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Bolsonaro e Moro tiveram conversa áspera sobre troca na PF

Presidente pressiona ministro da Justiça para substituir diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, que atuou na Lava Jato

Por Tânia Monteiro/BRASÍLIA
Atualização:

Momentos antes de descer a rampa que dá acesso à sala de eventos do Palácio do Planalto ao lado do ministro da Justiça, Sérgio Moro, na quinta-feira passada, 29, num gesto simbólico da reaproximação, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro tiveram uma dura conversa. Segundo interlocutores dos dois lados, o encontro quase resultou na saída de Moro do governo.

A situação foi contornada, no entanto, a tempo de evitar esse desfecho, após o presidente ser convencido de que teria muito a perder com uma eventual demissão do ex-juiz da Lava Jato, idolatrado por grande parte dos eleitores.

Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe. Foto: Carolina Antunes/PR

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Durante o evento, que marcava o lançamento de um programa da pasta de Moro, o presidente elogiou o ministro - que chegou a ter o status de "superministro" -, a quem se referiu como "patrimônio nacional".

Um dos ingredientes que azedou a conversa de horas mais cedo foi justamente a insistência do presidente em fazer alterações no comando da Polícia Federal. Bolsonaro repete que foi eleito para alterar a forma como o País vinha sendo conduzido e que, se não for para fazer isso, não valeria a pena ocupar o cargo máximo do País.

Essa posição de Bolsonaro foi explicitada em entrevista ao jornal 'Folha de S. Paulo', publicada nesta quarta-feira, em que o presidente disse ser necessário dar uma "arejada" na PF e que já conversou com Moro sobre a troca do diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo.

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O atual diretor-geral é ligado ao grupo de Leandro Daiello, mais longevo a ocupar o cargo máximo da PF. Ele ficou no posto por sete anos, de 2011 até 2017. Apesar de ter chefiado a corporação durante os dois mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff, foi em sua gestão que a PF deflagrou operações que atingiram a alta cúpula do PT, como a Operação Lava Jato.

Valeixo comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) na gestão Daiello e foi Superintendente da PF no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado por Moro para assumir a diretoria-geral.

Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe.

O nome que tem sido ventilado para o cargo, de Anderson Gustavo Torres, atual secretário de Segurança do Distrito Federal, é próximo do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR), de quem foi chefe de gabinete na Câmara dos Deputados. Embora aliado, Francischini se afastou de Bolsonaro na campanha eleitoral e abriu mão de tentar se reeleger deputado federal para dar espaço ao filho, deputado Felipe Francischini (PSL-PR).

A intenção de Bolsonaro não é só mexer na PF. Ele já sinalizou que vai fazer mudanças também na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e na Receita Federal.

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Militares com cargos no governo concordam com a atitude de Bolsonaro de fazer trocas na PF, mas discordam da forma como o presidente age, com declarações públicas para demonstrar força, repetindo que quem manda é ele.

Trégua

Antes da conversa ríspida da última quinta-feira, Moro já havia se encontrado a sós com Bolsonaro na mesma semana para tentar aparar as arestas. O desgaste entre os dois começou após o presidente anunciar, no mês passado, a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio por "questão de produtividade".

A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha "qualquer relação com desempenho".

Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que "quem manda é ele" e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome de confiança de Moro. Internamente, as "ameaças" do presidente foram vistas como uma tentativa de interferência política no órgão responsável por investigações.

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Moro tem negado que tenha pedido demissão e fez demonstração de apoio a Valeixo recentemente, ao elogiar publicamente o seu trabalho. Agora, a expectativa na PF é saber se ele vai acatar o pedido de demissão feito por Bolsonaro.

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