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Crítica de Lula sobre políticos que 'usam pobres como papel higiênico' circula sem contexto

Trecho de discurso do ex-presidente foi recortado para parecer que ele disse que 'pobre é um número'; na fala completa, é possível ver que o petista criticava essa postura

Por Gabriela Meireles
Atualização:

Um vídeo que circula no Facebook com o título "O que é o pobre para você?" tira de contexto um trecho de discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento em São Paulo, em outubro de 2021. Na ocasião, o petista disse que pobres são usados como se fossem papel higiênico durante as eleições. O que não fica claro pelo recorte do vídeo é que na realidade o ex-presidente criticava quem faz esse tipo de discurso.

 

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A fala foi gravada durante o Encontro dos Movimentos Sociais do Campo, das Florestas e das Águas. O trecho que consta no recorte é: "O pobre é um número. Às vezes um número bonito de utilizar em campanha. Eu, há vinte anos atrás, dizia 'Pobre é utilizado como se fosse papel higiênico. Tem uma baita utilidade na época da eleição, depois joga ele fora e esquece'". 

Ao assistir o vídeo completo, é possível entender que o ex-presidente criticava gestores que não colocam "o pobre no orçamento". Logo antes do recorte usado na postagem, Lula afirma: "Nenhum presidente de nenhum país do mundo se esquece do orçamento das Forças Armadas, nenhum país do mundo se esquece dos orçamentos do Itamaraty, do orçamento do Ministério Público, do orçamento da Polícia Federal, do orçamento da Receita. Mas esquece de colocar o pobre no orçamento, porque o pobre não é levado em conta".

O trecho em circulação tem apenas 21 segundos e foi retirado de um discurso com mais de 40 minutos de duração. A fala retirada de contexto de Lula é dita perto da marca dos 35 minutos (veja acima). Além disso, a pergunta "O que é o pobre para você?" não foi direcionada a ele durante o discurso.

Procurada, a assessoria de Lula afirmou que bolsonaristas espalharam o trecho recortado da fala do ex-presidente, e confirmou que o petista discursava sobre "como outros políticos vêem pobres", "criticando essa postura". "Lamentamos que eles sigam investindo em fake news, incitação ao ódio, ao invés do debate público e real sobre os problemas do País", comunicou a assessoria.

O Estadão Verifica já checou outras publicações que recortam críticas feitas por Lula. Em 2021, viralizou uma postagem em que o petista parecia chamar pobres de "imbecis" e "ignorantes". Ao ver o vídeo original, é possível entender que o petista acusava outras pessoas de terem essa visão com relação à população de renda baixa.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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