Após minimizar pandemia, Bolsonaro é diagnosticado com covid-19

Resultado divulgado repercute no exterior e presidente cancela compromissos dos próximos 15 dias; pelo menos 13 ministros também fazem testes

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Foto do author Julia Lindner
Por Daniel Weterman , Jussara Soares e Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro informou nesta terça-feira, 7, que contraiu a covid-19. Divulgado pelo Planalto, o exame foi feito na segunda-feira, 6, sem usar codinome para identificação do laudo, ao contrário de outras três vezes em que o presidente recorreu a pseudônimos na hora da coleta. O resultado positivo do chefe do Executivo ganhou repercussão internacional e obrigou a cúpula do governo a também fazer novos testes.

Nos últimos dias, Bolsonaro teve contato com pelo menos 55 pessoas, entre políticos, empresários e autoridades. Em alguns desses encontros, o presidente não usou máscaras e apertou as mãos ou abraçou alguns dos seus interlocutores. Desde o início da pandemia, mais de 1,6 milhão de brasileiros foram infectados pelo novo coronavírus. O total de mortos já ultrapassa 66,7 mil. O presidente já deu declarações polêmicas sobre a pandemia o vírus. Relembre.

Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 07, que está com covid-19 Foto: Reprodução/YouTube/CNN Brasil

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Em entrevista a jornalistas de TVs no Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que já iniciou o tratamento com hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Bolsonaro tem 65 anos e faz parte do grupo de risco da doença, mas disse que não está sofrendo com os sintomas mais graves por causa do uso precoce do medicamento.

“Então, eu confio na hidroxicloroquina. E você?”, disse, em vídeo divulgado nas redes sociais. O presidente tem minimizado os riscos da doença, que já chamou de “gripezinha”. Já disse que não teria problemas por ter “histórico de atleta” e classificou a pandemia de “histeria”.  Ele cancelou os compromissos previstos para os próximos 15 dias, mas pretende continuar trabalhando da residência oficial. “Vou ficar despachando por videoconferência. E assinar alguns papéis aqui”, afirmou.

Ao anunciar a jornalistas que foi infectado pela covid-19, o presidente chegou a tirar a máscara no fim da entrevista. “Estou bem, graças a Deus. Os que criticaram também, não tem problema, podem continuar criticando à vontade.”

Na segunda, mesmo após ter feito o exame, Bolsonaro chegou a se aproximar de apoiadores e tirar fotos, contrariando as recomendações de distanciamento social da OMS.

Há uma realidade paralela e ela está refletida na imagem de um Bolsonaro possuído. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Os primeiros sintomas da doença, de acordo com o relato do presidente, começaram ainda no domingo. No sábado, Bolsonaro foi a Santa Catarina sobrevoar área atingidas por um ciclone e se encontrou com autoridades locais. No mesmo dia, ele esteve na residência do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, com ministros e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República. Ele não usou máscara e se confraternizou com abraços, de acordo com imagens divulgadas pela Presidência da República.

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“Começou domingo com uma certa indisposição e se agravou durante o dia de segunda-feira com mal-estar, cansaço, um pouco de dor muscular e a febre no final da tarde chegou a bater 38 graus (Celsius). Daí, com o médico da Presidência e com os sintomas apontando para a covid-19, fomos fazer uma tomografia no Hospital das Forças Armadas”, afirmou.

Domigo, Bolsonaro já havia feito um exame dos pulmões, no Hospital das Forças Armadas, e disse a apoiadores que estava “tudo limpo”. O período de incubação do novo coronavírus varia de 2 a 14 dias, mas é mais comum que os sintomas se manifestem entre o quinto e o sétimo dia após a infecção, segundo estudos mais recentes. 

Procurado, o Planalto não se manifestou sobre o motivo de o chefe do Executivo ter deixado de usar codinomes desta vez ao fazer exame.

Exame do presidente Jair Bolsonaro Foto: Reprodução

Ministros também fazem exames para coronavírus

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Após o presidente Bolsonaro afirmar ter sido diagnosticado com a covid-19, ao menos treze ministros que se encontraram com o presidente também fizeram exames. 

Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretária de Governo), Braga Netto (Casa Civil), Levi Mello (AGU), Marcelo Alvaro Antonio (Turismo), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Roberto Campos Neto (Banco Central) realizaram testes rápidos, que deram negativo.

Fernando Azevedo (Defesa), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), André Mendonça (Justiça) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) realizaram teste molecular, pelo método RT-PCR, e aguardam o resultado do exame. Mendonça também fez um teste rápido, que deu negativo.

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O teste RT-PCR de Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) deu negativo. 

O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL- GO), também se reuniu com Bolsonaro, mas em um encontro reservado fora da agenda. O parlamentar aguardava os resultados do exame do presidente para se submeter a um teste. Major Vitor Hugo e Bolsonaro almoçaram juntos no Palácio do Planalto em um encontro fora da agenda. O parlamentar entrou na lista de cotados para o Ministério da Educação.

Outros testes para covid-19  

O presidente, que já chamou a doença de “gripezinha” e disse ser resistente por ter “histórico de atleta”, já havia realizado três testes para detectar a covid-19. Os exames foram feitos em março, após Bolsonaro voltar de viagem oficial aos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. Pelo menos 23 pessoas da comitiva brasileira foram diagnosticadas pela doença.

Na ocasião, Bolsonaro anunciou que os resultados foram negativo, mas se recusou a mostrar os exames. Os documentos foram divulgados depois de o Estadão entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), para obrigar que informação fosse divulgada para a sociedade brasileira em nome do interesse público em torno da saúde do presidente.

A defesa do presidente entregou três exames. Dois deles, feitos no laboratório Sabin, estavam registrados em nome de outras pessoas, mas continham o CPF e a data de nascimento de Bolsonaro. 

Um terceiro, feito pelo laboratório Fiocruz, continha apenas “Paciente 05” como identificação, sem nenhum outro dado. O presidente disse que utilizou “codinomes” para fazer os testes e os laboratórios disseram não ter como comprovar que as amostras eram mesmo de Bolsonaro. 

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Bolsonaro critica governadores e prefeitos

Mesmo após confirmar ter sido um dos contaminados pela doença, Bolsonaro manteve o discurso crítico a medidas tomadas por governadores e prefeitos para tentar conter a disseminação do coronavírus.  

“Eu fui muito criticado pela minha posição no passado. O objetivo final do isolamento social não é dizer que você não vai contrair o vírus, é fazer com que esse vírus fosse diluído ao longo do tempo para evitar que houvesse um acúmulo em hospitais por falta de leitos de UTIs ou respiradores”, disse o presidente, que por diversas vezes desrespeitou orientações de organismos de saúde ao participar de manifestações e promover aglomerações em eventos que participou.

“Todo mundo sabia que mais cedo ou mais tarde ia atingir uma parte considerável da população. Eu, por exemplo, se não tivesse feito o exame não saberia do resultado, e ele acabou de dar positivo”, afirmou.

Encontro com o embaixador dos EUA

No sábado, 4, Bolsonaro foi à residência do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, com ministros e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República. Ele não usou máscara e se confraternizou com abraços, de acordo com imagens divulgadas pela Presidência da República. Na sexta-feira, 3 houve um almoço no Palácio da Alvorada com ministros e empresários - também com apertos de mão, abraços e sem máscara.

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