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Sem Barbosa, especialistas veem poucas chances de um 'outsider' nas eleições

Saída do ex-ministro do STF deve fazer com que a disputa se concentre em nomes conhecidos

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

A decisão do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa de não ser candidato à Presidência da República encerrou aquela que parecia ser a jornada do outsider nas eleições de outubro. Para especialistas ouvidos pelo Estado, a desistência de Barbosa diminuiu as chances de uma 'surpresa' no cenário eleitoral.

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“Sobrou pouco espaço para surpresas na corrida presidencial. Como a janela de filiação partidária está fechada, é difícil imaginar que apareça alguém completamente novo”, disse o cientista político Cláudio Couto (FGV).

“Ser político profissional é um processo complicado. No sistema brasileiro, a vida do outsider é muito dura. Com a saída de Barbosa, estamos voltando para uma eleição mais convencional”, completou.

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Barbosa foi o segundo quase candidato a ganhar o carimbo de outsider. O primeiro foi o empresário e apresentador de TV Luciano Huck – que depois de idas e vindas colocou um ponto final nas especulações sobre sua eventual candidatura ainda em fevereiro.

“De fora, uma candidatura a presidente parece algo mais fácil do que ela é de fato. Não é uma tarefa para quem acha que pode. Não é uma tarefa para aventureiros”, comentou o também cientista política Humberto Dantas (USP).

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“Essas pessoas (os candidatos) são atacadas, têm a vida devassada...É um jogo de gente grande. Uma campanha é algo pesado e desgastante. Tem lombo de mula, buchada de bode...”, comentou o analista político Ibsen Costa Manso, da ICM Consultoria.

Para além das questões pessoais que, eventualmente, roubaram o ímpeto de Barbosa, Huck e de outros aspirantes à Presidência, especialistas apontam o nosso próprio sistema político como um “criador” de barreiras institucionais contra os não iniciados.

Para especialista, hiistórico dos partidos também acaba inviabilizando os chamados outsiders. Foto: Felipe Rau/Estadão

“O candidato precisa estar alinhado com quem detém o monopólio dos partidos. Se você não tem musculatura partidária, você não consegue ir adiante”, fala Vitor Oliveira, da agência Pulso Público. Para Oliveira, a recente reforma política criou ainda mais dificuldades para projetos de renovação.

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“O financiamento de campanha está na mão dos caciques partidários. Além disso, tem a questão do tempo de TV e das articulações estaduais. É muito difícil articular ou jogar esse jogo estando de fora das estruturas partidárias”, completou.

Leandro Machado, coordenador do Agora!, um dos movimento de renovação política que surgiram depois das jornadas de junho de 2013 e do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, reforça a ideia de que todo o arcabouço político é feito, justamente, para inibir movimentos de renovação.

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“Quando as candidaturas oriundas da sociedade civil não prosperam, os políticos de sempre respiram mais aliviados – porque sabem que isso significa menos debate e muito menos diferenças de pontos de vista na disputa eleitoral”, comentou. “Nesse sentido, a renovação, quando acontece, é apenas dentro de um mesmo feudo, de uma mesma estrutura familiar”, completou.

O histórico dos partidos também acaba inviabilizando os chamados outsiders. Para o professor Marco Antônio Teixeira (FGV) “um outsider sozinho não regenera uma legenda”. Para ele, as implicações de uma candidatura Barbosa, por exemplo, traria tensões internas ao PSB, como a questão da candidatura Márcio França para o governo do Estado de São Paulo (que prefere ver o seu partido alinhado ao ex-governador Geraldo Alckmin). “E, por outro lado, sem o Barbosa, o PSB pode ter problemas no Nordeste”, disse.

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Convencional

Com a saída de Barbosa (assim como na desistência de Huck), os especialistas esperam uma eleição mais convencional – e a consolidação de uma disputa já conhecida, com nomes e legendas que já estiveram (ou ainda estão) no poder.

“Ainda existe uma leve bruma, a sombra de uma busca por novidade. Mas, sem Barbosa ou outro outsider relevante, a eleição deve ser menos pulverizada – mesmo tendo em conta que a polarização entre PT e PSDB pode ser quebrada... Uma parcela dos votos que seriam de Barbosa deve ser redistribuída para o centro. Podem ir para o Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva ou Álvaro Dias”, falou Dantas.

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Já Oliveira acredita que os polos que já protagonizaram outras eleições consigam se rearrumar para o pleito de outubro. “Historicamente, PT e PSDB já tiveram 69% dos votos válidos em outras eleições presidenciais. Não é impossível imaginar que, nesse cenário, esses partidos consigam reunir ao menos 50% dos votos válidos – e, portanto, atinjam um segundo turno”.

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Para Teixeira, a saída de Barbosa deve beneficiar dois candidatos: Bolsonaro e Alckmin. “Bolsonaro vai retomar a exclusividade desse discurso mais punitivista. Por outro lado, Alckmin também vai respirar aliviado – já que uma candidatura Barbosa já começava a fazer sombra e ameaçava roubar votos do PSDB”, disse. “Agora, acredito que voltamos para o cenário eleitoral inicial – a diferença é que dessa vez a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva não parece fazer parte do jogo”, concluiu.

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