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Vídeo de pessoa morta no Maranhão circula fora de contexto para espalhar teoria da conspiração

Ao contrário do que afirmam postagens nas redes sociais, hospitais não recebem remuneração de acordo com número de óbitos registrados

Por Pedro Prata
Atualização:

Perfis negacionistas nas redes sociais têm compartilhado o vídeo de uma pessoa morta, retirado de contexto, com o objetivo de espalhar teorias da conspiração sobre a pandemia de covid-19. As postagens sem fundamento alegam que o paciente mostrado na gravação teria sido dado como morto em troca de remuneração para o hospital. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490.

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Hospitais não são remunerados de acordo com o número de óbitos por covid-19. Esse boato foi espalhado no ano passado para afirmar que Estados e municípios seriam "estimulados" a inflar o número de mortes causadas pelo novo coronavírus por compensação financeira. Nada disso é verdade. A definição dos valores destinados pelo Ministério da Saúde para ações de enfrentamento à pandemia não toma como base o número de pacientes infectados ou mortos.

O vídeo em questão mostra um corpo com os pés e mãos amarrados e algodão nas narinas e na boca. Duas pessoas filmam a cena. Em determinado momento, os braços da pessoa, que estavam cruzados sobre o peito, parecem cair para cima do rosto. Neste momento, um homem fecha um saco em torno do cadáver.

 Foto: Reprodução

Uma das versões do vídeo que circula nas redes foi editada para incluir o áudio de uma mulher. Ela diz que o caso supostamente aconteceu no Maranhão. Alega que a pessoa retratada teria morrido duas horas depois de ter sido levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com pressão alta. Ela acusa "o povo" de estar "matando para dizer que foi coronavírus", mas não diz a quem está se referindo.

A Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão identificou a pessoa gravada. Trata-se de uma mulher que morreu em decorrência de síndrome respiratória aguda grave por covid-19, em 9 de março. Ela teria dado entrada na UPA em estado clínico grave e evoluiu a óbito mesmo após receber assistência médica.

"A SES ressalta que toda assistência foi prestada à família da paciente e repudia a exposição da imagem da maranhense para repercussão sensacionalista, desumana e inverídica", diz a secretaria em nota.

O médico legista Celso Domene, presidente da Associação de Médicos Legistas do Estado de São Paulo, analisou o vídeo e afirmou ao Estadão Verifica que o corpo aparenta os sinais imediatos de constatação de morte: perda de consciência, parada de movimentos respiratórios e parada de batimentos cardíacos.

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Ainda segundo ele, o corpo está sendo manipulado dentro do saco plástico e pode mudar de posição por este motivo. "Creio que seja essa a explicação", diz Domene.

O vídeo foi editado e circula com outras versões nas redes. Uma delas recebeu sobre as imagens a narração de um homem que faz juízo de valor da situação. Ele acredita que a pessoa está "nitidamente viva" e fala que "eles precisam de uma narrativa para o plano deles dar certo. Eles têm que matar o máximo de gente possível", sem dizer a quem se refere. Ainda afirma que "é por isso que estão proibindo o tratamento precoce, porque senão cai por terra que está morrendo de coronavírus (sic)".

Até o momento, não há qualquer forma de tratamento precoce da covid-19. O kit de medicamentos assim chamado popularmente não tem eficácia comprovada por estudos científicos. Dentre eles, a hidroxicloroquina e a cloroquina já foram provados ineficazes contra o novo coronavírus.

Enterro noturno no cemitério da Vila Formosa, na zona leste da cidade. O Serviço Funerário de São Paulo ampliou o horário de 4 cemitérios públicos em meio à pandemia de coronavírus (COVID-19). Foto: Miguel Schincariol / AFP Foto:

O Estadão Verifica já desmentiu postagens que afirmavam que hospitais receberiam R$ 18 mil por cada óbito de covid-19. Além disso, também mostramos como postagens tiram de contexto dados desatualizados da associação de cartórios para negar a real dimensão da pandemia.

Este conteúdo contém características comuns a peças de desinformação:

  • Não cita a fonte da alegação;
  • É vago, não informa data nem local da gravação;
  • Contém erros de português;
  • É alarmista e faz acusações de atrocidades, mas não diz quem estaria cometendo essas atrocidades.

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