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Relator da denúncia é de família que está no Congresso desde a Proclamação da República

Decano na Câmara, Bonifácio de Andrada faz parte da sexta geração do patriarca da Independência José Bonifácio

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Por Daiene Cardoso e Igor Gadelha
Atualização:

BRASÍLIA - Herdeiro de uma família que está no Congresso Nacional desde a Proclamação da República, o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), escolhido para relatar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), faz parte da sexta geração do patriarca da Independência José Bonifácio personagem da história brasileira que deixou raízes na política e no mundo jurídico. O deputado exerce o décimo mandato consecutivo e é considerado um dos decanos da Câmara.

Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) foi escolhido para relatar denúncia contra Temer na CCJ Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

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O tucano tem 87 anos, é jornalista, advogado, professor de Direito Constitucional e cientista político. Ligado ao grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), tem atuação discreta na Casa, mas é visto como uma espécie de "reserva moral" da bancada. Embora não tenha a intenção de disputar a reeleição, Bonifácio prepara seus filhos para a próxima eleição, portanto, qualquer desgaste no relatório sobre a acusação contra Temer pode respingar sobre as candidaturas de Lafayette Andrada e Antonio Andrada.

Bonifácio é suplente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), não votou no colegiado sobre a primeira denúncia, mas fez questão de se posicionar durante a fase de debates contra a primeira denúncia por corrupção passiva. Na ocasião, o tucano criticou o uso de gravações do empresário Joesley Batista como peça-chave da acusação da Procuradoria Geral da República (PGR).

"Ela (gravação) não pode servir de base para procedimento processual. Certo de que o caso da mala não tem na realidade uma segurança necessária de ordem jurídica para ser aqui mencionada e convencido de que o relator, como em todo processo há uma grande dúvida, diria a Vossa Excelência que em se tratando de um presidente da República, não podemos aqui dentro dessa linha chegar a uma posição contrária a sua personalidade que, aliás, no processo, não é mencionado", discursou. "Quem é (mencionado) é o Rodrigo (Rocha) Loures. Sua excelência (Temer) é apenas um adido nas palavras que são aqui levantadas contra sua excelência. Por essa razões, não sou a favor da admissibilidade. Não por razões politicas, mas puramente por razões de ordem jurídicas. Não há base para andamento do processo."

Em 2 de agosto, dia da votação da denúncia no plenário, o tucano foi mais econômico no discurso. "Sim (ao relatório pelo arquivamento da denúncia), em favor das instituições e do progresso do Brasil", declarou no microfone.

A escolha de Bonifácio desagradou não só tucanos como a oposição. Parlamentares reclamaram que o deputado costuma "dormir" no plenário e que, pela idade avançada, não teria "condições físicas" de produzir um relatório complexo.

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O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) criticou a visão conservadora de Bonifácio. "Nós vemos com muita preocupação essa indicação. Não vamos avaliar a trajetória do ponto de vista familiar, que vem desde o Império. Espero que ele nos surpreenda", comentou.

"Temos muita convicção de que é um nome que preserva a comissão, que dá o tom necessário que precisávamos para seriedade, necessidade de demonstração de imparcialidade na condução desse trabalho", justificou o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), ao anunciar seu escolhido.

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A indicação de Bonifácio abre uma nova crise no PSDB, em especial entre a ala paulista e a mineira. Enquanto os paulistas não fazem o menor esforço para preservar Temer, os mineiros ajudaram a barrar a primeira denúncia. O líder Ricardo Tripoli (SP) não descarta a possibilidade de tirar Bonifácio da CCJ, o que obrigaria Pacheco a redistribuir a relatoria.

Tripoli queria poupar a sigla de um novo desgaste na votação da segunda denúncia contra Temer e apelou para que presidente da CCJ não indicasse um tucano para a relatoria. Na primeira denúncia, que foi enterrada em agosto, o relatório que livrou o presidente da República veio do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) e a bancada votou dividida. Nos corredores do Congresso, fala-se que a indicação de Bonifácio faz parte de uma operação casada para salvar o mandato de Aécio e sepultar a nova denúncia.