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Leia toda a investigação do MPF contra Bolsonaro e Wal do Açaí

Inquérito civil da Procuradoria da República no DF com mais de 1,2 mil páginas dá base à ação de improbidade contra o presidente e sua ex-secretária parlamentar

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Por Rayssa Motta
Atualização:

'Wal do Açaí' foi lotada no gabinete de Bolsonaro durante mais de 15 anos, mas admitiu que nunca esteve em Brasília. Foto: Reprodução/Facebook

A Procuradoria da República no Distrito Federal concluiu que a ex-secretária parlamentar Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí, foi 'funcionária fantasma' por mais de 15 anos no gabinete do presidente Jair Bolsonaro (PL) enquanto ele foi deputado federal.

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A informação consta na ação de improbidade movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente e a ex-servidora. O órgão pede a devolução de R$ 28o mil. O valor corresponde aos salários pagos entre 2003 e 2018, período em que ela ficou lotada como funcionária comissionada de Bolsonaro.

Para os procuradores responsáveis pela apuração, ficou provado que a ex-secretária parlamentar nunca exerceu qualquer atribuição relacionada ao cargo. Os investigadores acreditam que a nomeação de Walderice foi usada para pagar serviços privados prestados pelo marido dela, Edenilson Garcia, na casa mantida por Bolsonaro em Mambucaba, distrito de Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro.

O inquérito civil que subsidiou a ação foi aberto em 2018, após reportagem da Folha de S. Paulo noticiar que Walderice trabalhava em uma loja de açaí em Mambucaba quando deveria dar expediente na Câmara dos Deputados.

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A investigação soma mais de 1,2 mil páginas e, desde que a ação foi proposta no último dia 17, não está mais sob sigilo.

Ao longo de quase quatro anos, os procuradores ouviram Walderice, o marido dela, moradores de Mambucaba e testemunhas indicadas pela defesa da ex-secretária. O presidente Jair Bolsonaro não quis prestar depoimento.

A Justiça Federal também autorizou a quebra do sigilo da ex-servidora, o que reforçou as suspeitas de desvios de recursos. Como mostrou o Estadão, o MPF chegou a apontar indícios de um 'esquema de rachadinhas' no gabinete de Bolsonaro ao dar entrada na ação.

"Tais constatações guardam características típicas do que se denomina de "esquema da rachadinha", amplamente noticiado pela imprensa, por meio do qual parlamentares nomeariam assessores "fantasmas", normalmente familiares, amigos próximos ou pessoas de sua confiança, para que estes, posteriormente, transferissem a maior parte da sua remuneração para o parlamentar, enquanto permaneceriam com uma pequena quantia", alertaram os procuradores.

COM A PALAVRA, O PRESIDENTE JAIR BOLSONARO

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A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Presidência para comentar a ação, mas não teve retorno. Em transmissão ao vivo na semana passada, o presidente disse que a ex-secretária tomou posse por procuração e, por isso, nunca esteve em Brasília.

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"Ela nunca esteve mesmo em Brasília, mora em um distrito de Angra dos Reis. Duvido algum deputado fora do DF que não tenha... Pode ter no máximo 25 servidores? Em média, metade fica aqui e metade no estado. Esse pessoal do estado não vem a Brasília, toma posse por procuração. Fiz isso a vida toda", disse em live nas redes sociais.

COM A PALAVRA, A EX-SECRETÁRIA PARLAMENTAR DE BOLSONARO

"Estamos no prazo para contestação e preparando uma defesa robusta que desmontará as alegações do MPF. Nos manifestaremos nos autos e, como bem ressaltado, o processo não corre em sigilo e, nesse cenário, fatalmente a imprensa terá acesso às nossas alegações oportunamente", informou ao blog o advogado Edgar Martinez, que representa a ex-secretária.

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