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É falso que vídeo mostre Jair Bolsonaro pedindo 'calma' a Adélio Bispo

Legenda falsa foi inserida em gravação para insinuar que atentado a faca contra o presidente foi encenado

Por Pedro Prata
Atualização:

É falso que um vídeo mostre o presidente Jair Bolsonaro (PL) pedindo "calma, Adélio (Bispo)", momentos antes de sofrer um atentado a faca. A gravação, feita momentos antes do ataque, em 2018, recebeu uma legenda falsa para sugerir que Bolsonaro teria ligação com o homem que o atacou e que o atentado seria encenação. O conteúdo do vídeo foi desmentido pela investigação da Polícia Federal (PF). Este conteúdo foi compartilhado ao menos 6,5 mil vezes no Facebook.

Peritos da Polícia Federal negaram que seja possível ouvir 'Adélio' no áudio. Foto: Reprodução

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A Polícia Federal abriu dois inquéritos para apurar o atentado contra Bolsonaro. Ambos concluíram que Adélio Bispo agiu sozinho. O delegado Rodrigo Morais Fernandes descartou a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou mesmo paramilitares.

As investigações da PF também analisaram peças de desinformação sobre o ocorrido que circularam nas redes sociais. Uma delas foi exatamente o vídeo em que pessoas na multidão teriam dito "calma, Adélio".

O vídeo foi submetido à perícia técnica da corporação. Os peritos concluíram que as falas devem ser consideradas "ininteligíveis" por causa do barulho de fundo. Apesar disso, afirmaram que outras palavras poderiam ser deduzidas dos trechos analisados, tais como "dele" ou a gíria "véio" (velho) em vez de "Adélio".

A PF apurou as circunstâncias do vídeo para saber se Adélio Bispo poderia ter recebido apoio de terceiros na execução do atentado. Foram ouvidos militantes, apoiadores e seguranças do presidenciável presentes na ocasião que disseram ter interagido com ele. Afirmaram que Adélio chegou a se indispor com os seguranças, pois tentava "insistentemente" se aproximar de Bolsonaro.

Reprodução do depoimento de simpatizante de Jair Bolsonaro presente no dia do atentado. Foto: PF/Reprodução

A conclusão do inquérito é de que "a dinâmica naquele momento" foi diferente da descrita no vídeo. "Em nenhum momento foi dita a palavra 'Adélio', sendo que as falas direcionadas a Adélio Bispo de Oliveira foram feitas por apoiadores da segurança, visando conter o ímpeto deste em se aproximar do candidato, que causava tumulto generalizado."

Confira abaixo o relatório final das investigações. O trecho referente a esta alegação começa na página 147.

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Inquérito PF Adélio

O atentado a faca contra o presidente Bolsonaro e os inquéritos decorrentes são alvo de desinformação nas redes sociais. O Estadão Verifica já desmentiu um vídeo que acusava emissoras de televisão de pagar pela defesa de Adélio Bispo.

O delegado responsável pelo caso havia afirmado que a única lacuna deixada pelas investigações foi quanto à "dúvida razoável acerca do real interesse dos advogados" de Adélio. Para isso, foram feitas buscas no escritório de advocacia responsável pela defesa, mas uma decisão liminar de um desembargador do 1º Tribunal Regional Federal à época impediu a análise do material coletado.

A Segunda Seção do TRF-1, em Brasília, derrubou a decisão liminar em novembro. Com isso, o delegado responsável reabriu a investigação. Ele quer saber se alguém pagou honorários do advogado de Adélio ou se ele assumiu a defesa do esfaqueador do presidente pela visibilidade do caso.


CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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