SALVADOR - Enquanto deixa de fora de sua chapa à reeleição partidos de esquerda e tradicionais apoiadores, como PSB e PCdoB, o governador Rui Costa mantém como aliados PP e PSD, legendas que nacionalmente apoiaram o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT). Juntas, as legendas foram responsáveis por 67 votos na Câmara dos Deputados e nove no Senado a favor da deposição de Dilma. Na Bahia, contudo, as legendas têm mantido fidelidade ao projeto petista.
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Crítico ao uso da palavra "golpe" no discurdo petista para se referir ao processo de impeachment – o que inclusive já causou desentendimento público com a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann –Rui Costa tem repetido que é preciso manter "equilíbrio entre vermelhos e azuis” em sua aliança. Ele se refere à composição entre partidos de centro-esquerda e centro-direita na chapa que o elegeu em 2014 e por duas vezes (em 2006 e em 2010) levou ao Palácio de Ondina seu antecessor no cargo, o ex-ministro Jaques Wagner.
Costa escolheu para compor sua chapa o atual vice-governador do Estado, João Leão (PP), e o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Ângelo Coronel (PSD), que serão, respectivamente, candidatos a vice e a senador na chapa liderada pelo PT baiano – e que também contará com o ex-ministro e ex-governador Jaques Wagner (PT) na outra vaga para o Senado. A senadora Lídece da Matta (PSB), que postula a reeleição, ficou de fora da chapa.
"Depois daquela eleição de 2014, em que ninguém acreditava na vitória de Rui contra Paulo Souto (candidato do DEM) e na minha vitória para o Senado contra Geddel (Vieira Lima, então candidato do MDB ), mas nós o apoiamos mesmo assim e fomos até o final, eu, o governador e Leão ficamos muito próximos, muito unidos”, afirmou o senador Otto Alencar, que comanda o PSD baiano.
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Tanto Alencar quanto Leão foram alçados à política por meio do carlismo – grupo político que durante décadas dominou a política baiana sob o comando do ex-senador Antônio Carlos Magalhães e do qual o PT foi um dos principais opositores. Hoje, porém, Alencar defende fidelidade aos “amigos” , como se refere a Rui e Leão em conversas informais.
Já João Leão diz que “nunca foi direitista” e tem, atualmente, “uma relação pessoal, de confiança e de lealdade” com Costa e Alencar. “Estamos juntos. É uma relação pessoal. Agora eu nunca fui direitista nem do carlismo, eu fiz uma aliança política na época”, disse.
Sustentação. Para além da "amizade", PP e PSD garantem ao governador sustentação política ao governador Além da Assembleia Legislativa e da União dos Prefeitos da Bahia, conquistados com apoio do Palácio de Ondina, o PSD ainda comanda as secretarias de Infraestrutura e de Desenvolvimento Urbano. Já o PP tem a secretarias de Planejamento – que já foi acumulada pelo próprio vice-governador – e de Infraestrutura Hídrica e Saneamento. No interior, PSD garante a Costa o apoio de quase 90 prefeitos do PSD e o PP, de 54.
No processo de impeachment, quando as duas legendas votaram majoritariamente contra a então presidente Dilma Rousseff, João Leão e Otto Alencar mantiveram-se fiéis ao PT baiano – contrariando os presidentes nacionais de PP e PSD, Ciro Nogueira e Gilberto Kassab, respectivamente, que foram favoráveis à derrubada da petista da presidência da República e apoiam até hoje o governo Michel Temer.
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Na Câmara, todos os cinco deputados da bancada baiana do PSD seguiram Alencar e baianos foram contra a deposição da presidente petista. Já o PP da Bahia ficou dividido. Dos quatro deputados federais baianos, dois se abstiveram e dois votaram contra a deposição. Roberto Muniz, único senador baiano do sigla, foi contra o impedimento.
"No momento mais crítico institucional que o PT passou, eles foram fiéis à nossa política nacional contra o golpe. Os parlamentares garantiram a manutenção dessa relação, que vem desde o governo (Jaques) Wagner. É uma relação de cumplicidade política”, avalia o presidente do PT da Bahia, Everaldo Anunciação.