Uma falha no site de divulgação dos resultados das eleições 2020, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), motivou desinformação nas redes sociais. Uma semana após a contagem oficial dos votos, o portal mostrava o dobro do número real obtido por candidatos a vereador em três cidades. O próprio TSE afirmou se tratar de erro na divulgação, e não na contabilização, dos votos.
Em 23 de novembro, mais de uma semana após a finalização da contagem, a página oficial que divulga os resultados das eleições passou por um momento de falha durante atualização do TSE. Isso fez com que os resultados de Curitiba (PR), Ilhéus (BA) e Garanhuns (PE) aparecessem com sobreposição de dados, segundo o próprio Tribunal.
"O TSE informou imediatamente a todos os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) a respeito do caso e fez as atualizações necessárias", disse o TSE em comunicado. "Houve portanto, momentaneamente, uma sobreposição de dados e não uma duplicação de votos."
Mesmo após o TSE informar se tratar de erro durante atualização dos sites, a falsa alegação de fraude foi compartilhada ao menos 6,9 mil vezes no Facebook. O boato foi impulsionado principalmente pelo blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, preso por descumprir medidas cautelares proferidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é investigado em inquérito que apura a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, e está proibido de usar as redes sociais.
O blogueiro fez postagens dizendo que "a candidata Paula Milani apoiada por Bolsonaro em Curitiba teve o dobro dos votos". Ele ainda volta a dizer que se trata de "fraude", desconsiderando que todos os candidatos na capital paranaense apareceram com a votação duplicada.
Foram 792.320 votos a candidatos concorrentes no legislativo municipal. Como informou o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), "se todos os candidatos à Câmara Municipal de Curitiba recebessem o dobro do número de votos, o número total de votos concedidos a candidatos concorrentes seria 1.584.640, superando o eleitorado da capital paranaense, que é de 1.349.888 pessoas".
Após consertar o erro, os votos voltaram ao valor que havia sido auferido no dia da votação, em 15 de novembro. Ao acessar no placar final, é possível confirmar que a última atualização dos dados ocorreu naquela noite, às 23 horas e 20 minutos.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.