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João de Deus se entrega à polícia e é preso

Com prisão decretada por suspeita de abuso sexual contra mais de 300 mulheres, líder religioso se apresentou ao delegado geral de Goiás na tarde deste domingo em Abadiânia

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo , Paulo Roberto Netto/SÃO PAULO e Renan Truffi/GOIÂNIA
Atualização:

João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus deixa a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic). Foto: MARCOS SOUZA/ ESTADAO

(Atualizada às 23h32 de 16 de dezembro de 2018)

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Após negociações entre defesa e a polícia, o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de ter cometido uma série de abusos sexuais, se entregou ontem à Justiça em uma estrada de terra perto de Abadiânia, interior de Goiás, cidade onde fazia atendimentos espirituais. Ele foi levado para a Delegacia Estadual de Investigação Criminal (Deic) em Goiânia, onde prestou depoimento.

Após fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, ele seria encaminhado para o Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia para cumprir prisão preventiva. Em virtude da idade - 76 anos - e dos crimes pelos quais é acusado, João de Deus será posto em uma cela individual, isolado dos demais detentos.

A prisão havia sido determinada na sexta-feira, a pedido do Ministério Público e da Polícia Civil de Goiás, depois que mais de 330 mulheres, de vários Estados e pelo menos seis países, prestaram depoimento acusando o religioso de cometer abuso sexual durante atendimentos prestados em seu centro espiritual - a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. A defesa voltou a afirmar que João de Deus é inocente.

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O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, afirmou que a investigação sobre as denúncias vai se concentrar em 15 casos e que a polícia irá focar, a partir de agora, na "formação da prova".

"Foram 15 depoimentos contundentes, precisos, longos, de mais de duas horas, todos detalhados e com circunstância. A palavra da vítima tem uma relevância muito grande", afirmou Fernandes. Segundo ele, os depoimentos apontaram para um "padrão de ação", mas não detalhou qual seria ele.

"A polícia civil está analisando caso a caso e está se concentrando na questão do abuso (sexual). O grande desafio é provar essa situação. Tem muitos crimes que estão prescritos, mas vítimas que comparecem atuarão como testemunha."

Apesar de João de Deus ter sido considerado foragido, o delegado-geral negou que a Polícia Civil estivesse preocupada com uma possível fuga do acusado. "Tínhamos a situação controlada. A apresentação espontânea só se deu após várias técnicas utilizadas, aprendida por grandes delegados. É o momento agora da Polícia Civil confeccionar suas provas", afirmou.

Fernandes disse também que, caso a investigação aponte para a participação de funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola nos supostos crimes cometidos, essas pessoas também serão alvos do inquérito policial. "Se as investigações provarem isso, que houve qualquer tipo de conivência, essa pessoa será trazida para dentro da investigação. Com certeza (cúmplices podem ser punidos)."

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Contas

O delegado afirmou que também será investigada uma movimentação nas contas bancárias de João de Deus logo depois de as primeiras denúncias aparecerem. O Ministério Público de Goiás informou que o médium pode ter tentado ocultar patrimônio e que isso levou o órgão a acelerar o pedido de prisão. As investigações apontam que João de Deus retirou R$ 35 milhões de contas e aplicações financeiras.

Delegado geral da Policia Civil, Andre Fernandes, fala com a imprensa apos a apresentação do médium, João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic). FOTO: MARCOS SOUZA/ ESTADAO  

O criminalista Alberto Toron, que representa o médium, negou movimentações suspeitas e afirmou que o líder espiritual não planejava deixar o País. "O dinheiro não foi sacado, ninguém saca R$ 35 milhões. O senhor João de Deus apenas baixou as aplicações para fazer frente às necessidades dele. Não houve movimentação. Ele não sacou o dinheiro do banco e não estava fora do Estado", disse.

O criminalista acompanhou as negociações com as autoridades desde sexta-feira, quando a Vara Judicial de Abadiânia expediu decreto de prisão preventiva contra o médium. Toron afirma encarar com 'estranheza' o fato de denúncias de supostos crimes cometidos há 30 anos terem voltado à tona agora.

'Duvidoso'

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"À medida em que os fatos forem sendo apurados, as pessoas forem sendo ouvidas, vamos poder ver se são aproveitadores", disse, ao citar uma holandesa que denunciou João de Deus e que, segundo o criminalista, tem um passado 'mais que duvidoso'. "Se fere de forma tão grave, como mulheres voltaram (ao Centro Dom Inácio Loyola, onde foram cometidos os supostos crimes) cinco vezes, oito vezes?", questionou.

O criminalista pediu "calma e serenidade" em relação à apuração das acusações. "Precisamos de um pouco de calma e serenidade para que não se faça um linchamento", afirmou Toron. "Em respeito a essas mesmas pessoas e mulheres, precisamos fazer essa investigação com todo o cuidado."

O criminalista disse que apresentará um pedido de habeas corpus para suspender a prisão preventiva em troca de medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica. "Se ele for colocado em casa com uma tornozeleira, você impede, em tese a ocorrência de novos delitos, se é que eles existiram. E mais do que isso, impede qualquer hipótese de fuga. Lembrando que ele se apresentou espontaneamente", complementou. /COLABOROU ISABEL CRISTINA, ESPECIAL PARA O ESTADO

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