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'O promotor batia na mesa, gritava e ameaçava de prisão', diz babá

Priscila Sant Anna, que trabalhava para a filha de Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa e operador ligado ao PSDB preso na Lava Jato por supostos desvios de R$ 7,7 milhões entre 2009 e 2011, acusa promotor do Ministério Público de São Paulo de 'coação' em depoimento

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Por Luiz Vassallo
Atualização:

Ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza. Foto: ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO

Uma testemunha da Operação Lava Jato em São Paulo que mudou seu depoimento sobre desvios na Dersa atribuídos ao ex-diretor Paulo Vieira de Souza - suposto operador ligado ao PSDB - acusa um promotor do Ministério Público de São Paulo de tê-la coagido para confessar supostos crimes. Priscila Sant Anna, que foi babá de um neto de Vieira de Souza, confessou em 2016 ter participado de um esquema de desvios por meio de imóveis desapropriados para obras viárias. Em agosto do ano passado, à Polícia Federal, ela mudou sua versão sobre os fatos. A Procuradoria da República acusa o ex-diretor de ter ameaçado Priscila, que também é ré no processo. Em seu novo relato ela não citou o nome do promotor.

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 Foto: Estadão

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Vieira de Souza foi preso preventivamente na sexta-feira, 5, por suspeita de coagir uma outra mulher, acusada no processo que investiga desvio de recursos de R$ 7,7 milhões da Dersa, entre entre 2009 e 2011 (governos Serra e Alckmin).

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Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por formação de quadrilha, peculato e inserção de dados falsos em sistema público de informação. Os valores supostamente desviados são referentes a imóveis desapropriados pela Dersa para obras viárias.

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 Foto: Estadão

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Segundo a Procuradoria, diversos beneficiários das desapropriações são pessoas ligadas a Vieira de Souza. Uma delas é Priscila. Em 2016, ela confessou ao Ministério Público Estadual que foi indenizada sem ter nunca habitado o imóvel. Em 2017, à Polícia Federal, disse morar desde 2006 no local desapropriado.

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Ela justificou à Polícia Federal sua mudança de versão alegando que 'quando foi ouvida no Ministério Público Estadual ficou assustada pela pressão e havia comparecido sem advogado'.

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"Naquela oitiva o promotor batia na mesa, gritava e ameaçava de prisão a depoente e que por isso a depoente acabou concordando com tudo que ele falava."

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Naquele dia 25 de agosto de 2017, quando mudou sua versão à PF, ela estava acompanhada de um advogado.

Priscila foi questionada sobre quem estaria pagando sua defesa. Ele disse que 'entrou em contato com Tatiana e solicitou auxílio, pois quando foi ouvida no Ministério Público estadual ficou assustada pela pressão e havia comparecido sem advogado'. Tatiana Souza é filha do ex-diretor da Dersa.

Ao manter preso preventivamente o ex-diretor da Dersa na quarta-feira, 11, a juíza Maria Izabel do Prado, da 5.ª Vara Criminal Federal em São Paulo, afirmou que 'o risco à instrução criminal ficou também demonstrado pelas drásticas mudanças nos depoimentos da testemunha Priscila SantAnna Batista'.

Para a juíza, 'não se trata, portanto, de mera coincidência que a ré colaboradora tenha sido ameaçada por várias vezes e que esteja adotando medidas para sua própria proteção (mudança rotineira de local de residência) e que outra testemunha importante mude diametralmente seu depoimento em versão favorável aos réus Paulo Vieira de Souza e José Geraldo Casas Vilela'.

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Em outro inquérito, no Supremo Tribunal Federal, o ex-diretor da Dersa é apontado por executivos ligados à Odebrecht, à OAS e à Andrade Gutierrez como operador de propinas na Dersa. Os empresários afirmaram que ele pediu 0,75% de contratos para obras do Rodoanel, Trecho Sul, para abastecer campanhas do partido em 2010.

Em outra investigação, Vieira de Souza teve bloqueados R$ 113 milhões em quatro contas na Suíça - saldo de 7 de junho de 2016, correspondentes a 35 milhões de francos suíços.

COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO

A reportagem fez contato com o Ministério Público. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO FERNANDO ARANEO, QUE DEFENDE VILELA

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Para a defesa de José Geraldo Casas Vilela, representada pelo advogado Fernando Araneo, sócio do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados, esse fato, no mínimo, coloca em dúvida a manutenção da prisão de Casas, vez que foi citado como argumento tanto no despacho da juíza Maria Izabel do Prado, da 5ª Vara Criminal Federal em São Paulo, quanto pelo desembargador André Nekatschalow, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), ao negar a liminar no HC. "Ademais, não é aceitável a decretação de uma prisão fundada apenas nas declarações da delatora de que recebera ameaças há 3 anos", diz Araneo.

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