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Críticas de Cid Gomes ampliam isolamento do PT

Irmão de Ciro Gomes expõe mal-estar entre as siglas de esquerda; campanha Haddad vê como cada vez mais remota a possibilidade de uma frente contra Bolsonaro

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Foto do author Daniel  Weterman
Por Ricardo Galhardo , Daniel Weterman e Renan Truffi
Atualização:

A pouco mais de uma semana da votação em segundo turno, as críticas do senador eleito Cid Gomes (PDT) – irmão de Ciro Gomes – ao PT expuseram o mal-estar na esquerda e fizeram com que a campanha de Fernando Haddad se resignasse com a cada vez mais remota possibilidade de atrair o apoio de uma frente de partidos na disputa contra Jair Bolsonaro (PSL).

Até o momento a campanha de Haddad vive um isolamento no campo ideológico e conquistou adesões protocolares entre siglas de esquerda (PCB, PSB, PSOL) que não estavam coligadas com o PT no primeiro turno. O PDT, principal cobiça, porém, anunciou apenas um “apoio crítico”.

Cid Gomes, senador eleito pelo PDT-CE Foto: Reprodução

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Em ato realizado em Fortaleza (CE), na noite desta segunda-feira, 15, Cid disse que o PT deveria fazer uma autocrítica e assumir que fez “muita besteira” para não “perder feio” de Bolsonaro. O pedetista foi vaiado pela plateia, que começou a gritar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato

Nesta terça-feira, em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele reiterou as críticas. “Se tem uma possibilidade de reversão desse quadro (liderança de Bolsonaro), extremamente avesso ao Haddad, que eu considero o melhor candidato, é a gente ir no nó da questão, que é essa ânsia, essa raiva, essa vingança, que boa parte dos brasileiros tem em relação ao PT”, disse. “Penso que a única forma de se contrapor a esse sentimento é desvincular. É um pedido de desculpas, é o reconhecimento de erros (por parte do PT).”

A reação de Haddad foi tentar minimizar o episódio – que foi explorado por Bolsonaro em seu programa eleitoral na TV. “Uma coisa meio acalorada, não vou ficar comentando isso até porque eu tenho uma amizade com o Cid, ele fez elogios à minha pessoa”, disse o petista. 

Após o primeiro turno, o PT esperava formar o que chegou a ser chamado de “frente democrática” contra Bolsonaro. Ao atrair apoio de outros partidos e de parte da sociedade civil, a campanha buscava criar um caráter suprapartidário para defender a eleição de Haddad. 

A principal expectativa da campanha petista era atrair Ciro no segundo turno. Porém, o ex-presidenciável do PDT viajou para a Europa e não aceitou chefiar a equipe do programa econômico do petista. Ele também não deverá subir no palanque com Haddad, muito menos fazer fotos para indicar o “apoio crítico”, aprovado em reunião da executiva nacional do PDT na semana passada.

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Não foi o único contratempo enfrentado até agora pela campanha do PT. Haddad tentou se aproximar do ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. O ex-relator do processo do mensalão na Corte, contudo, não se comprometeu com um apoio público ao petista. Barbosa se filiou ao PSB e chegou a ensaiar uma candidatura ao Palácio do Planalto, mas recuou. 

Não houve avanço também na aproximação do partido com integrantes do PSDB, com quem o PT polarizou a disputa eleitoral nos últimos anos. Em entrevista ao Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que não aceitava “coação moral” dos que agora buscam seu apoio. 

Diante das críticas de Cid Gomes, o articulador político da campanha de Haddad à Presidência, Jaques Wagner, disse que aposta em um apoio da sociedade, sinalizando que não conta mais com a ampliação de acordos com outros partidos.

Para Wagner, as críticas de Cid Gomes foram feitas “no calor da campanha” e já é suficiente contar com o “apoio crítico” do PDT. “As pessoas vão votar já. O Fernando Henrique diz que não vota no outro, o Ciro já disse que não vota no outro.”

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Em conversas reservadas, alguns dirigentes do PT afirmam que os ataques de Cid somados às declarações recentes do presidente do PDT, Carlos Lupi, e à viagem de Ciro para o exterior seriam movimentos que visam definir o papel do PDT. A avaliação é que a sigla quer demarcar diferenças em relação ao PT por um protagonismo na oposição em eventual governo Bolsonaro.

A análise também é feita entre os pedetistas em relação ao PT. Ao Estadão/Broadcast, Cid afirmou que parte do PT já deu por perdida a disputa presidencial no segundo turno das eleições e está “se lixando” para Haddad. “Eles (petistas) querem ser hegemônicos inclusive na oposição. Boa parte da companheirada aí já deu por perdido (o segundo turno) e está pensando nisso, em ser hegemônico na oposição. Estão se lixando para o Haddad.” / COLABOROU MATHEUS LARA

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