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Pastor Everaldo organizou 'caixinha' de propinas dividida com Witzel e tentou 'alinhar discurso' com delator, diz Procuradoria

Ministério Público Federal acusa o pastor de liderar 'um dos grupos criminosos influentes nos Poderes Executivo e Legislativo do Rio de Janeiro' e agir em uma 'sofisticada teia de relações' que envolve pessoas físicas e jurídicas

Foto do author Pepita Ortega
Por Pepita Ortega , Rafael Moraes Moura , Paulo Roberto Netto , Fausto Macedo/SÃO PAULO , Breno Pires/BRASÍLIA e Caio Sartori/RIO
Atualização:

Preso nesta sexta, 28, o pastor Everaldo Dias Pereira organizou uma 'caixinha' abastecida por propinas que era dividida com o governador do Rio, Wilson Witzel. Além disso, ele também tentou 'alinhar discurso' com o delator e ex-secretário de Saúde do Rio Edmar Pereira para obstruir as investigações.

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As acusações constam na decisão do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, que autorizou a prisão de Everaldo nesta sexta, 28, e na representação enviada pela subprocuradora-geral Lindôra Araújo à Corte. Segundo as investigações, Everaldo lidera 'um dos grupos criminosos influentes nos Poderes Executivo e Legislativo do Rio de Janeiro'.

"À luz dos elementos colhidos até o momento, observa-se que Pastor Everaldo instituiu uma espécie de 'caixinha única' para pagamentos de vantagens indevidas a agentes públicos da complexa organização criminosa sob investigação, a partir do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um 'pedágio' sobre a destinação dos 'restos a pagar' aos fornecedores, criando uma típica estrutura sofisticada e perene e com detalhada divisão de tarefas", apontam os investigadores.

Para 'administrar' a caixinha, Everaldo teria criado uma 'típica típica estrutura ramificada de organização criminosa, com divisão de tarefas entre os demais integrantes do grupo'. A divisão dos repasses foi instituída da seguinte forma: 30% dos valores seriam para Edmar Santos, 20% para Witzel, 20% para o próprio Pastor Everaldo, 15% para Edson da Silva Torres e 15% para Victor Hugo Barroso, apontados respectivamente como operadores administrativo e financeiro do pastor.

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Pastor Everaldo foi preso nesta sexta-feira, 28 Foto: Alexandre Blum/Estadão

O Pastor Everaldo, segundo a Procuradoria, também tentou 'alinhar o discurso' com Edmar Santos após sua saída do governo, em maio deste ano, em meio às denúncias de fraudes na licitação para a compra de respiradores no valor de R$ 3,9 milhões. O objetivo do diálogo, segundo o MPF, seria criar uma versão que justificasse os atos ilícitos praticados pela organização criminosa.

"Por volta do dia 19 e 20 de maio, o colaborador foi chamado à sede do PSC por Pastor Everaldo e, lá chegando, também estava presente Victor Hugo. Eles estavam preocupados com uma possível delação de Gabriell Neves, que já estava preso naquele momento", afirma a Procuradoria, citando delação de Edmar Santos. "Pastor Everaldo informou a necessidade de um alinhamento dos discursos, indicando por exemplo a criação de um álibi para o colaborador historiar a sua relação com Edson Torres, entre outras narrativas".

Edson Torres era o operador administrativo de Everaldo, segundo o MPF, e operava empresa chefiada por um 'laranja' para obter ganhos ilícitos para o pastor. Um dos contratos teria sido firmado com o DER/RJ.

Edmar Santos também delatou que, no dia em que foi exonerado, um dos filhos do Pastor Everaldo, Filipe Pereira, o procurou por telefone. "O colaborador não chegou a falar com Filipe Pereira. Após cessarem as ligações de números conhecidos, passaram a ocorrer enxurradas de ligações de números desconhecidos, de origens diversas", aponta trecho da delação de Edmar mencionada na decisão judicial.

"O colaborador Edmar Santos ainda asseverou dois aspectos que chamam a atenção: as afirmações de Pastor Everaldo de que todas as questões do grupo que comanda terem o aval do governador Wilson Witzel e o fato ocorrido previamente à deflagração da assim chamada 'Operação Placebo', referente a R$ 15.000.00 em espécie de posse de Pastor Everaldo, que teriam sido entregues pelo governador a ele ante o temor de buscas e apreensões no Palácio Laranjeiras", apontam os investigadores.

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O delator já havia dito à PGR ter sido ameaçado período em que esteve preso no Batalhão Especial Prisional de Niterói, antes de acertar o acordo de delação e deixar a cadeia. Segundo Edmar Santos, um homem que se apresentou como 'tenente Cabana', que seria ligado ao Pastor Everaldo, o abordou para recomendar uma troca de advogado, a fim de que ele não fosse abandonado pelo 'grupo'. Santos interpretou o aviso como ameaça para que ficasse calado.

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Nome forte e influente no Rio, o MPF aponta que Pastor Everaldo 'comanda várias contratações e orçamentos na CEDAE, no DETRAN e na pasta da Saúde' fluminense 'como se proprietário fosse'. A suposta organização criminosa conta 'sofisticada teia de relações' que envolve pessoas físicas e jurídicas.

O operador do esquema do pastor seria Victor Hugo Barroso, responsável pela contabilidade paralela, cooptação de agentes públicos e privados e indicação de organizações sociais que deveriam ser contratadas pelo governo.

A Procuradoria também aponta que Victor Hugo Barroso teria contado com um 'informante' preso na mesma cela de Gabriell Neves, subsecretário-executivo da Saúde no Rio, para monitorá-lo caso 'entrasse em desespero e resolvesse falar sobre os esquemas'. Teria sido o grupo do pastor o responsável pela sua indicação ao cargo no governo.

Os pagamentos de propinas coordenados por Victor Hugo Barroso a Edmar Santos, segundo as investigações, foram realizados por meio de quantias em dinheiro, entrega de cartão de crédito pago por terceiros e custeio de uma viagem particular. O operador também é acusado de manter offshores no exterior e declarar seu endereço de residência em Montevidéu, no Uruguai.

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Dois filhos de Everaldo, Filipe e Laércio Pereira, também presos nesta sexta foram acusados de integrar o esquema por meio de 'várias pessoas jurídicas e sociedades com outros membros da organização'. Filipe era assessor de Witzel.

"A empresa EDP Corretora de Seguros, que tem como sócios Pastor Everaldo e os filhos, Laércio Pereira e Filipe Pereira, realizou dezenas de depósitos em espécie, em valor fracionado, de modo a dissimular o total da movimentação, em atividade típica de lavagem de capitais", aponta o Ministério Público Federal.

Outra transação suspeita envolvendo a família de Everaldo é referente à compra de um imóvel por R$ 400 mil quando avaliação fiscal apontava que o valor real seria três vezes superior. Parte do pagamento, cerca de R$ 35 mil, teria sido feito em espécie.

COM A PALAVRA, O GOVERNADOR WILSON WITZEL Em nota, o governador afirmou: "A defesa do governador Wilson Witzel recebe com grande surpresa a decisão, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis". Em pronunciamento o governador afastado se disse 'indignado' e 'vítima de perseguição política'. COM A PALAVRA, O PASTOR EVERALDO O Pastor Everaldo informa que, no dia 19 de agosto, encaminhou petição ao STJ solicitando para ser ouvido. Na manhã desta sexta-feira, foi surpreendido com sua prisão e com a busca e apreensão realizadas em seus endereços. Após ser preso, o Pastor Everaldo pediu para ser ouvido ainda hoje. O depoimento, no entanto, só deve acontecer na próxima segunda-feira, dia 31. O Pastor Everaldo reitera sua confiança na Justiça. COM A PALAVRA O PSC O ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional do PSC, assume provisoriamente a presidência da legenda. O calendário eleitoral do partido nos municípios segue sem alteração. O PSC reitera que confia na Justiça e no amplo direito de defesa de todos os cidadãos. O Pastor Everaldo sempre esteve à disposição de todas as autoridades, assim como o governador Wilson Witzel. COM A PALAVRA, O DEPUTADO ANDRÉ CECILIANO O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano, está acompanhando os desdobramentos da Operação Tris in Idem e seus impactos na governança do Estado do Rio de Janeiro. Ceciliano desconhece as razões da busca e apreensão em seus gabinetes no prédio da Rua da Alfândega e no anexo, mas está tranquilo em relação à medida. Ele pôs à disposição dos agentes da PF seu gabinete no Palácio Tiradentes, que não estava incluído no mandado. Ceciliano reitera a sua confiança na Justiça e afirma que está pronto a colaborar com as autoridades e a contribuir com a superação desse grave momento que, mais uma vez, o Rio de Janeiro atravessa. Ele também colocou seus sigilos bancário, fiscal e telefônico à disposição das autoridades.

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