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Inquérito contra Lava Jato é 'rosário de ilegalidades' e diligências serão questionadas, diz presidente de associação de procuradores

Fábio George Cruz da Nóbrega, da Associação Nacional dos Procuradores da República, afirmou ao Estadão que investigação do Superior Tribunal de Justiça contra integrantes da força-tarefa viola o sistema acusatório; procuradores planejam nova ofensiva ao Supremo por temor de buscas e até prisão

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Por Paulo Roberto Netto
Atualização:

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Fábio George Cruz da Nóbrega, afirmou ao Estadão que o inquérito conduzido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a força-tarefa da Lava Jato é um 'rosário de ilegalidades' e que diligências autorizadas com base em provas ilícitas, como as conversas hackeadas dos procuradores, serão questionadas na Justiça.

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Um sinal de alerta foi aceso entre os ex-integrantes da Lava Jato após o presidente do STJ, ministro Humberto Martins, começar a avaliar buscas e apreensões contra os procuradores. Na semana passada, Martins negou acesso da ANPR aos autos da investigação, alegando que a medida prejudicaria diligências que seriam cumpridas no inquérito.

Para Fábio George Cruz da Nóbrega, a investigação viola o sistema acusatório ao ser instaurado e conduzido pelo próprio Martins, além de ser baseado em mensagens hackeadas, ou seja, obtidas de forma ilícita. Mais do que isso, a apuração esbarra na legislação que prevê que membros do Ministério Público Federal só podem ser investigados pelo procurador-geral da República ou alguém indicado por ele. "É um rosário de ilegalidades", frisou.

O presidente da ANPR relembra que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra o uso das conversas dos procuradores da Lava Jato e, por isso, eventuais diligências autorizadas com base nos diálogos serão questionadas.

"Se o MPF não utilizará essa prova, se ela não serve [para o inquérito], ela serviria para constranger? Essa é a ideia contida na investigação?", questionou. "Nunca vimos em nenhum momento da história a utilização dessas provas ilícitas, mensagens hackeadas, para fins de investigação, fiscalização e persecução".

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O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Fábio George Cruz da Nóbrega. Foto: ANPR / Divulgação

A ANPR recorreu à ministra Rosa Weber nesta sexta, 26. A entidade afirma que Humberto Martins renunciou 'a qualquer disfarce ao constrangimento ilegal' ao barrar o acesso aos autos e 'confessou' sua intenção de mirar a força-tarefa da Lava Jato ao afirmar que diligências devem ser realizadas no inquérito.

A ministra é relatora de dois habeas corpus que pedem a suspensão da investigação que apura se a força-tarefa de Curitiba tentou intimidar e investigar ilegalmente ministros do STJ. Rosa já negou pedido liminar de trancamento da investigação por considerar que não havia requisitos necessários para uma decisão de urgência.

O inquérito foi instaurado de ofício - sem manifestação do Ministério Público Federal - e mira suposta intenção de integrantes da Lava Jato em investigar, sem autorização judicial, a movimentação financeira de ministros do STJ. A apuração é conduzida em sigilo pelo ministro Humberto Martins, e tem como base diálogos obtidos na Operação Spoofing. A origem ilícita das conversas, é um dos pontos questionados nos habeas corpus impetrados no Supremo contra a investigação.

O inquérito também foi atacado pelo Ministério Público Federal. O próprio procurador-geral da República, Augusto Aras, se comprometeu com uma ofensiva jurídica contra as apurações. Nesta segunda-feira, 22, a PGR renovou o pedido pelo trancamento da investigação alegando ela está carregada de 'vícios' que tornam 'flagrantemente ilegal e abusiva a atividade persecutória'. Na avaliação da Procuradoria, por ter sido instaurado de ofício pelo presidente do STJ, o inquérito viola o sistema acusatório e as prerrogativas dos membros do MPF.

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