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Postagem distorce motivação por trás de saída de ministros franceses

Publicação de Olavo de Carvalho dá gás a boato que inventa relação entre fatos políticos franceses recentes

Por Tiago Aguiar
Atualização:

Um print de uma postagem do escritor Olavo de Carvalho voltou a circular no Facebook nesta semana com a informação falsa de que membros do primeiro escalão do governo francês perderam cargos por terem vetado a distribuição de cloroquina no tratamento à covid-19. Apesar de alguns membros do governo estarem respondendo a processo, não há relação com a regulamentação da substância.

No dia 3 de julho, o órgão equivalente à Procuradoria Geral da República na França (a Cour de justice de la République) anunciou abertura de inquérito contra o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, a ex-ministra da Saúde Agnès Buzyn e o atual chefe da pasta, Olivier Véran. A investigação agrupa as denúncias entendidas como válidas de indivíduos e grupos da sociedade civil francesa que se queixaram da gestão da crise da pandemia no país. O órgão não discriminou se a regulamentação da cloroquina está entre os objetos do inquérito.

 Foto: Estadão

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A demissão do então primeiro-ministro Édouard Philippe, no último dia 3, foi apontada pela imprensa internacional como uma resposta à derrota nas eleições municipais francesas, em que o En Marche, partido do presidente, teve um desempenho fraco. Édouard é uma figura popular e, segundo cientistas políticos ouvidos nessas reportagens, ofuscava Macron. Apesar de ter ocorrido no mesmo dia que o anúncio da abertura do inquérito, a demissão foi anunciada antes.

A saída de Agnès Buzyn do ministério da Saúde, em fevereiro deste ano, foi devido à sua candidatura a prefeitura de Paris, anunciada na ocasião.

O uso de hidroxicloroquina na França apenas em testes clínicos foi recomendado em 26 de maio pelo Conselho Superior de Saúde Pública.

Defendida como tratamento pelo presidente Jair Bolsonaro, que foi diagnosticado com o novo coronavírus, a cloroquina não tem eficácia cientificamente comprovada e há riscos no seu uso. Em maio, o Ministério da Saúde publicou um documento que permite o uso da cloroquina, mesmo em estágios iniciais da doença, em pacientes infectados pelo novo coronavírus no sistema público de saúde.

Versões deste boato também foram verificadas por Aos Fatos, Agência Lupa, Boatos.org e UOL.

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A postagem original de Olavo no Facebook, feita no último dia 15, foi deletada após checagem feita por esses veículos, mas dezenas de cópias ainda circulam na rede social. A ideologia conservadora de Carvalho é considerada base do atual governo.

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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