O contador João Muniz Leite afirmou, em declaração por escrito levada ao juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, pela defesa do ex-presidente Lula, que recebeu recibos de pagamento, entre 2011 e 2015, do aluguel do apartamento 121, do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP). O imóvel é do engenheiro Glaucos da Costamarques, vizinho ao apartamento em que mora o petista e um dos pivôs de uma ação penal sobre supostas propinas da Odebrecht para Lula.
Além da declaração, a defesa do ex-presidente informou a Moro ter 'vias originais de todos os documentos já apresentados, além de outros 6 recibos de 2011 que também foram localizados, que serão apresentados para possam, se o caso, serem submetidos à perícia'.
O juiz da Lava Jato havia solicitado que os advogados de Lula informassem se dispunham dos originais.
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No documento, Muniz Leite afirma que prestou 'serviços contábeis para o sr. Glaucos da Costamarques no período de 2010 a 2015'.
"Durante esse período, assessorei o sr. Glaucos na elaboração do seu imposto de renda e na emissão de guias para recolhimento de impostos, incluindo-se nestes, o cálculo e elaboração das guias do carnê-leão referentes ao recebimento de aluguéis auferidos pelo mesmo em relação a locação de um apartamento para Dona Marisa Leticia Lula da Silva", informa o contador. "Para essa finalidade, recebia das mãos do sr. Glaucos, periodicamente, os recibos relativos aos pagamentos dos aluguéis por parte da sra. Marisa Letícia Lula da Silva, de 2011 a 2015, os quais serviam também para dar lastro à declaração de imposto de renda."
Muniz Leite diz que esteve no Hospital Sírio-Libanês em 2015 'para tratar com o sr. Glaucos de alguns assuntos, inclusive dos recibos de aluguéis'.
"Mas não corresponde à verdade que naquela oportunidade eu teria colhido do sr. Glaucos as assinaturas em todos os recibos relativos à locação para a sra. Marisa Letícia Lula da Silva, e sim em apenas alguns meses, que embora tivéssemos os recibos, os mesmos não estavam assinados. De 2011 a 2015 também elaborei as guias relativas ao "carnê-leão" que eram recolhidos mensalmente pelo sr. Glaucos em relação aos recebimentos de locação por parte da sra. Marisa Letícia Lula da Silva", relata.
Para a Lava Jato, a Odebrecht custeou a compra do apartamento 121, em nome de Glaucos, primo distante do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. Na mesma ação, Lula responde por também ter supostamente recebido da empreiteira um terreno onde seria sediado o Instituto Lula, no valor de R$ 12,5 milhões.
A Lava Jato afirma que não houve pagamento de aluguel entre fevereiro de 2011 e pelo menos novembro de 2015, do imóvel vizinho ao do petista, em São Bernardo.
No dia 25 de setembro, a defesa do ex-presidente apresentou documentos que contestam a versão dos procuradores. Os advogados do ex-presidente anexaram um contrato da ex-primeira dama Marisa Letícia com Glaucos da Costamarques e recibos de pagamento. Dois dos comprovantes apresentam datas que não existem no calendário. Parte dos documentos ainda apresenta os mesmos erros de ortografia.
O Ministério Público Federal, no Paraná, entrou com um incidente de falsidade, em 4 de outubro, para apurar a autenticidade dos documentos apresentados pela defesa do ex-presidente e cobra os recibos originais. Os procuradores afirmaram que os comprovantes são 'ideologicamente falsos' e pediram perícia.