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'Extremamente relevante', diz Gebran sobre visita de executivos da OAS a Lula em sua casa

Desembargador do Tribunal da Lava Jato está votando no julgamento do recurso do ex-presidente contra sentença de nove anos e seis meses de prisão imposta pelo juiz Sérgio Moro e indica voto pela condenação do petista também em 2.ª instância

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso e Luiz Vassallo
Atualização:

Edifício Solaris (no centro), na Praia de Astúrias, no Guarujá, onde fica o triplex. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O desembargador João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), classificou como 'robusta' a visita de executivos da empreiteira OAS ao ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo, onde mora o petista, em 2014. Em abril do ano passado, o executivo Paulo Gordilho, ligado à construtora, afirmou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro ter ido à casa do ex-presidente para mostrar dois projetos relacionados ao triplex 164-A, no Guarujá, no litoral paulista, e ao sítio Santa Bárbara, de Atibaia, no interior de São Paulo - ambas as propriedades atribuídas a Lula, segundo a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Em seu interrogatório, em maio do ano passado, Lula confirmou a Moro ter recebido a visita. O ex-presidente declarou, na ocasião, que 'não lembrava da visita'.

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Gebran Neto, relator da Lava Jato na Corte de apelação da operação, citou a visita durante seu voto no julgamento de Lula. A sessão teve início às 8h30 desta quarta-feira, 24. O desembargador e outros dois colegas estão analisando a sentença de nove anos e seis meses de prisão do petista, por corrupção e lavagem de dinheiro, imposta por Moro.

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"Me parece extremamente relevante o fato de ter havido uma visita no início de 2014, posteriormente serem realizados projetos, os projetos estão nos autos, todos eles assinados pelo Roberto Moreira, apresentação, segundo essa testemunha, segundo este corréu e também segundo Léo Pinheiro de que os projetos, houve essa visita em São Bernardo do Campo, na residência do ex-presidente e da ex-primeira-dama e que houve aprovação. Me parece muito singular que depois houve uma segunda visita para verificar a reforma. Vale dizer, esse fato ganha robustez, aos meus olhos tento em vista que ele dá corroboração ao muito do que já lido aqui", afirmou.

Triplex. Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Edifício Solaris. Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Em abril de 2017, Paulo Gordilho narrou a Moro, em interrogatório, que foi a São Bernardo do Campo acompanhado do ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro.

"Quando Léo queria os dois projetos prontos, ele queria passar para o ex-presidente e a ex-primeira-dama (Marisa) os projetos. Eram três folhas de papel com a foto de Atibaia, da cozinha de Atibaia e um caderninho do projeto de customização do Guarujá e ele queria passar. Só que ele viajou e não pôde levar isso. Aí ele pediu para o motorista me pegar num sábado de manhã e nós fomos até São Bernardo do Campo. Fui eu e ele", declarou.

"Fomos lá e explicamos os dois projetos. Eu peguei com Roberto (Moreira, também da OAS) para analisar, para ver o que era, para poder chegar lá e explicar."

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Segundo o executivo, nesta ocasião, foram mostrados a Lula e dona Marisa (morta em fevereiro passado vítima de um AVC) o projeto para as duas propriedades.

"O sítio de Atibaia, na realidade, não era nem um projeto, que o projeto a Kitchens fez. Mas ela fez umas plantas decoradas que até um leigo completo saberia ver, que é ver uma foto de uma cozinha pronta apesar de não estar pronta, estar desenhada, colorida, né, com prato, talher, tudo em cima, mas uma foto de arquitetura, não era um projeto em si", disse.

"Neste dia lá em São Bernardo do Campo foi mostrado os dois."

"Para o ex-presidente?", quis saber Moro.

"É", respondeu Gordilho.

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"Houve concordância com o projeto?", questionou o magistrado.

"Eu diria que houve, porque tanto que foi feito. Mas, vamos dizer assim, eles não entenderam bem. Tirando a cozinha de Atibaia que era uma foto, não pode também exigir que dona Marisa e o ex-presidente conheçam projeto de planta baixa, corte de um projeto de arquitetura, entendeu?", disse o executivo.

Em seu interrogatório, Lula foi questionado pelo procurador Roberson Pozzobon, um dos três membros da força-tarefa da Lava Jato que participaram do interrogatório do petista, sobre a visita de Léo Pinheiro ao apartamento do ex-presidente.

"Visitou, eu nem me lembrava da visita. É que eu vi no depoimento dele, ele dizendo que foi lá em casa e depois eu vi o dr. Paulo, que eu não sabia que era Paulo Gordilho, só sabia que era Paulo, que diz que foi lá em casa. Como os dois disseram, eu não me lembro, mas eles disseram que foram, eu também não quero desmentir. Se foram, foram. E não discutiram, e não discutiram apartamento (triplex do Guarujá). A minha afirmação é categórica. Eu discuti o apartamento duas vezes", declarou Lula.

O procurador Julio Noronha quis saber o que o ex-presidente e os empreiteiros discutiram na ocasião.

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"Eu acho que eles tinham ido discutir a questão da cozinha, que também não é assunto para discutir agora, lá de Atibaia. Eu acho", afirmou o petista.

Pozzobon pegou a palavra e relatou a Lula que os empreiteiros informaram que, na ocasião, teria havido uma discussão também sobre o triplex do Guarujá.

"Você também ouviu o dr. Paulo Gordilho dizer que ele notou que a gente nem estava entendendo que ele estava falando do projeto. Ele disse isso no depoimento", replicou Lula.

Pozzobon insistiu no conteúdo da discussão no encontro no apartamento de Lula em São Bernardo.

"Eu não tenho a menor noção. Só discuti apenas a questão da cozinha. Eu vou dizer para você, nunca mais depois que eu visitei o prédio, nunca mais eu discuti triplex", enfatizou o petista.

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