PUBLICIDADE

Troca de ministro da Saúde deve ocorrer hoje ou amanhã, diz Mandetta

Ele repetiu que mudança será feita 'com todo cuidado': 'Para amparar quem quer que seja que venha para cá. Não fazer movimento brusco... eu sou peça menor dessa engrenagem'

PUBLICIDADE

Por Mateus Vargas e Mariana Hallal
Atualização:

BRASÍLIA - Com a saída do cargo já anunciada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), disse que a troca no comando da pasta deve ser feita nesta quinta-feira, 16, ou, “no mais tardar”, amanhã. “Mas, enfim, isso deve se concretizar”, afirmou em videoconferência sobre enfrentamento à covid-19 promovida pela Iniciativa FIS, com especialistas e profissionais da indústria da saúde. O governo ainda busca um nome para substituí-lo.

Segundo Mandetta, sua intenção é fazer uma transição com “todo o cuidado”. “Para amparar quem quer que seja que venha para cá. Não fazer movimento brusco... eu sou peça menor dessa engrenagem”, disse. “O serviço continua.”

Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde. Foto: Adriano Machado/Reuters

PUBLICIDADE

O presidente Jair Bolsonaro começou a receber nesta quinta-feira nomes que podem ocupar a vaga de Mandetta. O primeiro da lista é o oncologista Nelson Teich, que atuou na campanha eleitoral do presidente, convidado por Paulo Guedes (ministro da Economia), e tem apoio da classe médica.

Integrantes da área de saúde afirmam que a ideia não é ceder completamente a argumentos sobre o uso ampliado da cloroquina no tratamento da doença nem à abertura total do comércio – duas questões que opõem Bolsonaro e Mandetta.

Enquanto Bolsonaro defende flexibilizar medidas como fechamento de escolas e do comércio para mitigar os efeitos na economia do País, permitindo que jovens voltem ao trabalho, Mandetta manteve a orientação da pasta para as pessoas ficarem em casa. A recomendação do titular da Saúde segue o que dizem especialistas e a Organização Mundial de Saúde (OMS), que consideram o isolamento social a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.

Os dois também divergiram sobre o uso da cloroquina em pacientes da covid-19. Bolsonaro é um entusiasta do medicamento indicado para tratar a malária, mas que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus. Mandetta, por sua vez, sempre pediu cautela na prescrição do remédio, uma vez que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o vírus.

Ontem, em entrevista no Palácio do Planalto, o ministro já havia admitido haver “descompasso” entre as diretrizes da pasta e a posição de Bolsonaro. “São visões diferentes do mesmo problema. Se tivesse uma visão única seria um problema muito fácil de solucionar, mas não é", afirmou na ocasião.

Publicidade

'Divisão histórica'

Para Mandetta, a covid-19 vai marcar uma divisão histórica no século 21. "O século 21 começou. Antes do covid e após covid. Vai ser uma divisão histórica. Isso vai estar em qualquer livro", disse. "A gente mal e mal sabe quem vai ser o ministro da Saúde hoje, quanto mais como vai so mundo pós-covid."

“Esse vírus não negocia com ninguém. Aqueles que não querem entender que ele é extremamente agressivo ao sistema de saúde, acabam ficando preso a análises deles, do organismo individual das pessoas. Sendo que ele é muito mais letal ao sistema de saúde do que ao indivíduo”, disse Mandetta.

Mandetta foi questionado sobre os planos após deixar o cargo de ministro e respondeu que precisa "primeiro garantir que quem venha para cá tenha o mínimo de condições (de trabalhar)". 

"Eu fico muito preocupado, então o que eu puder fazer para ajudar eu vou ajudar (...) e depois vou fazer o distanciamento necessário para a pessoa poder desenvolver também o seu raciocínio. Essa doença muda todo dia", afirmou. "Eu estava trabalhando de 18 a 20 horas diárias há 60 dias sem descanso, sem fim de semana."

"Me preocupa demais o impacto econômico, vamos ter muito desemprego, necessidade de ação social. Acho que desligar um país, como feito, e ligar, é muito complexo. Acho que nós vamos ter um período muito duro para a saúde agora", afirmou Mandetta.

Novo ministro

Publicidade

Sem citar o nome do oncologista Nelson Teich, cotado para comandar a Saúde e recebido hoje por Bolsonaro, Mandetta afirmou que o candidato é bom pesquisador, mas não conhece o SUS. 

Mandetta disse que a sua equipe poderia ajudar na transição e até mesmo compor a próxima gestão da pasta. "Ajuda aí, Denizar, fica um tempo aí, se a pessoa te pedir. Cada um ajude com o que puder ajudar", disse Mandetta, dirigindo-se ao atual secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Denizar Vianna, que é próximo de Teich.

Cloroquina

Mandetta criticou uso político de estudos sobre aplicação de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes da covid-19. "Logicamente não tem aplicabilidade imediata. Mas se prestou a um discurso político", disse. 

Sem citar nomes, Mandetta ironizou reunião no começo de abril de Bolsonaro e ministros com os médicos Nise Yamaguchi e Luciano Dias Azevedo, defensores da droga.

"Não era para eu ir, me chamaram. Estavam explicando a cloroquina. Olhei os pares que estavam na mesa, ministros, nenhum tinha conhecimento de farmacologia, de fisiopatologia, eu tava vendo eles convencerem leigos sobre aquela situação, quando o palco daquela discussão seria o CFM ou sociedades médicas... paraver se sai um consenso, você discutiria com pares", disse Mandetta.

"Então, acho que fake news é uma coisa. Uso político da informação é outra coisa. E você tem de ter muita resistência", completou o ministro.

Publicidade

Herança da covid

O ministro afirmou que a saída do período de isolamento depende de fatores como situação do sistema de saúde, disponibilidade de vacina ou alto índice de imunidade da população. Antes disso, ele afirmou ter preocupação com locais que ignoram a gravidade da doença. 

"Se a massa operária andar o dia inteiro para lá e para cá, vai pegar a doença dos ricos, levar para as comunidades. Lá no Rio começou pela Rocinha e Vidigal, porque são as comunidades que trabalham nas casas dos ricos. Agora é hora do governo colocar dinheiro na mão das pessoas. Para que possam ter o básico e cumprir o período de proteção para saúde dela, e da coletividade."

"Isso que a gente está vivendo aqui não é lockdown. Mas se a curva de casos pegar ar, vai acabar havendo imposição desse lockdown", disse Mandetta.

Bolsonaro 'bem intencionado'

Durante a live, Josier Avilar, presidente da Iniciativa FIS, avisou ao ministro que a hashtag #FicaMandetta estava sendo muito usada nas redes sociais. "Eu não mexo muito com mídia social. Existem dois mundos: o mundo virtual e o mundo real. Eu acho que muita gente fica doente porque quer viver os dois mundos e acaba tendo um personagem para o mundo virtual e outro para o mundo real", afirmou Mandetta. 

"Como essa crise é muito dura, muito difícil, eu optei pelo mundo real, então eu continuo aqui com o Denizar (Vianna), Wanderson (Oliveira), (João) Gabbardo, notícias científicas, e deixei o mundo social um pouco de lado."

Publicidade

Para o ministro, a questão não é ficar ou não na pasta. "Essa é uma decisão do presidente. É ele quem nomeia, foi ele quem nomeou lá atrás", disse. 

"Nós temos um conjunto de médicos, de colegas. Isso daqui não tem só um caminho. Pode ser que a pessoa veja a coisa de um ângulo diferente, tenha uma sacada. Seria fantástico se ele conseguisse fazer com que as pessoas pudessem sair para trabalhar e não se contaminassem. Tudo o que a gente está fazendo é baseado nas informações que a gente tem."

Mandetta afirmou ainda que Bolsonaro é "bem intencionado". "Parece que eu estou ministro por obra do Espírito Santo. Parece que alguém me colocou aqui e que eu sou contra o presidente, virou um fla-flu. Foi ele quem me nomeou. Se existe essa equipe técnica aqui foi porque ele permitiu, méritos ao presidente", disse.

"Só que agora ele está vendo muito o aspecto econômico. Acho que ele tem uma responsabilidade muito grande. Ele é um brasileiro muito bem intencionado e está procurando uma maneira de compatibilizar essas duas coisas, como liberar a economia e passar pela possível epidemia."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.