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'É uma violência primária', diz autor de charge destruída por deputado do PSL

Carlos Latuff assina desenho que retrata um jovem negro assassinado por um policial militar; segundo ele, Coronel Tadeu 'não tem condição de ser parlamentar'

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

O cartunista Carlos Latuff classificou como 'violência primária' e 'algo totalmente descabido' a reação do deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) ao destruir cartaz em que um de seus desenhos estava exposto. Segundo o artista, o parlamentar 'não tem condição' de exercer o cargo no Congresso e pede que o regimento interno da Casa apure o ocorrido.

O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) em transmissão no Twitter arranca cartaz com charge de Carlos Latuff. Foto: Reprodução

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A obra retratava um jovem negro assassinado por um policial militar e fazia parte da (Re)Existir no Brasil - Trajetórias negras brasileiras, exposição da Câmara que visibilizava a morte de jovens negros em meio ao Dia da Consciência Negra. O caso ocorreu na terça-feira, 19, e levou a acusações de racismo e quebra de decoro contra o parlamentar.

"Definitivamente, isso não é uma atitude de um parlamentar. Ele está ali para propor projetos, políticas, e não para quebrar charges em uma exposição oficial", afirmou Latuff. "É um atentado, a pessoa que é capaz de atentar contra uma charge, de maneira violenta, truculenta, não tem condição de ser parlamentar".

"Isso aí é uma violência primária, algo totalmente descabido", continuou Latuff. "O deputado passou por cima de qualquer trâmite de casa e destruiu patrimônio público numa tentativa de impedir o debate a partir da mensagem expressa na charge".

Antes da ação de Coronel Tadeu, a Frente de Segurança Pública solicitou em ofício a retirada do material ao presidente da Casa, Rodrigo Maia. Ao 'Estado', Coronel Tadeu afirmou que não se arrepende do ato. "A exposição é maravilhosa, sobre racismo. Sou favorável à pauta. Mas, no meio de tanto cartaz bonito, você vê uma agressão como essa contra a Polícia Militar? Isso é inaceitável", afirmou.

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O parlamentar, no entanto, admitiu não ter conhecimento do pedido da frente parlamentar.

"Isso é quebra de decoro. Se você não concorda com os pontos expressos na charge, tudo bem. Mas no momento em que você destroi um cartaz, uma obra de arte, uma escultura, você está promovendo a censura", disse Latuff. "É uma atitude absolutamente truculente e o Congresso Nacional, na pessoa de seu presidente, não pode coadunar de maneira alguma".

Nessa quarta, 20, um grupo de quatorze parlamentares de oposição pediram ao procurador-geral da República Augusto Aras a abertura de inquérito contra Coronel Tadeu pelo ato. Os parlamentares afirmam que a 'a atitude não condiz com a postura esperada de qualquer cidadão, muito menos um parlamentar eleito'.

Coronel Tadeu desacreditou a acusação e afirmou que não cometeu quebra de decoro. "Não ofendi um parlamentar. Não ofendi nenhuma pessoa. Simplesmente eu exerci o meu mandato", afirmou.

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