Com o sinal verde do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro (PL) passou à condição de investigado em mais um inquérito: o das milícias digitais. O chefe do Executivo se tornou alvo de outras seis investigações desde que assumiu o cargo.
A relação de Bolsonaro com grupos que se mobilizam na internet contra a democracia e as instituições passou a ser investigada depois que Moraes autorizou o compartilhamento do material obtido no inquérito sobre o vazamento de uma apuração sigilosa pelo presidente. A PF pediu para usar as provas alegando ter visto um 'modo de agir correlato' com as chamadas 'milícias digitais'.
A própria investigação das milícias digitais, aberta em julho do ano passado, nasceu derivada de outra frente de apuração contra aliados e apoiadores bolsonaristas: o inquérito dos atos antidemocráticos. Na ocasião, o caso precisou ser arquivado por determinação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Antes de encerrá-lo, porém, Moraes autorizou o intercâmbio de provas e mandou rastrear o que chamou de 'organização criminosa' identificada pela PF.
Veja todas as investigações em curso contra Bolsonaro:
- Disseminação de fake news e ataques ao sistema eleitoral;
- Interferência indevida na Polícia Federal, como acusou o ex-ministro e pré-candidato a presidente Sérgio Moro ao entregar o cargo no governo em abril do ano passado;
- Prevaricação por não ter comunicado a Polícia Federal dos inícios de corrupção envolvendo as negociações do Ministério da Saúde para compra da vacina Covaxin;
- Incitação ao crime por relacionar vacina contra a covid-19 com o vírus da Aids;
- Vazamento de investigação sigilosa da Polícia Federal sobre uma tentativa de ataque hacker aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral;
- Inquérito administrativo do TSE, também sobre a divulgação do inquérito que se debruça sobre a tentativa de invasão dos sistemas da Corte;
- Atuação de milícias digitais.
No relatório final do inquérito sobre a live feita por Bolsonaro no dia 29 de julho do ano passado para questionar a segurança das urnas, com transmissão simultânea pelas redes sociais e pela TV Brasil, a delegada federal Denisse Dias Rosas já havia sugerido que o presidente fosse investigado no inquérito das milícias digitais por promover desinformação. Na ocasião, ela pediu 'a utilização e a interpretação dos dados referentes ao modo de agir identificado' no 'contexto de atuação da suposta organização criminosa' das milícias digitais.
Ao concluir outra investigação conexa, sobre a divulgação indevida de documentos sigilosos na live, a PF disse que Bolsonaro cometeu o crime de violação de sigilo. O material foi disponibilizado nas redes sociais para levantar suspeitas sobre o sistema de votação em meio aos debates da PEC do Voto Impresso. Para a os investigadores, a tentativa de inflamar a militância bolsonarista com informações falsas indica semelhanças com o 'modus operandi' das milícias digitais.
"Corroborando a ideia de articulação de um grupo maior de pessoas cuja atuação se insere em contexto mais amplo, tratado no INQ 4874 [inquérito das milícias digitais]", escreveu a PF.