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Lúcio é o 'Bitelo' nas planilhas de propinas da Odebrecht

Deputado peemedebista, alvo de buscas da Polícia Federal nesta segunda-feira, 16, por suspeita de ligação com o 'bunker' de Salvador onde a Operação Tesouro Perdido achou R$ 51 milhões em dinheiro vivo em setembro, teria recebido R$ 1 milhão da empreiteira em 2013

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Por Luiz Vassallo
Atualização:

Lucio Vieira Lima. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), alvo de buscas e apreensões nesta segunda-feira, 16, por suposta ligação com o bunker dos R$ 51 milhões confiscados em um apartamento em Salvador, ganhou a alcunha de 'Bitelo' nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht. Executivos relataram pagamento de R$ 1 milhão ao peemedebista a título de alterações em Medidas Provisórias que beneficiariam a empreiteira, durante o governo Dilma Rousseff.

Documento

'BITELO'

 Foto: Estadão

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+ PF aponta segundo escalão do 'quadrilhão' do PMDB+ PF achou digitais de Geddel e até fatura de empregada em bunker de R$ 51 milhões

Além das investigações em torno do maior montante já apreendido no País, Lúcio é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que o investiga, ao lado de outros peemedebistas, pela edição das Medidas Provisórias 470/09, 472/10 e 613/13, supostamente em benefício da Odebrecht.

De acordo com o pedido inicial de investigações do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot ao Supremo, Lúcio fez parte de um grupo de parlamentares que receberam vantagens indevidas em troca do suposto apoio à construtora no Congresso.

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No sistema Drousys, que controlava repasses do departamento de propinas da Odebrecht, o peemedebista aparece com o apelido 'bitelo', que, segundo o dicionário, é sinônimo de 'pessoa ou animal de grandes dimensões'. Ao lado de seu nome, aparece o repasse de R$ 1 milhão.

Segundo o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, no anexo de sua delação premiada, Lúcio 'participou da aprovação da MP 613 na qualidade de presidente da Comissão Mista'.

"Em reunião realizada no dia 7 de agosto de 2013, no gabinete da liderança do PMDB, na qual eu estava presente juntamente com representantes de outras empresas, o deputado solicitou-me apoio financeiro. Referida reunião ocorreu durante o trâmite da MP 613. Solicitei a José Filho que transmitisse ao parlamentar a confirmação de que a Companhia realizaria o pagamento de valor compreendido entre R$ 1 milhão e 1,5 milhão (não me recordo com exatidão do valor). Os pagamentos foram realizados no início do mês de outubro de 2013 na cidade de Salvador."

O delator ainda pontua, em seu anexo de delação, que 'embora o pedido de contribuição financeira tenha sido feito pelo parlamentar acima com fundamento em necessidade de custear despesas eleitorais, ficou claro que o não atendimento ao pedido traria dificuldades na aprovação da MP 613'.

A Medida Provisória 613, aprovada em agosto de 2013 pelo Senado, desonerava a cadeia de produção do etanol e beneficiava a Odebrecht.

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As investigações sobre a MP 613 foram remetidas pelo relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, em setembro, à Corregedoria da Polícia Federal, para a conclusão de diligências.

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Nesta segunda-feira, 16, a Polícia Federal vasculhou o gabinete e endereços ligados a Lúcio em ação autorizada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, no âmbito da Operação Tesouro Perdido, a investigação que achou R$ 51 milhões em dinheiro vivo

A Procuradoria-Geral da República vê indícios de ligação do peemedebista com a fortuna que estava oculta em um apartamento no bairro da Graça, em Salvador.

Segundo as investigações, as notas de dinheiro e as embalagens que recheavam caixas e malas no imóvel tinham as digitais do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) - irmão de Lúcio -, do ex-chefe da Defesa Civil em Salvador, Gustavo Ferraz, apontado como operador do peemedebista, e também de um assessor do gabinete de Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Job Ribeiro Brandão.

No apartamento, que fica a 1,2 km da residência de Geddel na capital baiana, a PF ainda achou a fatura de uma empregada de Lúcio.

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Os investigadores ainda não descobriram a origem e o destino dos R$ 51 milhões encontrados no apartamento.

Segundo o proprietário do imóvel, empresário Silvio Antonio Cabral da Silveira, ele teria emprestado o bunker a pedido de Lúcio, que teria dito a ele que precisava de um lugar para guardar bens de seu falecido pai.

Geddel está preso preventivamente no Complexo Penitenciário da Papuda, por suspeita de lavagem de dinheiro e organização criminosa.

As investigações foram remetidas ao Supremo Tribunal Federal pelo juiz da 10.ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Oliveira, que disse ver 'sinais de provas que podem levar ao indiciamento' do deputado Lúcio Vieira Lima - detentor de foro privilegiado na Corte máxima.

COM A PALAVRA, LÚCIO VIEIRA LIMA

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A reportagem tentou, sem sucesso, contato com o gabinete do deputado. O espaço está aberto para sua manifestação.

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