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Juíza da Lava Jato decreta bloqueio de R$ 100 milhões de operador do PSDB

Gabriela Hardt ordenou o congelamento de fortuna acumulado por Paulo Preto, preto na nova fase que mira propinas a tucanos e fez buscas em endereços do ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Luiz Vassallo e Fausto Macedo
Atualização:
 

A juíza federal Gabriela Hardt decretou o bloqueio de R$ 100 milhões das contas de Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB. O ex-diretor da Dersa (empresa de economia mista do Estado de São Paulo do setor de rodovias) foi preso na manhã desta terça-feira, 19, alvo da Operação Ad Infinitum, fase 60 da Lava Jato. As investigações apuram propinas a tucanos e fez buscas em endereços ligados ao ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (Governo Temer/Relações Exteriores), hoje presidente da Investe São Paulo (Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade) do governo João Doria.

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Nesta terça-feira, 19, após ser alvo da Operação, Aloysio Nunes pediu demissão da Investe São Paulo.

Segundo o procurador da República Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato, Paulo Vieira de Souza, que é conhecido como Paulo Preto, 'é investigado no âmbito da Lava Jato em Curitiba como um operador financeiro'.

"Na investigação aqui em curso o que se revelou foi que Paulo Preto, no interesse da Odebrecht, participou de um esquema de lavagem de mais de R$ 100 milhões. Foi ele o responsável, segundo o averiguado por diversas fontes de prova, por fornecer R$ 100 milhões ou R$ 110 milhões, a quantia gira em torno disso, em dinheiro, para o setor de propinas da Odebrecht, o Setor de Operações Estruturadas da empresa", afirmou o procurador.

"Os fastos remontam à identificação de transferência de valores desse operador financeiro que foi alvo da operação a idos de 2010 e 2011. Entretanto, há atualidade nos fatos em virtude de que o dinheiro recebido por esse operador no exterior está sendo mantido até hoje em contas de forma oculta. A gente está falando de algo em torno de R$ 130 milhões, um valor bem significativo."

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As investigações miram o "complexo esquema de lavagem de dinheiro de corrupção praticada pela Odebrecht", que teria envolvidos além de Paulo Preto, como é conhecido, os operadores financeiros Rodrigo Tacla Duran, Adir Assad e Álvaro José Novis - os dois últimos, delatores.

Documento

NOVA PRISÃO

Pozzobon declarou que 'a atribuição da força-tarefa Lava Jato para investigar o caso foi definida pelo Supremo Tribunal Federal, pelo ministro relator dos processos, Edson Fachin, que remeteu a investigação do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht para Curitiba no ano de 2017.

"Essa operação é um desdobramento do aprofundamento das investigações que dizem respeito ao setor de propinas da Odebrecht, particularmente o que procuramos aqui é obter mais provas do quebra-cabeça criminoso desse sistema de lavagem, especificamente como o dinheiro em espécie era gerado em favor da empreiteira para que ela efetuasse pagamento de propina para diversos agentes. No caso, como pudemos averiguar, também efetuar pagamento de propina para funcionários públicos da Petrobrás e agentes políticos que haviam os alçado ao poder e lá mantido esses agentes", disse.

Paulo Vieira de Souza estava em recolhimento domiciliar integral e monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica. A decisão havia sido tomada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2018.

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Vieira de Souza já é réu de duas ações penais da Lava Jato em São Paulo. No processo que trata de desvios de R$ 7,7 milhões em obras de reassentamento do Rodoanel, Aloysio Nunes foi arrolado como testemunha de defesa de Tatiana, filha de Paulo, também ré na ação.

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Ligado a governos do PSDB no Estado, Paulo Preto desfruta da fama de que detém informações privilegiadas. Certa vez, na campanha presidencial em 2010, Vieira de Souza protagonizou episódio emblemático. Aparentemente 'ignorado' pelo então candidato do PSDB José Serra, que em debate na TV Bandeirantes com sua oponente Dilma Rousseff (PT) disse 'não se lembrar' do ex-diretor da Dersa, ele declarou à jornalista Andrea Michael. "Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro."

COM A PALAVRA, ALOYSIO

O ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Investe São Paulo, disse que ainda 'não teve acesso às informações' da Operação Ad Infinitum, a fase 60 da Lava Jato. Segundo ele, o delegado da Polícia Federal que conduziu as buscas em sua residência nesta terça, 19, 'foi muito cortês', mas não revelou a ele os motivos da diligência. "O inquérito está em segredo, eu estou buscando saber o que há."

Aloysio negou ter recebido cartão de crédito da conta do operador do PSDB Paulo Vieira de Souza, preso na Ad Infinitum.

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COM A PALAVRA, PAULO VIEIRA DE SOUZA

A reportagem fez contato com a assessoria de Paulo Vieira de Souza. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

"A Odebrecht tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos. A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente."

COM A PALAVRA, A CAMARGO CORRÊA

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"A Construtora Camargo Corrêa foi a primeira empresa de seu setor a firmar um acordo de leniência e, desde então, vem colaborando continuamente com as autoridades."

COM A PALAVRA, A ANDRADE GUTIERREZ

A Andrade Gutierrez informa que apoia toda iniciativa de combate à corrupção, e que visa a esclarecer fatos ocorridos no passado. A companhia assumiu esse compromisso público ao pedir desculpas em um manifesto veiculado nos principais jornais do país e segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal. A empresa incorporou diferentes iniciativas nas suas operações para garantir a lisura e a transparência de suas relações comerciais, seja com clientes ou fornecedores, e afirma que tudo aquilo que não seguir rígidos padrões éticos será imediatamente rechaçado pela companhia.

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