PUBLICIDADE

Site faz recorte enviesado de pesquisa eleitoral para parecer que Bolsonaro lidera

Atual presidente aparece numericamente à frente de Lula em pesquisa Futura/Modal, mas ambos estão tecnicamente empatados; petista lidera em outros levantamentos de intenção de voto

Por Pedro Prata
Atualização:

Atualizada às 11h55 de 7 de abril de 2022 com os dados da pesquisa Quaest mais recente.

PUBLICIDADE

Para fazer parecer que o presidente Jair Bolsonaro (PL) está na liderança da corrida eleitoral, um texto publicado em um site bolsonarista apresenta um recorte enviesado sobre uma pesquisa de intenção de voto. O site cita um levantamento feito pela empresa Futura, no qual Bolsonaro aparece numericamente à frente do adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O que o texto não explica é que os dois estão empatados, considerando a margem de erro.

Além disso, a dianteira do atual presidente é registrada apenas na pesquisa espontânea, quando não são apresentados os possíveis candidatos ao entrevistado. Na pesquisa estimulada, quando o entrevistador apresenta uma lista de nomes, Lula está na frente, ainda que empatado tecnicamente com o rival. Outro ponto que não foi abordado no texto é que o resultado obtido nesta pesquisa difere de todos os outros levantamentos sobre as eleições divulgados até agora, que apontam vantagem mais folgada de Lula.

Com título "Pesquisas já apontam liderança de Bolsonaro, esquerda entra em pânico e Lula demonstra medo", o texto diz que "gradativamente as pesquisas de opinião pública vão se aproximando da realidade". Porém, os levantamentos de intenção de voto mais recentes apontam vantagem de Lula sobre Bolsonaro (confira mais abaixo).

O que o texto não explica é que os dois estão empatados, considerando a margem de erro. Foto: Reprodução

A pesquisa a que o site se refere foi realizada pela Futura Consultoria e Assessoria Ltda por encomenda do banco Modal Mais. Foi realizada com 2 mil entrevistados por telefone, entre os dias 22 e 25 de março de 2022. O nível de confiança estimado é de 95% e a margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Este é o 9ª levantamento realizado pela empresa sobre as intenções de voto para este ano. A primeira pesquisa foi divulgada em 10 de agosto de 2021 e a segunda, em 25 de agosto. As demais ocorreram mensalmente.

É verdade que pela primeira vez esta pesquisa aponta Jair Bolsonaro numericamente na frente, com 33,4% dos votos no primeiro turno, contra 32,9% de Lula. No entanto, a margem de erro é de 2,2 pontos. Isso quer dizer que os dois candidatos favoritos estão empatados. Este cenário se repetiu em todas as pesquisas eleitorais do Futura desde agosto de 2021, com Lula sempre numericamente à frente.

Aqui, é importante ressaltar que esses dados são apenas da pesquisa espontânea. Neste levantamento, o entrevistador faz a pergunta aos entrevistados e não dá nenhuma alternativa como resposta. Ele serve para mostrar qual candidato é mais conhecido do eleitorado. Por isso, há candidatos que aparecem em algumas edições, mas não aparecem em outras.

Publicidade

Há também a pesquisa estimulada. Neste tipo de levantamento, o entrevistador fornece algumas opções de escolha. Como os candidatos de cada partido ainda não estão fechados, o instituto de pesquisa prevê cenários possíveis. O que o site não informa é que nesse levantamento, Lula aparece numericamente à frente de Bolsonaro em todos os cenários. Ambos também estão empatados tecnicamente na margem de erro.

Cenário 1

  • Luiz Inácio Lula da Silva - 38,5%
  • Jair Bolsonaro - 35,5%
  • Sérgio Moro - 5,3%
  • Ciro Gomes - 5,1%
  • André Janones - 2,1%
  • João Doria - 1,3%
  • Eduardo Leite - 1,3%
  • Simone Tebet - 1,1%
  • Felipe D'Ávila - 0,3%
  • Não Sabe/Não Respondeu/Indeciso - 4,2%
  • Branco/Nulo - 5,2%

Cenário 2

  • Luiz Inácio Lula da Silva - 38,3%
  • Jair Bolsonaro - 35,3%
  • Sérgio Moro - 7,4%
  • Ciro Gomes - 7,4%
  • João Doria - 2,5%
  • Eduardo Leite - 1,6%
  • Não Sabe/Não Respondeu/Indeciso - 2,9%
  • Branco/Nulo - 4,6%

Cenário 3

  • Luiz Inácio Lula da Silva - 42,4%
  • Jair Bolsonaro - 38,3%
  • Ciro Gomes - 7,3%
  • Eduardo Leite - 3,2%
  • Não Sabe/Não Respondeu/Indeciso - 2,7%
  • Branco/Nulo - 6,1%

Publicidade

A pesquisa também faz perguntas sobre um eventual segundo turno. Neste caso, se Lula e Bolsonaro se enfrentassem agora, o petista teria 48% das intenções de votos e Bolsonaro, 41%.

O levantamento utilizado pelo blog está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-00758/2022. Você pode consultar as informações de qualquer pesquisa oficial clicando aqui.

A legislação eleitoral obriga que toda pesquisa de opinião pública sobre os candidatos, realizada em ano eleitoral, deve ser registrada no TSE caso a empresa ou os contratantes tenham a intenção de divulgar o resultado. Ficam disponíveis a metodologia da pesquisa, o contratante e o valor pago por ela e o plano amostral (quantidade de pessoas e sua divisão por gênero, raça, idade, grau de instrução, entre outros). Também é possível verificar qual foi o questionário completo aplicado.

Resultado difere de outros institutos

O cenário apresentado pelo Futura Inteligência destoa do resultado obtido por outros institutos de pesquisa e foi questionado por especialistas da área. O instituto se defendeu, afirmando que o resultado obtido se dá "pela ampla abrangência da amostra aplicada" e que a pesquisa segue os parâmetros determinados pelo TSE.

A pesquisa Datafolha mais recente (registro nº BR-08967/2022) foi divulgada em 24 de março. Ela ouviu 2.556 pessoas de forma presencial entre os dias 22 e 24 de março. No primeiro turno, Lula aparece com 43% na pesquisa estimulada; Jair Bolsonaro, 26%; Sérgio Moro, 8%; Ciro Gomes, 6%; João Doria e André Janones, 2% cada; e Vera Lúcia, Simone Tebet e Felipe D'Ávila, 1% cada. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

No segundo turno, Lula tem 55% das intenções de voto, contra 34% de Bolsonaro.

Publicidade

Já o Quaest Pesquisas, Consultoria e Projetos Ltda divulgou seu levantamento mais recente (registro nº BR-00372/2022) em 7 de abril. A pesquisa foi encomendada pelo Banco Genial. Lula aparece com 45% das intenções de voto no cenário sem Sérgio Moro, cuja candidatura ficou incerta após ida do ex-juiz para o União Brasil. Jair Bolsonaro ficou em segundo lugar, com 31%; Ciro Gomes, 6%; João Doria e André Janones, 2% cada; e Simone Tebet, 1%.

O levantamento entrevistou presencialmente 2 mil pessoas entre os dias 1º e 3 de abril. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Já a pesquisa do instituto Ipespe, divulgada nesta quarta-feira, 6, Lula obteve 44% das intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro, com 30%. Ciro Gomes teve 9%; João Doria, 3%; e Simone Tebet, 2%. Em um eventual segundo turno, Lula está com 20 pontos percentuais de vantagem contra Bolsonaro, com 53% contra 33%.

O Ipespe ouviu mil eleitores entre os dias 2 e 5 de abril. A margem de erro do levantamento é de 3,2 pontos porcentuais, para mais ou para menos, e o código do registro na Justiça Eleitoral é BR-03874/2022.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.