
16 de junho de 2020 | 13h28
RIO - Alvo de operação da Polícia Federal na nesta terça-feira, 16, o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) tem a polemização como modo de fazer política desde a eleição de 2018. Naquela ocasião, ficou conhecido por posar ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) e do governador Wilson Witzel (PSC) portando uma placa quebrada com o nome de Marielle Franco.
A cena emblemática se deu em Petrópolis, município da região serrana do Rio que é seu reduto eleitoral. A cidade, repleta de histórias do antigo Império, também serve de lar para outros causos da curta carreira política de Silveira.
Antes mesmo de ser diplomado deputado, em novembro de 2018, o parlamentar eleito resolveu “inspecionar” o Colégio Estadual Dom Pedro II e, depois, disse que a diretora da unidade havia “entregado as chaves do colégio para vagabundos” em 2016, durante manifestações do movimento estudantil. Não há provas que corroborem a versão dele; Silveira afirmou que o colégio é um lugar que "fede a marxismo cultural".
A diretora o processou. O caso corre na esfera cível na comarca de Petrópolis e também gerou uma queixa-crime no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mesmo com o processo, Silveira não parou de tentar “fiscalizar” unidades de ensino. Em outubro do ano passado, ele e Amorim almejaram entrar numa unidade do Colégio Pedro II, de competência federal, na zona norte do Rio. Foram alvo de protesto dos alunos, que lembraram do ato envolvendo a placa de Marielle.
Consultoria misteriosa
Na semana passada, a revista Época mostrou que Silveira contratou uma consultoria de R$ 110 mil para a elaboração de projetos legislativos, mas não apresentou os comprovantes ou qualquer justificativa sobre os serviços prestados. A Câmara tem um serviço próprio de consultoria para esse tipo de atividade disponível a todos os parlamentares.
A sede da consultoria é em Petrópolis, e a data de contratação dela pelo deputado foi registrada um dia antes da própria criação da empresa, segundo a revista.
Quando duas manifestações - a favor e contra o presidente Jair Bolsonaro - dividiam a orla de Copacabana há três domingos, o Estadão revelou uma cena preocupante. Silveira fazia uma transmissão ao vivo dos atos e resolveu se aproximar do cordão de isolamento que dividia os dois grupos. Quando pediu a um policial para deixar que ele se aproximasse dos manifestantes pró-democracia e contrários a Bolsonaro, ouviu do PM que ele já havia mandado “queimar aquela bandeira ali”. Em resposta, o deputado assentiu e comemorou a iniciativa.
A PMERJ disse que investigaria o caso, mas até agora não disse se o agente foi identificado e punido.
Silveira foi da Polícia Militar do Rio por cerca de sete anos, até 2018. Tem bom trânsito na corporação e se orgulha da farda: no Twitter, exibe a sigla PMERJ no nome.
No mesmo dia da manifestação, pouco depois, o deputado postou um vídeo em que afirma que há muitos agentes armados participando de manifestações pró-Bolsonaro. E que torce para um dos críticos do presidente tomar um tiro “no meio da caixa do peito”.
Não parou por aí: disse que ele mesmo gostaria atirar contra um opositor. "Eu tô torcendo para isso. Quem sabe não seja eu o sortudo. Vocês me peguem na rua em um dia muito ruim e eu descarregue minha arma em cima de um filho da puta comunista que tentar me agredir. Vou ter que me defender, não vai ter jeito. E não adianta falar que foi homicídio, foi legítima defesa. Tenham certeza: eu vou me defender."
Silveira foi o único político com foro no Supremo alvo da operação desta manhã. O foco desse inquérito tocado pelo ministro Alexandre de Moraes é a convocação para atos antidemocráticos, que pregaram o fechamento dos Poderes.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de um inquérito para apurar "fatos em tese delituosos envolvendo a organização de atos contra o regime da democracia participativa brasileira" no dia 20 de abril. O pedido do PGR foi acatado por Moraes, sorteado como relator.
O deputado nunca disfarçou alguns de seus pensamentos inconstitucionais. No Twitter, por exemplo, já defendeu várias vezes, desde o início do mandato, o fechamento do STF.
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