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'Não estava de santo nessa história', disse Palocci ao incriminar Lula

De ex-homem forte do governo do PT a colaborador da Lava Jato, ex-ministro acusa ex-presidente de ser maior beneficiário da corrupção na Petrobrás, se coloca como 'engrenagem' no esquema, mas confessa seus 'ilícitos' em busca de redução de pena com Moro

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Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo , Luiz Vassallo e Julia Affonso
Atualização:

Antonio Palocci. Foto: Reprodução

Ex-homem forte dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e principal elo do PT com o empresariado e o setor financeiro, Antonio Palocci confessou ao juiz federal Sérgio Moro, na última quarta-feira, 6, a existência do mega esquema de corrupção na Petrobrás, denunciado pela Operação Lava Jato, imputou mortalmente responsabilidade ao ex-presidente Lula e reconheceu sua culpa: "Desculpa doutor, eu não estava de santo na história não".

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A história é a da aliança espúria entre Lula, PT e a Odebrecht para eleger Dilma, em 2010, e afastar o risco de resistência de sua sucessora às relações "fluídas" da empresa com o governo.

Negociata em que assumiu ter participação direta como responsável pela conta "Italiano", das planilhas da máquina de fazer propinas da empreiteira, que teve à disposição R$ 300 milhões para uso em campanhas de Lula e do PT e também para benesses.

"Fizemos uma operação bastante condenável."

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Preso desde outubro de 2016 pela Lava Jato, condenado a 12 anos e 2 meses de prisão e em busca de uma acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, Palocci confessou em ação penal contra Lula, ele, Marcelo Odebrecht e outros pelo acerto de R$ 12 milhões de propinas em forma do repasse de um terreno para o Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP).

Ouvido como réu, o ex-ministro da Fazenda de Lula, de 2003 a 2006, e da Casa Civil de Dilma, em 2011, coordenador da campanha de 2010 disse que a corrupção na Petrobrás tinha Lula como maior beneficiado. Palocci revelou um "pacto de sangue" feito com o dono da Odebrecht, Emílio Odebrecht, para repasse de R$ 300 milhões em propinas, um terreno de R$ 12 milhões para o Instituto Lula, um apartamento de meio milhão em São Bernardo e a reforma do sítio de Atibaia (SP). Tudo contrapartida por negócios da empresa com o governo. (Assista aos 14min do vídeo 1)

Em cerca de quatro horas de depoimento, Palocci se coloca como uma engrenagem da estrutura de propinas e admite que conversava com o empresário Marcelo Odebrecht - delator preso desde junho de 2015 - sobre os recebimentos de propinas. Palocci disse que preferia não tratar de valores com Odebrecht nem teve relação com a planilha de controle que o empresário montou. "De novo, não estou me colocando de santo. Mas eu preferia não estabelecer limites porque a minha conta com ele não tinha limites. Não ia eu estabelecer com ele parâmetros limitadores."

A Moro, o ex-ministro disse que na operação de repasse pela Odebrecht do terreno em São Paulo, em 2010, que serviria de sede para o Instituto Lula e é objeto da ação penal, teria ido contra e orientou o ex-presidente a não fazê-la da forma proposta pelo pecuarista José Carlos Bumlai e pelo advogado Roberto Teixeira - amigos do ex-presidente. Palocci diz ter avisado Lula: 'Nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso'.

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"Eu disse para ele (Lula), 'nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação vamos criar uma fratura exposta desnecessária."

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O imóvel seria comprado por Bumlai e Teixeira, com dinheiro do setor de propinas da Odebrecht, e registrado em nome de um laranja. A compra chegou a se efetivar, mas depois do apêlo que ele teria feito a Bumlai, Teixeira, ao ex-presidentee a ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em fevereiro).

Segundo Palocci, a denúncia da Lava Jato contra Lula e ele procede. "Os fatos são verdadeiros. Eu diria apenas que os fatos desta denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior do relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos, em forma de doação de campanha, de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2."

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Transformado em traidor maior do PT, desde que virou colaborador da Lava Jato, o petista afirma que decidiu falar para buscar na Justiça benefícios previstos em lei - paralelamente às tratativas com os procuradores da Lava Jato por uma delação. Em agosto, o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, que tenta também uma delação com o MPF, trilhou o mesmo caminho. Confessou seus crimes e incriminou Lula. Moro reconheceu a colaboração e limitou sua pena de prisão em regime fechado a 5 anos - Duque era condenado já a 50 anos.

Questionado sobre um acordo de delação pela defesa, Palocci confirmou estar em tratativas com a Lava Jato. Ao ser perguntado sobre uma reunião, pela procuradora Isabel Groba, Palocci disse não se lembrar, mas que poderia dar detalhes se fosse dado mais dados sobre o caso. "Não quero esconder nada."

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Treinado. Em um dos trechos do depoimento, quando era questionado pelo advogado de Lula, o criminalista Cristiano Zanin Martins, sobre os motivos de a Odebrecht custear o terreno para o Instituto, Palocci pediu desculpas a Moro por tratar a empresa como uma "colaboradora" nas explicações.

"Porque o doutor Bumlai e o doutor Roberto Teixeira sabiam que a Odebrecht era uma colaboradora... Colaboradora talvez seja uma palavra... O senhor desculpa (dirigindo-se ao juiz), às vezes eu sou... 30 anos treinado para falar dessa forma... (Sabiam) que a Odebrecht dava propinas frequentes ao presidente Lula e ao PT. Como se tratava de uma pagamento de propina, imaginaram que a Odebrecht poderia pagar esse terreno." (Ouça aos 10min50s do vídeo 4)

O ex-ministro, que era o "Italiano" das planilhas da propinda da Odebrecht para o PT - conta que controlava milhões em propinas -, disse que pelos pagamentos que a empresa fez, ela recebeu benefícios em contratos com o governo, especificamente citando a Petrobrás.

Colaborador pela primeira vez na Lava Jato, ele relatou um jantar no apartamento do ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo, no final de 2010 - plena campanha eleitoral de Dilma Roussef - em que diz ter convencido o petista e seus aliados a desistirem do repasse do terreno pela Odebrecht - que ele chamou de "operação tabajara".

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"No conjunto, era um ilícito grave aquilo. No conjunto, considerando a pessoa do presidente Lula, o governo, a Odebrecht. Para o Instituto Lula aquilo era uma fratura exposta, um convite a uma investigação." (Assista aos 10min45s do vídeo 2) Ele afirmou ter tratado "diversas" vezes com o ex-presidente sobre o negócio.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO DE LULA

O advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente Lula, declarou em nota. "Palocci muda depoimento em busca de delação. O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas.

Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula.

Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena.

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Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como "pacto de sangue", esta última anotada em papéis por ele usados na audiência.

Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP." Cristiano Zanin Martins

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