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'Chama atenção a ação criminosa não ter se interrompido mesmo durante a pandemia de coronavírus', diz ministro ao mandar prender desembargadora da Bahia por propina de R$ 250 mil

Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça, cita a disseminação do novo coronavírus entre os elementos que corroboram a abertura de nova etapa de investigação sobre esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça da Bahia

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Foto do author Pepita Ortega
Foto do author Fausto Macedo
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

O ministro Og Fernandes. Foto: Ascom/STJ

"Chama atenção o fato de a ação criminosa não ter se interrompido mesmo durante a pandemia de Coronavírus (Covid-109), quando há a recomendação de restringir-se a interação social". Foi o que registrou o ministro do Superior Tribunal de Justiça Og Fernandes ao determinar a abertura da quinta fase da Operação Faroeste na manhã desta terça, 24, mirando a desembargadora Sandra Inês Moraes Ruscioelli Azevedo por suposto  recebimento de R$ 250 mil em propina por voto favorável a produtor rural baiano.

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A magistrada e dois advogados, Vanderlei Chilante e Vasco Ruscioelli - o segundo, filho da desembargadora - foram alvos de mandados de prisão cumpridos pela Polícia Federal nesta manhã. Os agentes realizaram ainda buscas em oito endereços de Salvador e Mata de São João, na Bahia, e Rondonópolis, em Mato Grosso.

Documento

A decisão de Og

Na decisão que autorização a ação policial, além de afastar Sandra da Corte baiana, Og Fernandes pontuou ainda que as atividades ilícitas ds investigados perdurou mesmo após a deflagração da Operação Faroeste, que teve início em novembro de 2019, com o afastamento de prisão de desembargadores e juízes do TJ-BA.

Em dezembro, quatro desembargadores e três magistrados foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República por suposto esquema de venda de decisões que tinha o propósito legitimar a venda de terras na região oeste da Bahia. A grilagem teria sido praticada em 800 mil hectares de terras no oeste do estado.

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Ao tratar de 'atividade ilícita que perdurou', o ministro faz referência a entrega de R$ 250 mil em propina no apartamento da desembargadora Sandra Ruscioelli no último dia 17.

A movimentação foi flagrada pela Polícia Federal em ação controlada. Segundo relatado pela Procuradoria, o operador e advogado Júlio César recebeu os R$ 250 mil de Vanderlei Chilante, advogado da Bom Jesus Agropecuária, a mando do produtor Nelson José Vigolo, em Rondonópolis (MT), e seguiu para Salvador na Bahia. Ele encontrou então com Vasco Ruscioelli em um motel baiano, onde repassou o dinheiro. Depois, segundo os procuradores, o filho de Sandra repassou o montante, no interior de um estabelecimento de ensino universitário, para sua mulher, que levou o dinheiro para o apartamento.

O despacho registra ainda que o objetivo da entrega de dinheiro foi a compra do voto da desembargadora em mandado de segurança julgamento em sessão do dia 21 de janeiro, sendo que o entendimento da magistrada acolhido. Segundo o documento, o mandado 'desafiava portaria da Corregedoria de Justiça do Interior do TJ-BA e poderia equacionar, com decisão favorável objeto da transação financeira, todos os interesses do produtor rural Nelson José Vigolo'.

"Ou seja, nem com as investigações desnudando o suposto esquema criminoso no Oeste baiano, e com várias medidas cautelares em pleno vigor, os investigados cessaram o curso de suas ações antijurídicas", registrou Og Fernandes no despacho.

Faroeste

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A Faroeste foi inicialmente desencadeada no dia 19 de novembro para investigar um esquema de venda de decisões judiciais que tinha o propósito legitimar a venda de terras na região oeste da Bahia. A grilagem teria sido praticada em 800 mil hectares de terras no oeste do estado.

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Na ocasião, foram afastados os desembargadores Gesivaldo Nascimento Britto, presidente da Corte, José Olegário Monção Caldas, Maria da Graça Osório Pimentel Leal, Maria do Socorro Barreto Santiago, e os juízes Marivalda Almeida Moutinho e Sérgio Humberto de Quadros Sampaio.

As fases seguintes da Operação, prenderam o juiz Sérgio Humberto de Quadros Sampaio, da 5ª Vara de Substituições da Comarca de Salvador e a desembargadora Maria do Socorro Barreto SantiagoDurante buscas na primeira etapa da investigação, agentes da Polícia Federal encontraram no quarto da magistrada R$ 100 mil em reais, euros e dólares em espécie, além de obras de arte, joias, brincos, colar de ouro e três Rolex.

Em dezembro, a Procuradoria-Geral da República denunciou, no Superior Tribunal de Justiça, os quatro desembargadores e outras 11 pessoas no âmbito da investigação, dentre elas três juízes. O Ministério Público Federal acusa os 15 de organização criminosa e lavagem de R$ 517 milhões.

Seis magistrados denunciados tiveram seus afastamentos prorrogados por mais um ano pela Corte Especial do STJ no dia 5 de fevereiro - os desembargadores Gesivaldo Nascimento Britto, José Olegário Monção Caldas, Maria da Graça Osório Pimentel Leal e Maria do Socorro Barreto Santiago, além dos juízes Sérgio Humberto de Quadros Sampaio e Marivalda Almeida Moutinho.

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A quarta fase da operação mirou ainda um advogado e um joalheiro por suposto envolvimento na lavagem de dinheiro do esquema de venda de decisões judiciais.

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