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Câmara articula convocação de general Heleno

Com apoio de Maia, deputados querem 'enquadrar' ministro que defendeu Eduardo Bolsonaro após declaração sobre AI-5

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Por Mariana Haubert e Carmila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA - Uma articulação política de bastidores, na Câmara, pode resultar na convocação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, para que ele explique declarações dadas ao Estado, na semana passada, quando saiu em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao se referir à necessidade de conter uma possível “radicalização” da esquerda no País com “um novo AI-5”. O movimento para “enquadrar” Heleno tem o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Ao cumprir agenda em Pernambuco, nessa segunda-feira, 4, Maia lembrou que há um pedido de convocação do ministro, feito pelo deputado Orlando Silva (PC do B-SP), para que ele esclareça suas afirmações. “Infelizmente, o general Heleno virou um auxiliar do radicalismo do Olavo. É uma pena que um general da qualidade dele tenha caminhado nessa linha”, disse o presidente da Câmara, em Jaboatão dos Guararapes, numa referência ao escritor Olavo de Carvalho, classificado como guru do núcleo ideológico do governo. “Acho que a frase dele (Heleno, sobre novo AI-5) foi grave. Além disso ainda fez críticas ao Parlamento, como se o Parlamento fosse um problema para o Brasil.”

O ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno, durante simulação de ataque ao presidente Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O pedido de convocação de Heleno deve ser apreciado nesta terça-feira, 5, em reunião de líderes de partidos e, segundo apurou o Estado, tem chance de ser aprovado. Caso isso ocorra, Heleno será obrigado a comparecer ao plenário da Câmara em um momento em qual o PSL, partido de Bolsonaro, está rachado e não tem disposição de formar uma “tropa de choque” para apoiá-lo.

“Um ministro palaciano tem de ser mais cuidadoso com o que fala”, afirmou Silva ao Estado. “A declaração é ainda mais grave pelo fato de ele ser um general da reserva. Muita gente imagina que se trata de uma manifestação com respaldo nas Forças Armadas e eu tenho certeza de que não é. Não se brinca com democracia”, disse o deputado.

Na entrevista concedida ao Estado, por telefone, no último dia 31 - e gravada -, Heleno não repudiou a possibilidade de “um novo AI-5”. Instituído pela ditadura militar em 1968, o Ato Institucional n.º 5 foi um dos mais duros daquele período, pois revogou direitos, suspendeu garantias constitucionais e delegou ao chefe do Executivo o poder de cassar mandatos parlamentares. “Não ouvi ele (Eduardo Bolsonaro) falar isso. Se falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter”, afirmou Heleno.

Ouça aqui o que Heleno disse:

Diante da repercussão negativa, o próprio Eduardo recuou de suas afirmações e pediu desculpas. Antes, o presidente Jair Bolsonaro chegou a desautorizar o filho, sob o argumento de que quem fala em AI-5 só pode estar “sonhando”. Logo depois, no Twitter, Heleno disse que suas afirmações haviam sido deturpadas. “Lamentável. AI-5 é coisa do passado”, escreveu o general.

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Para o autor do requerimento de convocação, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional terá a “oportunidade” de se “explicar” ao plenário da Câmara. “O ministro diz que a imprensa mente ou altera o sentido das palavras ditas por autoridades do governo. Ele terá a chance de se explicar, dizer o que significa ‘estudar’ a proposta absurda de Eduardo Bolsonaro de reeditar um novo AI-5 e dar loas à democracia”, afirmou Silva, sem esconder uma pitada de ironia.

Reação de Maia

Aliados de Bolsonaro estranharam na segunda-feira a irritação de Maia com Heleno, que é um dos principais conselheiros do presidente, e até mesmo com Eduardo. Em conversas reservadas, dois parlamentares do PSL disseram que o ministro não tem qualquer relação com Olavo. O próprio presidente manifestou incômodo com o fato de Maia ter voltado a criticar as atitudes de seus filhos e também o governo. 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia Foto: Dida Sampaio / Estadão

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Na semana passada, Maia divulgou nota na qual considerou as declarações de Eduardo “repugnantes” e mencionou até mesmo a possibilidade de punição. “A apologia reiterada a instrumentos da ditadura é passível de punição pelas ferramentas que detêm as instituições democráticas brasileiras. Ninguém está imune a isso. O Brasil jamais regressará aos anos de chumbo”, destacou o presidente da Câmara.

Líderes de 18 partidos da oposição entraram com queixa-crime contra Eduardo no Supremo Tribunal Federal na semana passada. Ontem, a Rede Sustentabilidade entrou com representação no Conselho de Ética da Câmara, pedindo a cassação do deputado do PSL.

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