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Novo diretor da PF muda chefe no Rio, área que interessa a Bolsonaro e filhos

Rolando Alexandre de Souza, que foi nomeado e empossado na manhã desta segunda-feira, 4, convidou o delegado Carlos Henrique Oliveira para integrar seu gabinete em Brasília

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Por Fausto Macedo e Paulo Roberto Netto
Atualização:

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, trocou o comando da superintendência da corporação no Rio de Janeiro, área de interesse do presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. A mudança foi uma das primeiras ações do novo chefe da PF após ser empossado nesta segunda, 4, cerca de 20 minutos depois de ser nomeado ao cargo.

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O superintendente Carlos Henrique Oliveira, do Rio, foi convidado por Rolando Alexandre de Souza para assumir a direção-executiva da PF, o que o coloca como número dois do novo diretor. A promoção foi vista por delegados como uma forma 'estratégica' de trocar o comando da Polícia Federal fluminense.

Oliveira poderá ser ouvido pela Polícia Federal no inquérito que apura desvio de finalidade e tentativa de 'interferência política' de Bolsonaro na corporação. Nesta segunda, o procurador-geral da República Augusto Aras pediu ao Supremo que autorizasse o depoimento do novo diretor-executivo.

Em agosto do ano passado, Oliveira teve envolvimento com crise deflagrada entre o presidente e o ex-ministro Sérgio Moro pela troca de comando na PF. Além dele, deverão ser ouvidos no caso o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo e o superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, nome que havia sido indicado por Bolsonaro para o comando da corporação no Rio.

Aras quer que os delegados prestem informações acerca de 'eventual patrocínio, direto ou indireto, de interesses privados do Presidente da República perante o Departamento de Polícia Federal, visando ao provimento de cargos em comissão e a exoneração de seus ocupantes'.

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Ao anunciar demissão do governo Bolsonaro, o ex-ministro Sérgio Moro afirmou que Bolsonaro havia expressado não apenas o desejo de trocar a chefia da PF, como o de superintendentes, como o do Rio de Janeiro. Fontes confirmaram ao Estado que o ex-ministro citou essas declarações em depoimento à Polícia Federal no último sábado, 2.

"O problema é que nas conversas com o presidente e isso ele me disse expressamente, que o problema não é só a troca do diretor-geral. Haveria intenção de trocar superintendentes, novamente o do Rio, outros provavelmente viriam em seguida, como o de Pernambuco, sem que fosse me apresentado uma razão para realizar esses tipos de substituições que fossem aceitáveis", disse Moro, ao pedir demissão do governo.

O novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, com o presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse. Foto: Isac Nobrega / PR

A Polícia Federal do Rio foi responsável por atuar em um dos casos de maior repercussão no Estado: a operação Furna da Onça, que levou à prisão diversos deputados estaduais. A operação mirou, entre outros fatos, as 'rachadinhas' de servidores e deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

A operação não mirou Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), senador e filho do presidente investigado pela prática, mas levou à produção de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que detectou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz. O caso foi revelado pelo Estado.

Bolsonaro tentou trocar o comando da PF no Rio em agosto do ano passado. À época, o presidente disse que 'ficou sabendo' que o então superintendente Ricardo Saadi seria substituído pelo delegado Alexandre Silva Saraiva, chefe da PF em Manaus. Saraiva é próximo dos filhos do presidente.

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O presidente também afirmou que a troca seria motivada por 'questões de produtividade', surpreendendo a cúpula da PF, que contradisse o presidente ao afirmar que a substituição de Saadi 'já estava planejada, 'não tinha qualquer relação com desempenho' e que o nome que assumiria o comando seria o delegado Carlos Henrique Oliveira.

Em resposta, Bolsonaro ameaçou manter a indicação de Saraiva, dizendo que 'dá liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu' e provocando crise com o então ministro Sérgio Moro e o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo.

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