Servidores do Ministério da Educação relataram à Controladoria-Geral da União (CGU) "desconforto" com a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura na pasta e um "comportamento estranho" dos religiosos. Disseram ter alertado o então ministro Milton Ribeiro, diversas vezes, no ano passado, sobre o "perigo" que a dupla poderia representar para o MEC. Mesmo assim, Ribeiro manteve encontros com os pastores.
A relação de Milton Ribeiro e Arilton Moura era tão próxima que o ex-ministro tentou emplacar o religioso na pasta. O pastor achou o valor do salário, de cerca de R$ 1o mil, baixo.
A chefe da assessoria de agenda do gabinete do ministro da Educação, Mychelle Braga, contou que "nenhuma pessoa ou outra autoridade esteve naquelas dependências com a frequência do pastor Arilton". Segundo o ex-assessor do MEC Albério Júnior Rodrigues de Lima, a partir de maio de 2021, Milton Ribeiro "concedeu espaço ainda mais privilegiado à dupla, quando passou a recebê-los em sua própria residência".
"Sua presença (Arilton) no gabinete era tão frequente que chegava ao ponto de atrapalhar os assessores em despachar assuntos técnicos com o ministro (Milton Ribeiro)", registra o relatório.
A CGU ouviu sete servidores e ex-funcionários da Educação na apuração que o órgão abriu após o Estadão revelar a instalação de um "gabinete paralelo" no MEC. Um dos relatos narra que, em maio do ano passado, um homem identificado como "Evilásio" ligou para o gabinete de Ribeiro e pediu para falar com o "assessor do ministro da Educação Arilton Moura".
O ex-assessor Albério Júnior Rodrigues de Lima contou que, na ocasião, decidiu ligar para "Evilásio" e descobriu que Arilton Moura havia entrado em contato com ele, propondo a construção de uma escola em um assentamento na periferia do Distrito Federal.
"A questão foi então levada ao ministro Milton Ribeiro, que foi alertado pelos assessores que os pastores poderiam estar utilizando seu nome e falando em nome do MEC. "A partir dessa conversa, o sr. Arilton deixou de comparecer ao gabinete do ministro, trazendo alívio a ele e aos demais assessores, que compartilhavam das mesmas impressões e angústias quanto à atuação duvidosa dos pastores."
De acordo com o ex-assessor, "logo em seguida", os servidores do MEC souberam que Milton Ribeiro passou a recebê-los em sua própria casa, em Brasília. Depois de dois meses, disse, os religiosos voltaram a frequentar o gabinete do então ministro, o que o levou a pedir sua exoneração.
O ex-ministro foi preso preventivamente na última quarta-feira, 22, em Santos, no litoral paulista, e deveria ter sido levado para ser interrogado em Brasília, mas a superintendência da Polícia Federal em São Paulo alegou questões logísticas e não fez a transferência. Ele acabou recebendo habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1) e foi solto antes de ser ouvido pelo delegado.
A defesa do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro sustenta que nem o aliado do presidente Jair Bolsonaro, 'nem ninguém tinha e ou tem poder para favorecer pessoas, cidades ou Estados' dentro do MEC. A alegação se choca com a Operação Acesso Fácil, da Polícia Federal, que indica que Ribeiro deu "prestígio" à atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Segundo prefeitos, os religiosos pediam propina em dinheiro, bíblia e até em barra de ouro para liberar verbas da pasta - como revelou o Estadão.