‘Não sou o candidato do mercado financeiro,’ afirma João Amoêdo

Com passagem pelo Unibanco e Itaú-BBA, pré-candidato a presidente pelo Novo diz que a mudança não virá de grupos empresariais

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Por Daniel Weterman
Atualização:

Pré-candidato a presidente pelo Novo, João Amoêdo rejeita o rótulo de “candidato do mercado financeiro”. Com passagem pelo Unibanco e Itaú-BBA e tendo o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco como formulador de seu plano de governo, Amoêdo diz que a mudança não virá de grupos empresariais.

João Amoêdo no escritório do Novo, no Rio de Janeiro Foto: Fábio Gonçalves/Estadão

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O senhor se apresenta como pré-candidato defendendo autonomia do Banco Central. Qual modelo é o ideal?  Ainda estamos desenhando a proposta melhor, mas a primeira coisa que entendemos é que os mandatos deveriam ser desvinculados. O mandato do presidente do Banco Central seria de quatro anos, renováveis por mais quatro, mas começaria no meio do mandato do presidente da República. Ainda seria por nomeação do presidente e avaliação do Senado como é hoje, mas gostaríamos de uma avaliação bem rígida pelo Senado. Não conversei com ele, mas implementaríamos já colocando o Ilan (Goldfajn) por mais dois anos. O fato do mandato ser alternado daria uma independência muito maior para o mandatário do Banco Central.

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Como avalia a política adotada pelo comando do BC atualmente? É favorável ao Banco Central ter duplo mandato?  Eu gosto da política implementada atualmente de combate à inflação e proteção da moeda. Eu entendo que o mandato principal do Banco Central tem que ser a preservação da moeda brasileira. Eu não gosto da ideia de ter mais de um mandato porque isso não é a regra da maioria dos países, então o Banco Central deveria ficar restrito à proteção da moeda e às atividades de fiscalização dos bancos.

A sua proposta é privatizar todas as estatais brasileiras. Isso seria feito já no primeiro ano e por quais companhias começaria?  Já. As mudanças que o Brasil precisa fazer devem ser feitas logo de imediato, enquanto você tenha o endosso das urnas, pela credibilidade no processo e até pela necessidade de mudanças que o País tem, então eu faria isso logo. Obviamente, você tem que mensurar a forma como isso vai ser feito, estudar os melhores modelos, mas a ideia é programar e implementar o quanto antes. Por onde começaria, temos que avaliar lá na frente.

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E os bancos?  O Banco do Brasil e a Caixa também deveriam ser privatizados, agora vamos ver o formato dessa privatização. No meu entender, não tem sentido o governo ter bancos, atuar no setor financeiro.

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Como vê a política econômica do atual governo? O que mudaria?  Tem algumas coisas que são positivas, como o teto dos gastos. Acho que a gente pode melhorar a reforma trabalhista. Uma coisa que tem que ser feita de imediato é a reforma da Previdência, porque se não a regra de ouro muito provavelmente será descumprida em 2019. No governo Temer, as medidas econômicas estão bastante razoáveis, o problema é como isso tem sido aprovado, uma negociação muito no fisiologismo do Congresso, no toma lá dá cá. Isso traz um ônus muito grande na aprovação das medidas e acaba tirando credibilidade de algumas delas. O que faríamos é dar o exemplo cortando privilégios, custos, quantidade de assessores e verbas de gabinete. Ter uma vida mais simples mostra para a população que a gente é coerente, que respeita o dinheiro do pagador de impostos e consequentemente, ao fazer isso, você ganha credibilidade e as propostas ficam mais fáceis de serem aprovadas.

Qual reforma da Previdência defende? Aquela originalmente proposta pelo presidente Michel Temer?  A proposta que foi apresentada pelo governo é um passo na direção do que precisa ser feito, mas a forma como ela está demanda uma nova reforma para frente. Ainda estamos estudando isso para ter um detalhamento. O principal é ter um equilíbrio nas contas partindo do pressuposto que tem mais gente envelhecendo e menos gente entrando no mercado. Tem que ter uma idade mínima para aposentadoria, não pode ser uma reforma que será desgastante e logo em seguida, em dois ou três anos, ter que enviar uma nova reforma para o Congresso.

Mas como aprovar sem o "toma lá da cá" no Congresso e sem o apoio da população?  A forma de fazer isso é durante o processo eleitoral, sendo transparente com o eleitor. Vamos deixar muito claro o que pretendemos fazer, quais são os ganhos, quais são as perdas. Se você não for transparente com o eleitor, vai ficar dependendo de fazer acordos para convencer a base política a votar a seu favor. Se você for transparente com ele, vai haver endosso e fica muito mais fácil de aprovar. É um roteiro diferente do que está sendo feito.

Por enquanto esse modelo ainda não funcionou.  Mas vamos mostrar para a população que os resultados desse roteiro feito no passado são muito ruins porque a pessoa fala uma coisa, não faz o que precisa ser feito ou faz diferente e o resultado é que a população fica desempregada, os impostos são elevados, os serviços públicos não funcionam. Então, todo esse roteiro tem um preço, por isso que precisamos mudar o roteiro para ter um resultado diferente.

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O seu governo daria incentivos fiscais para empresas?  Eu não gosto da ideia de dar incentivos fiscais, dar subsídios para as empresas, porque sempre quando se faz isso a conta vai para o bolso do cidadão. O objetivo do Novo é primordialmente proteger o bolso do cidadão brasileiro, fazer com que ele pague menos impostos e tenha mais liberdade. O que temos de fazer é não atrapalhar as empresas, não criar regras excessiva e burocracias para que elas possam se desenvolver. Liberdade econômica e menos intervenção do Estado fazem com que as pessoas tenham facilidade maior para empreender, o que aqui no Brasil é muito difícil. Um dado importante é de fato equilibrar as contas públicas para que o custo de capital, que é um insumo importante para quem quer abrir um negócio, seja mais baixo.

O senhor é considerado "o candidato do mercado". Aceita essa relação?  Se o mercado é visto como um grupo de cidadãos que querem liberdade, se o mercado é identificado como um grupo de indivíduos, eu acho muito boa (a associação). Se o mercado é identificado como segmento de atuação, um segmento específico da economia, não acho que seja verdadeiro. Nosso propósito genuinamente é privilegiar e ajudar grande parte da população brasileira a conseguir se desenvolver.

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o candidato do mercado vai perder as eleições. Concorda com ele?  Não sei muito o que ele quer dizer com candidato do mercado, se é do mercado financeiro, se é do mercado de imóveis. Eu concordo que vai perder se é do mercado de algum plano. Mas se é o candidato do cidadão, aí eu discordo porque do candidato do governo a gente já está cansado. O candidato do governo, do Estado em geral, do status quo, que protege essa carga tributária enorme, que dá ao Estado todo esse poder, não é o que a gente quer. A gente quer o candidato da população.

A sua pré-candidatura é eventualmente colocada no mesmo campo de Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e Geraldo Alckmin. Quais são as diferenças?  Tem várias diferenças. Todos eles vêm dos partidos tradicionais que estão aí há muito tempo, que fazem coligação, que não necessariamente defendem as privatizações, como é o caso do Alckmin. Eles vêm do próprio sistema, sempre viveram ou viverão às custas do Estado. Eu sempre estive do outro lado da mesa, pagando o salário deles e a constatação foi que eu estou cansado de pagar o salário dessa turma e receber tudo que a gente recebe em troca.

O Novo fará aliança com algum outro partido?  Vai ser muito difícil o Novo se coligar porque os partidos em geral querem manter esse roteiro atual. A coligação é feita em cima de tempo de televisão, privilégios e benefícios, que é o contrário do que o Novo defende. Estamos pensando em um nome para vice, queremos definir isso nas próximas semanas.

Há uma grande expectativa sobre o destino do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição. Acredita que ele será preso?  Eu espero que ele seja preso para que a gente não demonstre no Brasil que a impunidade está vigorando. É um ex-presidente que deveria ter tido uma postura ética e honesta e na verdade acabou se envolvendo em delitos que fizeram com que ele fosse condenado. Deveríamos até ser mais rígidos em casos como esse, e não mais brandos. Espero que o Supremo mantenha a prisão após a decisão em segunda instância. O Brasil precisa disso para melhorar o nível de segurança da população, nós precisamos dar o exemplo de que quem é criminoso vai para cadeia.

Com o Lula fora da disputa, pesquisas mostram o deputado Jair Bolsonaro na frente. Como o senhor avalia o cenário?  O cenário ainda está muito aberto. A população ainda está se posicionando, esse processo vai estar na agenda do brasileiro mais à frente. Acredito que as coisas certas sempre têm que ser feitas, a consequência depois você avalia. O certo, no meu entender, é que o ex-presidente Lula seja preso de fato.

O senhor acredita que realmente pode se eleger presidente?  Tenho total confiança, basicamente por que o Brasil quer mudanças. Eu não enxergo em nenhum dos postulantes que nós temos hoje uma mudança de estrutura do que a gente tem no Brasil. Quase a totalidade são pessoas que estão há muitos anos na política, não fizeram as mudanças que precisavam ser feitas, pelo contrário, o processo político só veio piorando. Há uma demanda natural e clara nas pesquisas por renovação. O nosso único e maior desafio é tornar essa ideia conhecida. A gente já sabe que a aceitação é grande.

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Com as eleições se aproximando, pretende sair dos debates dos meios empresarial e acadêmico e ir para a rua conversar com as pessoas?  Eu já saí. Estava na faculdade em Manaus, Belém e Boa Vista. Fui a Ribeirão Preto, a Recife. A partir desta semana estarei em Natal, depois Maceió, João Pessoa, Londrina, interior do Rio de Grande do Sul. Essa conversa com as pessoas já temos feito nas redes sociais e fisicamente. A grande mudança não virá dos grandes grupos empresariais, a grande mudança virá justamente da população que está desempregada, que tem uma escola ruim, que não consegue levar o filho no posto de saúde. É esse o público que a gente está procurando falar.

Pelas regras eleitorais, o partido não será obrigatoriamente chamado para os debates no rádio e na TV. Isso dificulta?  Eu conto que a gente terá mais de 5% nas pesquisas e será chamado nos debates. Acho que isso será um caminho natural pela demanda das pessoas por renovação. Espero que as emissoras deem esse espaço.