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Boato resgata delação de Sérgio Cabral para insinuar que Toffoli 'alterou votos' nas urnas

Ex-governador do Rio preso acusou ministro de favorecer políticos em julgamentos do TSE, e não de fraudar resultados nas eleições; Toffoli nega e acordo de colaboração premiada foi anulado

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

Em meio ao debate sobre a "PEC do voto impresso" na Câmara dos Deputados, que deve ser levada a plenário nesta semana, usuários do Facebook estão compartilhando uma informação fora de contexto sobre a delação premiada do ex-governador do Rio Sérgio Cabral envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. A postagem afirma que Cabral relatou que Toffoli teria recebido R$ 3 milhões "para alterar votos" no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dando a entender que se trata de uma denúncia de fraude na apuração das urnas

Nos comentários das postagens no Facebook, é possível ver que muitas pessoas entenderam que o ex-governador fluminense fez uma denúncia sobre as urnas eletrônicas. Usuários da rede social escreveram que o equipamento de votação não é confiável e pediram a adoção do comprovante de voto impresso.

 Foto: Estadão

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Como mostra reportagem do Estadão, publicada em 14 de maio deste ano, o ex-governador do Rio de Janeiro -- detido desde 2016 condenado com penas que ultrapassam 340 anos de prisão -- acusou Toffoli de receber R$ 4 milhões em propinas para ajudar dois prefeitos em processos no TSE. Ele fez parte da composição da Corte Eleitoral entre os anos de 2012 e 2016. 

Os políticos haviam sido cassados por irregularidades de campanha. Não há, portanto, relação com a contagem de votos nas eleições. Vale lembrar que a totalização de votos realizada pela Justiça Eleitoral pode ser auditada através dos boletins de urna, que ficam disponíveis individualmente em cada seção eleitoral e são divulgados publicamente no site do TSE.

Em nota divulgada pelo STF quando a delação de Cabral veio à tona, Toffoli disse "não ter conhecimento dos fatos mencionados" e que "jamais recebeu os supostos valores ilegais". O ministro também refutou a possibilidade de ter atuado para favorecer qualquer pessoa no exercício de suas funções. Procurado novamente pelo Estadão Verifica por e-mail, o Supremo respondeu que "a informação é falsa".

O caso ganhou repercussão depois que a Polícia Federal (PF) solicitou a abertura de um inquérito contra Toffoli, com base na delação de Sérgio Cabral. Esse pedido acabou negado pelo ministro Edson Fachin, após posicionamento contrário da Procuradoria-Geral da República (PGR), que considerou "inidôneas" as informações prestadas. Mais tarde, o acordo de colaboração premiada de Cabral com a PF foi anulado pelo plenário do Supremo, por um placar de 7 a 4.

O conteúdo que viralizou nas redes nesta semana reproduz em uma imagem o título de um texto antigo publicado pelo site "Oeste" para atribuir desconfiança sobre a apuração de votos do TSE, obtendo mais de 3,6 mil compartilhamentos. As postagens analisadas não compartilham o link para mais informações nem esclarecem a que a delação de Cabral se refere. Além disso, um dos posts traz uma hashtag contrária ao atual presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, que se tornou um dos alvos preferenciais do presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores nas redes ao rebater acusações de fraude e defender publicamente a manutenção do sistema de votação.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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