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Vídeo em que Ivete Sangalo cai no palco é editado para parecer que plateia xinga Lula

Acidente ocorreu em apresentação da artista na cidade paulista de Jundiaí, em abril de 2011, enquanto o público cantava uma de suas músicas

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

Um vídeo amador que mostra um tombo da cantora Ivete Sangalo em uma apresentação na cidade de Jundiaí (SP), em 2011, teve o som editado para parecer que a cantora teria se acidentado ao ouvir gritos de "Lula ladrão". O Estadão Verifica encontrou outras gravações do episódio comprovando que se trata de uma mentira. A plateia, na verdade, cantava uma das músicas da artista.

Além disso, a peça foi compartilhada primeiro no TikTok em tom de piada, mas parte dos usuários acreditaram no conteúdo. Depois, o material viralizou com outras legendas, enganando mais pessoas na internet.

 Foto: Estadão

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Ivete vem sendo atacada nas redes sociais por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) desde o fim do ano passado. Um show em Natal (RN), em 29 de dezembro, teve um , por exemplo, ambos desmentidos por outras agências de checagem.

Para checar se a peça de desinformação aqui analisada era uma montagem, o Estadão Verifica fez buscas reversas de imagem com o Google Lens (veja aqui como fazer). O blog não conseguiu encontrar o vídeo original, mas descobriu que as roupas da cantora foram usadas durante uma turnê nos anos 2011 e 2012, depois da gravação de um DVD no Madison Square Garden, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Essa informação serviu para pesquisar sobre o tombo de Ivete no palco, restringindo os resultados para esses anos. Sites de celebridades mencionaram um acidente em Jundiaí (SP) cuja descrição batia com os elementos do vídeo. No YouTube, o Estadão Verifica encontrou outro vídeo de um cinegrafista amador que registrou o mesmo episódio, mas de outro ângulo e com o som original.

A performance ocorreu no Bali Folia, em 3 de abril de 2011, evento sediado no Parque da Uva da cidade interiorana de São Paulo. Foi um dos primeiros shows do "Madison Tour" no Brasil. O trecho pode ser visto a partir de 3 minutos na gravação abaixo.

Ivete cantava a música "Eternamente" quando escorregou no palco molhado. Ela se levanta, ajeita a roupa, dá um tapa na perna, brinca com os fãs e senta para colocar o sapato. Não há gritos contra o ex-presidente Lula (PT) na plateia -- que estava, na verdade, cantando a música junto com ela.

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Origem da desinformação

O vídeo manipulado insere um áudio que traz, além dos gritos contra Lula (PT) inexistentes na performance de Ivete Sangalo, sons de buzina, o que indica ser retirada de uma manifestação de rua contra o petista. Esse áudio, no entanto, não pôde ser encontrado.

A peça de desinformação foi divulgada primeiro, em tom de piada, pelo canal de TikTok @panterajornalista50. Porém, mesmo nesse post, parte dos usuários acreditaram no conteúdo. "Acabou a carreira", escreveu um perfil. "Arrepiei, obrigada povo", postou outro. O vídeo teve quase 700 mil visualizações.

A gravação editada depois viralizou em outras plataformas com alegações falsas, enganando mais pessoas. Uma versão no Facebook acumulou 149 mil visualizações nesta semana com a legenda "Toma, distraída, até caiu" e gerando respostas como "A conta chegou e bem cara".

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Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Ivete Sangalo respondeu que o material é "muito antigo" e que a cantora não iria se pronunciar a respeito.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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