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Presidenciáveis se dividem sobre declarações de comandante do Exército

General Villas Bôas postou mensagem que foi interpretada de maneiras diferentes pelos pré-candidatos

Foto do author Adriana Ferraz
Por Caio Sartori , Marianna Holanda e Adriana Ferraz
Atualização:

Oito pré-candidatos à Presidência da República se manifestaram sobre as declarações do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que usou o Twitter na noite desta terça-feira, 3, para dizer que a instituição compartilha “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia.” A mensagem foi postada na véspera da votação do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal (STF).

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Cinco deles, a maioria, reagiram negativamente às declarações do general. Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PCdoB), contrários à prisão do ex-presidente, repudiaram o posicionamento do comandante. Para Boulos, a declaração expressa uma crise institucional no País. “Seguimos esperando posição da presidente do Supremo, dos presidentes das Casas Legislativas e de Temer. Até aqui um silêncio covarde”, escreveu. Na noite de ontem, ele já havia se posicionado sobre o caso com um questionamento: “O comandante do Exército está chantageando o STF e fazendo ameaças veladas? É isso mesmo?”.

Manuela seguiu a mesma linha de considerar antidemocrática uma interferência do Exército em assunto do Judiciário. Ao compartilhar um tuíte do companheiro de partido e governador do Maranhão, Flávio Dino, a pré-candidata disse que “é tempo de se fazer respeitar o Estado Democrático de Direito e a Constituição.” E apontou que a saída para a crise passa por “mais democracia, eleições diretas, respeito ao voto popular e às liberdades democráticas.”

Candidato do PDT e ex-ministro de Lula, Ciro Gomes disse em seu Facebook ter “convicção” de que o Exército, “na figura de seu comandante”, respeitará a Justiça. “O respeito à Constituição brasileira é fundamental se desejarmos manter a civilidade, recuperar a democracia e garantirmos a paz. Isso passa também pela garantia de que as decisões do Supremo Tribunal Federal serão respeitadas e obedecidas”, afirmou. Ciro é crítico da condenação de Lula, que diz ser "consistente".

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O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, no QG do Exército, em Brasília Foto: Dida Sampaio/Estadão

Favorável à prisão após segunda instância, a presidenciável da Rede, Marina Silva, disse nesta manhã que a fala do comandante do Exército “pode levar a interpretações erradas”.  Por meio de nota, disse que reitera seu compromisso com a democracia e a liberdade e que “nenhum perigo real ou imaginado pode justificar que isso seja roubado dos brasileiros”.

O recém-filiado ao MDB, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também deu a entender que não gostou da declaração de Villas Bôas. Ele disse que, como membro do Executivo, respeita a independência e a autonomia do Judiciário. "Eu espero que nos próximos dias o país vire uma página importante e caminhe junto para uma nova etapa da democracia", apontou.

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Do outro lado da polarização, os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Alvaro Dias (Podemos) endossaram o discurso de Villas Bôas. “O partido do Exército é o Brasil. Homens e mulheres, de verde, servem à Pátria. Seu Comandante é um Soldado a serviço da Democracia e da Liberdade. Assim foi no passado e sempre será. Estamos juntos General Villas Boas”, postou Bolsonaro nas redes sociais. O candidato do PSL é defensor de uma presença mais forte dos militares na política.

Álvaro Dias considerou a mensagem “oportuna” e disse que, se o STF for contra as “aspirações visíveis da sociedade brasileira contra a impunidade”, a República estará falida. “O general Vilas Bôas coloca o exército brasileiro em sintonia com o desejo do nosso povo de ver nascer uma nova justiça onde todos serão iguais perante a lei.”

O governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB disse não ver a declaração do general como um "recado", mas não criticou seu posicionamento. Para o tucano, "ele (Villas Bôas) expressou um sentimento da sociedade".

+++'Se for o que parece, outro 1964 será inaceitável', diz Janot

As declarações do general também repercutiram entre outros militares, que se botaram à disposição de Villas Bôas. Do outro lado, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e o presidente da OAB, Claudio Lamachia, condenaram uma eventual interferência do Exército no processo político.