'Se não posso trocar o superintendente, vou trocar o diretor-geral', diz Bolsonaro sobre PF

Insatisfeito com resistências à mudança de superintendente no Rio, presidente afirma que última palavra sobre nomeados é sua, não de Moro; policiais veem interferência política

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Foto do author Julia Lindner
Por Breno Pires e Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro ameaçou nesta quinta-feira, 22, demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, como forma de demonstrar que é ele quem manda na corporação, e não o ministro da Justiça, Sérgio Moro – a quem a PF é subordinada. O novo embate com Moro reacendeu a apreensão na cúpula da PF de interferência política. O ministro não se manifestou, o que deixou delegados insatisfeitos com sua postura. 

Na semana passada, o presidente já havia surpreendido ao anunciar a troca do superintendente no Rio e tentar influenciar na escolha do substituto, algo inusual. Nesta quinta, voltou ao tema. “Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze (superintendentes) foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um Estado para ir para lá (para o Rio), (dizem que) ‘está interferindo’. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral. Não se discute isso aí”, disse Bolsonaro pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada. “Se eu trocar (o diretor-geral da PF) hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico, e não o Sérgio Moro. E ponto final”, reforçou Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Apesar de a legislação dar ao presidente o poder de nomeação do diretor-geral da PF, é praxe que o nome seja indicado pelo ministro da Justiça. 

A insatisfação do presidente se deve à resistência de Valeixo e Moro a aceitarem a sugestão de nomear o delegado Alexandre Saraiva, da Superintendência do Amazonas, para o lugar de Ricardo Saadi, que deixará o posto no Rio. Na semana passada, enquanto o presidente alegou “questão de produtividade” do delegado para justificar a troca, a PF o contradisse em nota, horas depois, e afirmou que a substituição já estava planejada, sem “qualquer relação com desempenho”.

A nota também informava que o delegado Carlos Henrique Oliveira Sousa seria indicado como substituto de Saadi no Rio. O Estado apurou que a divulgação do novo delegado foi uma forma de a PF evitar que Bolsonaro imponha uma indicação política. Desde a troca de farpas, a troca no Rio parou. 

Nos bastidores, delegados da PF interpretam as novas declarações de Bolsonaro como um recado a Moro, que tem adotado agenda própria no ministério e reluta em defender bandeiras do governo, como a flexibilização do porte de armas. 

O ex-juiz da Lava Jato também é cotado para uma possível candidatura presidencial em 2022, e mantém sua popularidade em alta, o que Bolsonaro pode medir nas suas redes sociais. Seus eleitores costumam criticá-lo quando ele ataca o ministro. “Ficou acertado carta branca para Moro doa a quem doer”, cobrou nesta quarta um apoiador do presidente, em resposta a tuíte em que Bolsonaro afirma dar autonomia a seus ministros, mas que a lei lhe garante o direito de escolher o chefe da PF.

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Procurados nesta quinta, Moro e Valeixo não comentaram as declarações do presidente. 

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