Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Acuados e com receio de buscas e até prisão, procuradores da Lava Jato articulam recorrer ao Supremo para barrar investigação no STJ

Ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça, avalia diligências contra integrantes da força-tarefa; Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, já negou liminares para trancar o inquérito no Superior Tribunal de Justiça, mas procuradores planejam insistir no pedido argumentando temor de serem alvos de uma eventual operação

PUBLICIDADE

Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Pepita Ortega
Por Fausto Macedo , Pepita Ortega e Paulo Roberto Netto
Atualização:

Sede do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Foto: Google Maps/Reprodução

Em meio a reveses da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal e acuados com investigação que tramita no Superior Tribunal de Justiça, ex-integrantes da força-tarefa articulam uma ofensiva para se protegerem. Procuradores ouvidos pelo Estadão disseram que temem ser alvo de buscas ou até mesmo ordem de prisão e por isso articulam recursos à ministra Rosa Weber, do STF, para garantir o trancamento do inquérito do STJ.

PUBLICIDADE

Um pedido de reconsideração foi apresentado à ministra nesta sexta, 26, e alerta sobre a intenção do presidente do STJ, ministro Humberto Martins, de autorizar diligências contra integrantes da força-tarefa.

O Estadão apurou que Martins tem avaliado a possibilidade de decretar buscas contra os membros da Lava Jato, acusados de investigar, sem autorização judicial, a movimentação financeira de integrantes do STJ. Na semana passada, o presidente do tribunal negou acesso aos autos do inquérito à Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), justificando que a medida prejudicaria diligências a serem conduzidas na investigação.

"O amplo acesso da ANPR aos presentes, neste momento processual, caso fosse legitimada para tanto, colocaria em risco a realização das futuras diligências sigilosas que deverão ser realizadas", afirmou Humberto Martins. Segundo ele, a investigação, até o momento, só obteve documentos existentes em outros processos, como os diálogos hackeados da força-tarefa. "Até a presente data, não foi produzido elemento probatório formalmente documentado nesses autos envolvendo procuradores da República".

A ANPR recorreu à ministra Rosa Weber para que ela determine o trancamento do inquérito. A entidade afirma que Martins renunciou 'a qualquer disfarce ao constrangimento ilegal' ao barrar o acesso aos autos e 'confessou' sua intenção de mirar a força-tarefa da Lava Jato. Ao Estadão, o presidente da ANPR, George Cruz da Nóbrega, afirmou que o inquérito contra a Lava Jato é um 'rosário de ilegalidades' e que diligências autorizadas com base em provas obtidas de forma ilícita serão questionadas na Justiça.

Publicidade

"Se o MPF não utilizará essa prova, se ela não serve [para o inquérito], ela serviria para constranger? Essa é a ideia contida na investigação?", questionou. "Nunca vimos em nenhum momento da história a utilização dessas provas ilícitas, mensagens hackeadas, para fins de investigação, fiscalização e persecução".

Rosa Weber é relatora de dois habeas corpus que pedem a suspensão da investigação que apura se a força-tarefa de Curitiba tentou intimidar e investigar ilegalmente ministros do STJ. Rosa negou pedido liminar de trancamento da investigação por considerar que não havia requisitos necessários para uma decisão de urgência. O Ministério Público Federal também se manifestou pelo trancamento da investigação.

Na noite desta quinta, 25, os advogados Marcelo Knopfelmacher e Felipe Locke Cavalcanti, que defendem procuradores que atuaram na Lava Jato, se manifestaram em nota publicada nas redes sociais, destacando os números do que chamam de 'maior e mais eficaz iniciativa integrada de combate à corrupção na história do Brasil'.

 Foto: Reprodução

A investigação contra os ex-integrantes da Lava Jato foi aberta na esteira das mensagens hackeadas da força-tarefa que foram tornadas públicas depois que a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu autorização do Supremo Tribunal Federal para acessar o acervo da Operação Spoofing. A origem ilícita das conversas, é um dos pontos questionados nos habeas corpus impetrados no Supremo contra a investigação.

O inquérito também foi atacado pelo Ministério Público Federal. O próprio procurador-geral da República, Augusto Aras, se comprometeu com uma ofensiva jurídica contra as apurações. Neta segunda-feira, 22, o PGR renovou o pedido pelo trancamento da investigação alegando ela está carregada de 'vícios' que tornam 'flagrantemente ilegal e abusiva a atividade persecutória'. Na avaliação da Procuradoria, por ter sido instaurado de ofício pelo presidente do STJ, o inquérito viola o sistema acusatório e as prerrogativas dos membros do MPF.

Publicidade

Procurado via assessoria de imprensa do STJ, o gabinete do ministro Humberto Martins informou que não se manifesta sobre processo em segredo de Justiça.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.