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Boato inventa que Salah e outros jogadores de times da Europa dedicaram gols a Bolsonaro

Além do atacante do Liverpool, postagens falsas já foram espalhadas com nomes de Ciro Immobile e Diogo Jota; mensagem apela sempre para uma conversa com um companheiro de equipe brasileiro e críticas à imprensa

Foto do author Samuel Lima
Por Samuel Lima
Atualização:

O roteiro -- de ficção -- é o mesmo: um famoso jogador de futebol estrangeiro atuando em alguma grande liga da Europa ouve falar sobre Jair Bolsonaro por um companheiro de equipe brasileiro e resolve "dedicar" um gol para o presidente, aproveitando ainda para criticar a cobertura da imprensa. Essa mesma história viralizou recentemente com o nome de três atletas diferentes: Mohamed Salah e Diogo Jota, do Liverpool, e Ciro Immobile, da Lazio. Mas tudo não passa de uma mentira persistente na internet.

 Foto: Estadão

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Não há registro de que nenhum desses atletas tenha feito qualquer declaração de apoio a Bolsonaro ou dedicado gols ao chefe do Executivo brasileiro. O post mais antigo é o de Diogo Jota, que circula desde 25 de setembro, quando o português marcou um dos gols do empate do Liverpool contra o Brentford pela Premier League, da Inglaterra. O boato alega que ele teria dito "É uma honra fazer um gol hoje, e quero dedicar ao presidente do Brasil Jair Bolsonaro, meu amigo Firmino fala muito sobre ele", o que não é verdade.

Em 16 de outubro, quando Ciro Immobile marcou um dos gols da vitória da Lazio sobre a Internazionale, pelo Campeonato Italiano, a mensagem fake viralizou novamente, com alterações. "Essa vitória sobre a Inter foi muito importante, mas dedico também a vitória para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Ele sofre bastante pela a imprensa brasileira, meu amigo Felipe Anderson me falou sobre isso". Mais uma vez, o boato não é baseado em nenhuma fonte confiável de informação.

A invenção mais recente envolve Mohamed Salah, um dos principais jogadores do Liverpool, que marcou três gols na goleada sobre o Manchester United, em 24 de outubro. "Firmino, Alisson e Fabinho me falam muito sobre ele. Para ele (Bolsonaro) todos os dias dar o sangue para ajudar uma nação que o odeia sem motivo nenhum, ele tem que ser muito forte mentalmente, e isso me inspira". O egípcio não disse nada disso.

Sem registro

Para enganar os usuários do Facebook, as postagens alegam que as declarações teriam aparecido em um "jornal esportivo italiano" -- jamais identificado -- ou em uma "entrevista" após a partida. No caso de Salah, a fonte seria "Jorge Nicolas", em uma aparente tentativa de atribuir a informação ao jornalista Jorge Nicola.

Essa é uma tática de desinformação comum, que consiste em usar informações vagas para dificultar a checagem do conteúdo. Não existem dados sobre o veículo de imprensa que supostamente publicou o conteúdo, nem a data de veiculação e menos ainda um link para a fonte original. 

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O Estadão Verifica procurou as três supostas declarações no Google, por meio de palavras-chave (Salah, Immobile e Jota -- além de notícias sobre as partidas. Nenhuma dessas pesquisas traz indícios de qualquer mensagem de apoio desses jogadores a Bolsonaro.

Em resposta à Lupa, o jornalista Jorge Nicola disse que nunca compartilhou a informação descrita na postagem sobre Salah. Os boatos sobre ele e Immobile também foram desmentidos pelo site Boatos.org.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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