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Ações da Carne Fraca entram em fase final com citação de propina a deputado do MDB

Delatores Daniel Gonçalves Filho e Maria do Rocio, ex-chefes de fiscalização do Ministério da Agricultura no Paraná, falam em juízo de pagamentos a João Arruda (MDB-PR), acima, na foto

Por Ricardo Brandt
Atualização:
 

Os processos da Operação Carne Fraca, em Curitiba, entraram em fase de alegações finais. Os depoimentos prestados pelos dois delatores do caso, os ex-chefes da fiscalização do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho e Maria do Rocio Nascimento abriram a etapa que antecede a sentença do juiz nas seis ações penais que apuraram corrupção de agentes públicos e de empresas ligadas ao setor de carnes, em especial as duas maiores gigantes do setor, JBS e BRF.

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Ouvidos pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14.ª Vara Federal de Curitiba, na quarta-feira, 11, os delatores voltaram a falar do esquema de pagamento de propinas pelas empresas a fiscais e citaram o nome do deputado João Arruda (MDB-PR), uma pista das novas etapas da Carne Fraca que seguem em andamento nas instâncias superiores.

Ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel disse que intermediou propinas para a campanha de João Arruda. Os pagamentos seriam pedido de Gil Bueno Magalhães, outro ex-superintendente do Ministério Paraná também réu da Carne Fraca.

"O que eu sei do Peccin na questão política, e era o operador. Daí existia um conflito muito grande, o superintendente na época era o Gil, ele me chamou e falou: 'Daniel, nós temos que... eu estou querendo mexer lá no Peccin. E o Peccin está querendo colaborar politicamente com os nossos deputados. Eu falei 'Está bom, como eu faço?'. [Ele] falou: 'Ele pretende dar uma ajuda de R$ 100 mil, certo?. Você vai lá no João Arruda , conversa com ele e coloca o Peccin em contato com ele para que possa ajudar na campanha política do João Arruda. Foi isso que aconteceu. Eu sai do circuito. Não sei se foi pago, se não foi", relatou o delator, ao juiz.

O delator afirmou que não sabe se o dinheiro foi de fato repassado ou não, mas citou que se desentendeu com João Arruda quando foi prestar contas a ele, porque "o deputado queria mais dinheiro e eu não conseguia".

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+ 'Eu tinha que fazer caixa para pagar deputado mensal e em época de campanha'

Ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produto de Origem Animal (Sipoa) no Paraná, Maria do Rocio deu depoimento convergente. Maria do Rocio do Nascimento, também delatora, detalhou como foi pagamento de dono de frigorífico para que fiscal Daniel Gouveia fosse removido

"Fiquei sabendo pelo Daniel, que disse que o Gil chegou até o Daniel Gonçalves e disse que o senhor Idair Peccin tinha oferecido para ele 100 mil reais para que ele retirasse o Daniel Gouveia do SIF 2155."

Metade desse valor, seria "para um parlamentar". Que segundo o delator seria João Arruda. Gouveia foi removido da fiscalização da empresa por portaria de Gil Bueno.

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O delator afirma que "é um sistema de corrupção", um "problema sistêmico", que envolve "agentes públicos , políticos e empresários". Com 35 anos de atuação na área, ele afirma que os crimes confessos por ele em sua área de atuação, no Paraná, era replicado em unidades do Ministério da Agricultura de todo País, como o de São Paulo - a maior praça.

O acordo de delação premiada, que cita pagamentos em espécie de empresas do setor alimentício para o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (MDB-PR), foi homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli antes do fim do ano. Pelo acordo, ele cumpre prisão em regime domiciliar desde então.

O ex-ministro da Justiça, segundo Gonçalves Filho, seria um de seus "padrinhos" no cargo. Ao lado de Maria do Rocio Nascimento, eles controlavam indicações de funcionários e facilitavam a atuação irregular de frigoríficos e empresas do setor alimentício.

Final. Os seis processos penais da Carne Fraca, em Curitiba, deflagrada em março de 2017, entraram em fase final, após os novos interrogatórios dos delatores. O juiz encerrou as audiências na semana passada: ao todo foram 84 interrogatórios e 218 testemunhas ouvidas, em 51 dias de trabalhos, desde julho.

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Foi aberto prazo para requerimento de diligências complementares das partes e depois será iniciado o período de alegações finais da acusação e das defesas, que antecede a sentença do juiz.

COM A PALAVRA, JOÃO ARRUDA

O deputado João Arruda esclarece que é desafeto do delator, pois em março de 2016 requereu em ofício a retirada de sua assinatura da carta de indicação do partido ao nome do fiscal. Por isso, o agente faz acusações sem provas e motivado por sentimento de vingança. O deputado jamais pediu qualquer compensação ou vantagem indevida e irá processa-lo civil e criminalmente.

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