de Raquel na área criminal. O ex-coordenador da Lava Jato, José Alfredo, havia abandonado o posto em julho, também em desacordo com a atuação da procuradora-geral. Em março, os procuradores Pablo Coutinho Barreto e Vitor Souza Cunha, que eram chefes da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise (SPPEA), também pediram desligamento da função.

Nos bastidores da Procuradoria, além da decisão sobre a delação de Leo Pinheiro, o pedido de desculpas feito pelo subprocurador-geral da República Antônio Carlos Bigonha à Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, influenciou a entrega de cargos do Grupo da Lava Jato.

Os dois atos são avaliados como 'gestos políticos' da procuradora-geral em busca da recondução à PGR.

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Na sessão de terça, 3, Bigonha se desculpou pelo fato de procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná terem criticado a decisão do colegiado que, na terça, 27, por três votos a um, anulou a condenação do ex-presidente da Petrobrás e do Banco do Brasil Aldemir Bendine.

A sentença havia sido dada pelo então juiz Sérgio Moro e determinava que Bendine cumprisse 11 anos de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Sem citar nomes, Bigonha disse que não cabe a procuradores que atuam em primeira instância - como o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol - fazer 'juízo de valor' sobre julgamentos do Supremo.

COM A PALAVRA, A PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA

Ao confirmar que recebeu pedido de desligamento de integrantes de sua equipe na área criminal, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, reafirma que, em todos os seus atos, age invariavelmente com base em evidências, observa o sigilo legal e dá rigoroso cumprimento à Constituição e à lei. Todas as suas manifestações são submetidas à decisão do Supremo Tribunal Federal.

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