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Todos os modelos de urna eletrônica foram auditados, diferentemente do que afirma vídeo

Para desacreditar o processo eleitoral, comentarista reproduz incorretamente informações de um relatório apócrifo com alegações falsas

Por Luciana Marschall
Atualização:

Circula amplamente no Facebook um vídeo em que o comentarista Rodrigo Constantino desinforma sobre assuntos relacionados ao processo eleitoral. Ele afirma existir mais de uma urna eletrônica por seção eleitoral e que parte dos equipamentos de votação não é auditável, mas ambas as alegações são falsas.

 

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O vídeo é um recorte do programa 3 em 1, da Jovem Pan, exibido no dia 4 de novembro. Durante o comentário, Constantino cita um relatório apócrifo apresentado em uma live feita na Argentina, que diz provar fraude nas eleições brasileiras. Porém, as alegações feitas no documento de autoria desconhecida não são verdadeiras.

Ao abordar o assunto, o comentarista declara que há mais de duas mil urnas existentes em uma mesma seção eleitoral. Segundo ele, as urnas auditáveis davam vitória para Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a reeleição para Presidência. Já as mais novas, que Constantino considera não auditáveis, registraram zero voto para o atual presidente, sempre dando vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato eleito.

Na rede social, o trecho é compartilhado com as legendas "a fraude foi descarada" e "não aceitamos esse golpe do (ministro) Alexandre de Moraes contra a democracia", referindo-se ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Um dos argumentos apresentados no relatório apócrifo no qual Constantino se baseia é de que o modelo de urna mais recente (UE 2020) seria o único idôneo porque somente esse equipamento teria passado por processo de auditoria -- mas isso é mentira. O comentarista confunde o que foi dito na live argentina, ao citar as urnas mais novas como não auditáveis.

O TSE informou que os equipamentos mais antigos usados nas eleições deste ano estão em uso desde 2010 e todos foram utilizados na votação de 2018. Nesse período, esses modelos de urna foram submetidos a diversas análises, tais como a Auditoria Especial do PSDB em 2015 e cinco edições do Teste Público de Segurança (TPS), em 2012, 2016, 2017, 2019 e 2021. Os resultados estão disponíveis para consulta no site do tribunal.

Ainda conforme o Tribunal, as urnas modelo 2020, que ainda não estavam prontas no período de realização do TPS 2021, foram testadas pelo Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EP-USP). Além disso, o conjunto de softwares foi avaliado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Nas três avaliações, não foi encontrada nenhuma fragilidade ou mesmo indício de vulnerabilidade.

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O TSE ressalta que o software em uso nos equipamentos antigos é o mesmo empregado nos mais novos. O sistema foi aberto para auditoria dentro e fora do TSE desde 2021. Além disso, o software é assinado digitalmente e lacrado em cerimônia pública com a presença de diversas instituições legitimadas a fiscalizar o processo eleitoral. "A urna eletrônica é um hardware, ou seja, um aparelho. Sendo assim, o que importa é o que roda dentro dela: o programa que ficou aberto por um ano para inspeção de todas as entidades fiscalizadoras", ressalta o Tribunal em nota enviada ao Estadão Verifica.

Constantino faz outra alegação falsa: a de que existem mais de duas mil urnas em uma mesma seção eleitoral. O TSE utiliza apenas um equipamento por seção, que pode ser substituído por um de contingência caso ocorra algum problema durante a votação. Uma zona eleitoral é uma área onde ficam localizadas várias seções, que é gerida por um cartório eleitoral.

Por fim, o Tribunal explica ser possível haver zero voto para candidatos em algumas seções eleitorais, o que não indica que houve fraude. O Estadão Verifica mostrou que parte das urnas em que se registrou zero voto para Bolsonaro fica localizada em áreas rurais, aldeias indígenas e zonas quilombolas, onde é comum haver convergência de votos.

A reportagem procurou Constantino via e-mail, mas não teve resposta até o momento.


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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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